Ameaça com nova censura: oposição receia que Bayrou seja continuidade

Os líderes da oposição francesa aceitaram hoje a nomeação de François Bayrou como primeiro-ministro de França, o quarto nome a ocupar o cargo em 2024, mas ameaçam censurar o novo executivo caso não exista uma mudança política.

A líder da União Nacional (extrema-direita) na Assembleia Nacional, Marine Le Pen, apelou ao novo primeiro-ministro, cujo nome foi hoje anunciado pelo Presidente francês Emmanuel Macron, para que “faça o que o seu antecessor não quis fazer: ouvir e escutar a oposição para construir um orçamento razoável e ponderado”.

“Qualquer política que consista apenas em prolongar o macronismo, rejeitado duas vezes nas urnas, só pode levar a um beco sem saída e ao fracasso”, afirmou Le Pen na rede social X.

François Bayrou, de 73 anos, “será encarregado de dialogar com todos os partidos políticos”, excluindo a União Nacional (RN) e França Insubmissa (LFI), “a fim de encontrar as condições de estabilidade e de ação”, disse entretanto a comitiva de Macron à agência noticiosa France-Presse (AFP).

“Não haverá censura ‘a priori'”, disse, por sua vez, Jordan Bardella, presidente da União Nacional, cujos votos, juntamente com os dos deputados de esquerda, ajudaram a destituir o anterior governo do conservador Michel Barnier.

Em declarações aos ‘media’, Bardella garantiu que serão mantidas “as mesmas linhas vermelhas” que tinham com o anterior executivo.

Já o partido de esquerda radical França Insubmissa (LFI) anunciou que vai apresentar uma moção de censura contra o Governo de Bayrou, porque este não vem dos partidos da esquerda como esta ala política pede desde a vitória nas eleições legislativas de julho.

“Os deputados vão ter duas opções: apoiar o resgate de Macron ou a censura. Nós fizemos a nossa”, afirmou a presidente do LFI na Assembleia Nacional, Mathilde Panot, na rede social X, acrescentando que é “mais uma candidatura para o adiamento de Emmanuel Macron”.

Os socialistas, os ecologistas e os comunistas, as outras forças da aliança de esquerda Nova Frente Popular, que se têm mostrado abertos a um acordo político, não ficaram satisfeitos com a nomeação de François Bayrou.

“A nomeação de um primeiro-ministro do seu próprio campo envia um sinal errado”, afirmou o secretário nacional do Partido Comunista Francês (PCF), Fabien Roussel, que, no entanto, afirmou que “julgará com base nas provas”.

Fabien Roussel disse que não censuraria o Governo de Bayrou ‘a priori’, pedindo que este se comprometa a construir maiorias e compromissos e a “uma mudança de política”.

Para a líder dos Ecologistas, Marine Tondelier, “quanto mais Emmanuel Macron perde terreno em termos eleitorais, mais se agarra àqueles que lhe são muito próximos e que encarnam o macronismo mais fiel”, e acrescentou que tal “é incompreensível em termos eleitorais”.

“Se for para manter as mesmas pessoas, deixar Bruno Retailleau [ministro do Interior] lá dentro, não fazer nada em relação às pensões, à ecologia, à justiça fiscal (…) não vejo que outra opção teremos”, defendeu Tondelier, numa referência a uma potencial moção de censura.

Já os dirigentes socialistas, que ainda não se pronunciaram após o anúncio da nomeação, deverão esperar também para conhecer os objetivos de Bayrou, que terá agora de nomear um executivo e definir as suas principais linhas políticas, das quais dependerá a sua sobrevivência enquanto chefe de Governo.

Após uma semana de consultas de Macron com líderes partidários para encontrar um sucessor para Michel Barnier, cujo executivo foi derrubado por uma moção de censura de contornos históricos em 04 de dezembro, Bayrou terá a difícil tarefa de sobreviver à ameaça de censura de uma Assembleia Nacional fragmentada e sem um bloco maioritário.

François Bayrou tem “as qualidades para defender o interesse geral e construir a estabilidade essencial que os franceses esperam”, num momento difícil para a França, disse o ex-primeiro-ministro Gabriel Attal, garantindo que os membros do grupo político presidencial “partilham estes objetivos e estarão ao seu lado”.

O antigo ministro centrista dos Negócios Estrangeiros do governo de Barnier, Jean-Noël Barrot, afirmou acreditar que Bayrou, presidente do Movimento Democrático (MoDem, da aliança presidencial), será capaz de “responder à profunda necessidade de paz e unidade do país”, segundo uma mensagem publicada na rede social X.

François Bayrou terá uma enorme tarefa à frente do Governo, tendo o Orçamento do Estado para 2025 como prioridade, numa altura em que a França está fortemente endividada e o projeto de orçamento da Segurança Social levou à queda do seu antecessor.

Para segunda-feira, está previsto que a Assembleia Nacional vote uma “lei especial” para assegurar a continuidade de financiamento do Estado. A “lei especial” estenderá temporariamente as normas orçamentais de 2024, até que o novo Governo francês consiga que o orçamento para 2025 seja aprovado.