Amazónia mais quente e seca está a mudar o clima do planeta, alertam especialistas
A floresta amazónica, considerada, por enquanto, o “pulmão do mundo” pela quantidade de oxigénio que produz e de dióxido de carbono que captura, está um grau mais quente do que há 40 anos. Poderá parecer pouco ao leitor, mas um ligeiro aumento de temperatura é suficiente para desequilibrar muitos ecossistemas, que se regem por equilíbrios precisos e, assim, vulneráveis.
Na semana passada, investigadores de todo o Brasil estiveram reunidos em Brasília para a 74.ª reunião anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência e deixaram avisos sérios, alertando que temos nas mãos uma “bomba-relógio”, cuja probabilidade de rebentar aumenta à medida que cresce a desflorestação da Amazónia.
Um dos investigadores Paulo Artaxo, que é também membro do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (IPCC), afirmou que “o mundo inteiro já está a sentir o impacto, e não é uma questão do futuro, é do presente”, cita o site brasileiro ‘UOL’.
Estudos denunciam que a Amazónia atingiu, em 2021, o nível de desflorestação mais alto dos últimos 15 anos e muitos observadores acusam o Presidente Jair Bolsonaro de permitir, e até encorajar, o assalto à floresta por madeireiros e criadores de gado, legais e ilegais.
Devido aos sucessivos ataques de que tem sido alvo, a Amazónia estará agora a emitir mais dióxido de carbono do que aquele que captura, uma transformação preocupante que se deve também ao aumento da temperatura nessa região e à redução abrupta da chuva.
Assim, havendo menos água haverá também uma menor produção de vapor de água e isso, de acordo com Artaxo, terá um impacto claro nos ciclos hidrológicos em todo o planeta. “com isso nós agravamos o aquecimento global”, sentencia o cientista.
“Para reduzir essa degradação [da Amazónia] é preciso acabar com a desflorestação o mais rapidamente possível e fazer com que os países desenvolvidos deixem de queimar petróleo e gás natural”, salienta, acrescentando que o aumento significativo da temperatura “é o principal motor da degradação florestal na Amazónia”.
Luciana Vanni Gatti, que, segundo o órgão de comunicação social brasileiro, estuda essa floresta desde 1999, constatou que onde há mais desflorestação é onde de registam os maiores aumentos de temperatura.
Entre agosto e outubro do ano passado, na região nordeste da Amazónia, onde 37% da área já terá sida desflorestada, registou-se uma temperatura média de 2,5 graus.
E a cientista traça uma ligação direta entre a redução do número de árvores e a diminuição da chuva, pois quanto menos árvores, menos vapor de água expelido, menos formação de nuvens e, por fim, menos chuva, num ciclo que tem como resultado uma seca galopante.
“As árvores fazem parte do mecanismo de produção de chuva”, explica Gatti, acrescentando que “a região que perdeu mais árvores é a que tem maior redução da evapotranspiração, e o impacto é maior durante a estação seca”.
Num clima global mais quente e com menores taxas de precipitação, de que é já reflexo as secas que endurecem os solos em várias regiões do planeta, incluindo em Portugal, o papel das árvores na produção de chuva é mais essencial do que nunca. Mas, com cada vez menos árvores na floresta amazónica, a seca e a aridez só tenderão a agudizar-se, ditando a morte de uma das maiores florestas tropicais do mundo.