Animais de estimação: Pandemia fez disparar adoção. Portugueses recusam comprar menos mesmo com inflação, mas 50% procura mais barato

Na última década verifica-se uma tendência crescente de cada vez mais portugueses a adotarem animais de estimação. Mais: na pandemia da Covid-19 o fenómeno acelerou e, ainda que tenha decrescido no ano passado o número de pessoas que passaram a contar com nova companhia animal, o abrandamento é muito ligeiro. Por outro lado, mesmo com a situação económica difícil que vive o nosso País, e perante a inflação e o aumento do custo de vida, a maioria dos portugueses não corta no volume de produtos e bens para os ‘pets’, ainda que 46% dos donos de animais de estimação assuma que procure alternativas mais baratas.

É o que revela um recente estudo de mercado ‘Relação Tutor-Veterinário’, que elaborou uma caracterização dos tutores/donos de animais de estimação e analisou os gastos feitos com os ‘pets’, bem como a forma como veem a importância da saúde dos ‘patudos’. O estudo surgiu através da parceria entre a VetBizz Consulting, firma de serviços de consultoria e formação em exclusivo a Centros de Atendimento Médico-Veterinários (CAMV), e a 2Logical, empresa de consultoria e dados na área da saúde. Os principais dinamizadores do estudo foram Dilen Ratanji, CEO da VetBizz e Mariana Jerónimo, Business Development & Consulting Manager da 2Logical, que falou em exclusivo com a Executive Digest.

O estudo foi recentemente apresentado no primeiro VetBizz Summit, que contou com a participação de alguns dos principais empresários do setor de Medicina Veterinária de Portugal (e não só).

Mais cães do que gatos…Mas há diferenças entre cidades e suburbios
Olhando aos resultados do estudo, que inquiriu cerca de 500 pessoas com animais de estimação em Portugal, de todas as regiões do País, verifica-se uma predominância dos cães face aos gatos (51% contra 49%). No entanto, a realidade difere regionalmente: nas regiões urbanas os gatos estão em maioria (51%), enquanto nas regiões suburbanas verifica-se o inverso (44% de cães e 56% de gatos).

“A principal diferença entre região urbana e suburbana tem a ver também também com a própria densidade populacional”, indica a autora do estudo.

Mariana Jerónimo alerta para a leitura destes números perante as perspetivas que muito veterinários têm, se que existem mais gatos, e até é o que se verifica na plataforma de registo de animais. É que o registo de cães é “obrigatório, para o chip, há muitos anos, e até nos cães de rua, se forem ao médico veterinário, é habitual este registo, enquanto nos gatos a obrigatoriedade (que se aplica também a furões) é muito recente, pelo que ainda há poucos registos”.

No total de inquiridos, 69% tinham cães, 54% tinham gatos e 28% tinham cão e gato. Já quanto a outras espécies, 11% afirmaram ter pássaros, 6% peixes, 3% répteis e 2% roedores. Quanto a quem tinha cães, 72% tinha um animal e 20% dois. Já no que respeita a gatos 57% tinha um e 27% dois, com 16% a afirmar ter três destes animais.

A tendência de ter cão e gato, é verificada mais das regiões suburbanas do que nas urbanas, e Mariana Jerónimo explica: “Na região suburbana talvez tenhamos os gatos em casa e o cão na rua, por exemplo, e é mais fácil do que num apartamento conseguir que um cão e gato socializem”.

A média de animais por tutor, no que respeita a cães é de 1,5, enquanto de gatos é de 1,8.

Já para quem tem mais do que um animal e média é superior, de 3,3: com 43% a afirmar ter dois animais, 27% três e 30% com quatro ou mais ‘pets’.

Mas as diferenças entre as regiões suburbanas e urbanas vão mais além, e também respeita à perceção e ligação emocional que se tem com os animais. 81% dos inquiridos afirmavam uma ligação emocional aos animais e 19% uma ligação funcional. Nas regiões urbanas são mais do que dizem ter uma ligação emocional aos animais do que nas regiões suburbanas (75% contra 84%), e nos mais velhos as diferenças são ainda maiores: nos inquiridos com 65 anos ou mais ‘apenas’ 56% afirmava ter ligação afetiva com o ‘pet’.

O impacto da pandemia de Covid-19

O estudo verificou que a tendência de aquisição de animais de estimação está em crescimento nos últimos 10 anos: 65% dos inquiridos disse ter ‘pets’ há entre 1 e 10 anos, com 20% a afirmar tê-los entre 11 e 20 anos, 9% há entre 21 e 30 anos e 6% há mais de 30 anos.

O estudo quis ir mais além e ver o impacto da pandemia na aquisição de animais de estimação, e verificou uma clara tendência: se vinha a ganhar embalo, durante a Covid-19 acelerou o número de pessoas que arranjou companhia de quatro patas. Entre os inquiridos que têm animal entre 1 a 10 anos, mais de um quarto (29%) arranjou o ‘pet’ durante a pandemia (entre dois e três anos). No último ano foram 14% dos inquiridos a fazê-lo.

“Em idades superiores a 45 anos, 48% destas pessoas, que adotaram há até 10 anos, adotaram na altura da Covid”, adianta a autora do estudo, referindo uma componente “de combate ao isolamento, maior segurança, companhia, especialmente em pessoas mais velhas”.

“Percebemos que 65% das pessoas, no geral, dizem que adotaram há menos de 10 anos. Há uma clara tendência na ultima década para maior adoção de animais. Na faixa etária dos 25-34 anos, aumenta para os 78%, o que dá a sensação que a pessoa, assim que sai de casa dos pais, ou consegue ter habitação própria, adota um animal”, continua Mariana Jerónimo.

Donos de animais procuram alternativas mais baratas, mas não cortam no volume de compras que fazem para os animais
Praticamente todos os tutores de animais inquiridos disseram comprar alimentação seca/húmida (97%), sete em cada 10 compram brinquedos ou acessórios e 63% afirmam comprar ‘snacks’. As lojas de especialidade continuam a ser o canal de destaque para compra destes produtos, mas as plataformas online têm vindo a ganhar terreno: por exemplo, representou 42% das compras feitas de brinquedos e ou acessórios para animais.

Também as idas ao médico veterinário, segundo os tutores, não são esquecidas: mais de um terço dos donos de cães ou gatos dizem ir com o animal de estimação duas vezes por ano. Os serviços mais valorizados pelos inquiridos são a vacinação, os serviços de urgências 24/h e as consultas presenciais.

Ainda assim, Mariana jerónimo alerta para o ‘efeito dentista’ que se pode verificar nas respostas dos inquiridos, quanto às idas ao médico veterinário: há quem esteja “congelado, ou seja, não vai há dois ou três anos ao veterinário, mas não tem essa noção, tem sim a ideia de que foi este ano”.

Estão em maioria (60%), de acordo com o estudo, os tutores que adquirem serviços complementares, como de bem-estar, seguros ou planos de saúde para os animais, hotéis, sessões de treino ou pet sitting/pet walking.

Perante a inflação e o aumento do custo de vida, metade dos donos de animais de estimação afirmam que mantém o que comprava antes, mas procurando alternativas mais baratas, enquanto dois em cada 10 (18%) afirma que, mesmo com o aumento de preços verificado no último ano, não olha a gastos no que respeita aos animais. 16% diz que tem adquirido menos serviços e 12% que reduziu a quantidade ou diversidade de produtos comprados.

“28% de pessoas responderam que tem adquirido menos serviços e produtos, e há uma percentagem de pessoas de classe social mais baixa que admitem fazer cortes no que compram. O restante não, pode até procurar alternativas mais baratas (46%) mas não compram menos. O facto de nos vermos esta humanização que os tutores fazem dos pets, fazem que os coloquem ao mesmo nível, com direito às mesmas coisas”, defende Mariana Jerónimo.

O mesmo não se verifica no que respeita à consulta do medico veterinário. “Os tutores não veem a consulta de um médico de saúde humana igual à da saúde veterinária e faz com que a perceção de preços diminua. Num médico especialista pago 100 euros, mas jamais pagaria o mesmo por um médico veterinário. Não tem a ver com a perceção do cão ou gato, mas sim do médico veterinário”, explica a autora.

No estudo, a sugestão de melhoramento indicada pelos inquiridos neste aspeto era a redução de preços, algo que segundo o estudo, não será uma realidade.

“O que se verifica é que as clínicas têm de aumentar os preços, já que não tem aumentado ao mesmo nível do que a inflação. E assim, mais cedo ou mais tarde o negócio deixa de ser sustentável”, alerta a investigadora, que no entanto, tendo em conta os resultados apurados, e a ‘humanização’ que os tutores fazem dos animais de estimação, considera que o setor veterinário “tem um imenso potencial de crescimento”.


Ficha Técnica

Tamanho da população* – 8,620,500 (número estimado de residentes em Portugal, com mais de 18 anos)

Tamanho da amostra – 476

Nível de confiança – 95%

Margem de erro – 4%

*Target eram pessoas com pets, responsáveis pela ida ao veterinário. Como não se sabe o tamanho desta população, foi considerado o total da população.

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