Angola já ardeu três vezes mais que a Amazónia (e em apenas 48 horas)
Os fogos na Amazónia têm dominado a agenda mediática dos últimos dias. Mas é Angola que lidera a lista de países com o maior número de incêndios florestais. De acordo com a agência de informação financeira Bloomberg, que cita dados do satélite MODIS (Moderate Resolution Imaging Spectroradiometer) lançado pela NASA em 1999, Angola registou 6.902 fogos em apenas 48 horas, mais do dobro dos 3.395 na República Democrática do Congo e mais do triplo dos 2.127 fogos registados no Brasil, principalmente na Amazónia.
“Os fogos que grassam na Amazónia podem ter colocado pressão sobre as políticas ambientais do Presidente Jair Bolsonaro, mas o Brasil é, na verdade, o terceiro país no mundo em termos de incêndios nas últimas 48 horas”, escreve a Bloomberg.
Salientando que este número não é um fenómeno invulgar na África central, a agência de notícias escreve que só numa semana de junho foram registados 67 mil incêndios quando os agricultores fizeram queimadas para ganhar terra para as colheitas.
A Zâmbia é o quarto país com mais fogos nos últimos dois dias, enquanto a Bolívia, vizinho do Brasil na Amazónia, é o sexto.
Os fogos na Amazónia têm dominado a agenda mediática dos últimos dias, na medida em que é a maior floresta tropical do mundo e possui a maior biodiversidade registada numa área do planeta. Tem cerca de 5,5 milhões de quilómetros quadrados e inclui territórios do Brasil, Peru, Colômbia, Venezuela, Equador, Bolívia, Guiana, Suriname e Guiana Francesa (pertencente à França).
O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) brasileiro anunciou que a desflorestação da Amazónia aumentou 278% em julho, em relação ao mesmo mês de 2018.
Ministro angolano diz que comparar fogos em África aos da Amazónia é “nonsense”
O ministro angolano da Comunicação Social, João Melo, reagiu à notícia da Bloomberg afirmando que comparar as queimadas que se fazem em vários países africanos do centro-sul, como Angola, com os fogos da Amazónia “é um completo nonsense”. “Como comparar queimadas, tradicionais nesta região, com o incêndio da maior floresta do mundo?”, escreveu João Melo.
“Confundir fotos de capim a arder na nossa região com incêndios massivos em florestas é brincadeira. E misturar isso com politiquice barata é pior ainda. Lamentável”, acrescentou o governante.
João Melo reconheceu, contudo, que o problema existe e precisa de ser resolvido, respondendo a um seguidor que “o Governo está a tomar medidas para enfrentar esses problemas. Mas resolvê-los leva tempo”.
71% dos fogos florestais globais ocorrem em África
O continente africano é vítima de 71% dos fogos globais, revela a NASA. A maioria dos fogos acontece nas épocas secas – entre novembro e março, na África subsariana e junho a setembro, no Sul de África – com o objetivo de preparar o solo para a época das colheitas.
Os incêndios agrícolas, uma técnica antiga, continuam a ser usados pelos agricultores do continente por serem de baixo custo e tecnologia, com a maioria dos campos agrícolas a terem menos de 100 hectares, explica a NASA. No entanto, é difícil ter-se uma noção de quantos incêndios são ateados e a área ardida, dependendo muito da capacidade dos satélites e análise de imagens. Em 2016, por exemplo, arderam quatro milhões de km/2, segundo os autores de um estudo publicado na revista Remote Sensing of Environment, citado pelo Público.
“As cinzas produzidas dão ao solo recém-desmatado uma camada rica em nutrientes para ajudar a fertilizar as plantações”, adianta a agência espacial norte-americana, sublinhando que muitas vezes os “fogos ateados para renovar campos agrícolas ficam fora de controlo por causa de ventos e tempestades”.
Também na América do Sul os incêndios têm motivações similares, ainda que a estrutura económica seja diferente. Há quem ateie fogos para abrir áreas para a pecuária e plantações – é o caso do que tem acontecido no Brasil, principalmente na Amazónia, nas últimas duas semanas –, numa perspectiva bastante mais industrial que em África.
As queimadas são ilegais entre 15 de Julho e 19 de Agosto, mas, ignorando a lei, são feitas na mesma e há cinco anos que o Brasil já não ardia tão intensamente.
G7 desbloqueia 22 milhões de euros para a Amazónia
Os países do G7 decidiram desbloquear uma ajuda de emergência de 20 milhões de dólares (cerca de 22 milhões de euros) para o envio de aviões Canadair para combater os incêndios na Amazónia, disse esta segunda-feira a presidência francesa.
Além do envio da frota de aviões, o grupo dos sete países mais ricos (G7), concordou em disponibilizar um fundo de longo prazo para o reflorestamento da Amazónia, cujo projeto será apresentado à Assembleia Geral da ONU no final de setembro.
O gabinete do Presidente francês, Emmanuel Macron, explicou que este plano de reflorestamento precisa ainda do acordo do Governo brasileiro e deverá ser articulado com as organizações não-governamentais no terreno, bem como com a população local.
A presidência francesa considera que a Amazónia é o “pulmão do planeta”, mas defende que também em África o problema da florestação é de resolução urgente, esclarecendo que está empenhada em mobilizar a comunidade internacional para estudar planos similares para o combate aos incêndios nas suas florestas tropicais.