“Alguma coisa falhou no sistema de alerta”: O que explica o ataque russo a Poltava, um dos mais mortíferos desde início da guerra na Ucrânia?

Pelo menos 51 pessoas perderam a vida e mais de 200 ficaram feridas após um ataque russo devastador à cidade de Poltava, na região de Kharkiv, que teve como alvos um estabelecimento de instrução militar e um hospital. Este é considerado um dos ataques mais mortíferos desde o início da invasão russa à Ucrânia em 2022. A tragédia foi agravada por uma falha crítica no sistema de alerta aéreo ucraniano, que não funcionou como esperado, resultando numa resposta tardia.

O ataque ocorreu a cerca de 110 quilómetros da fronteira com a Rússia, tendo os militares russos lançado dois mísseis balísticos Iskander-M contra o Instituto Militar de Telecomunicações e Tecnologias de Informação de Poltava. Segundo as autoridades ucranianas, o tempo entre o acionamento do alarme e a chegada dos mísseis foi tão curto que as pessoas não tiveram tempo suficiente para alcançar os abrigos. Muitas das vítimas foram atingidas enquanto tentavam refugiar-se nos abrigos antiaéreos.

“O sistema de alerta não funcionou como devia,” afirmou à CNN Portugal o major-general Isidro de Morais Pereira, especialista em estratégia militar. “O míssil não foi detetado a tempo, as sirenes soaram muito tarde e, quando soaram, já não havia tempo para as pessoas se abrigarem,” explicou. “Se não se abrigarem, normalmente tornam-se alvos fáceis, ficando expostas tanto à onda de choque como aos estilhaços dos bombardeamentos,” acrescentou.

Agostinho Costa, outro especialista em estratégia militar, destacou ao mesmo canal que este ataque demonstra um sofisticado trabalho de inteligência por parte das forças russas, que conseguiram identificar e atacar uma infraestrutura militar com uma concentração significativa de forças ucranianas. “O ataque dirigido revela que houve um trabalho de informações por parte da Rússia, ao detetar a presença de um grande número de forças no instituto militar,” afirmou o major-general.

Segundo o major-general Costa, os mísseis foram lançados de uma posição próxima à cidade, o que limitou severamente o tempo de reação das defesas ucranianas. “Estes mísseis balísticos, que podem alcançar até 500 quilómetros, foram provavelmente lançados de uma área relativamente perto da linha da frente, não dando tempo suficiente para o sistema de defesa aérea acionar o alerta,” explicou. “É compreensível que a Ucrânia não tenha tido grande tempo para reagir,” concluiu.

Mesmo que os mísseis tenham sido disparados a partir do solo russo, a curta distância entre o local de lançamento e o alvo, associada à alta velocidade dos mísseis, torna praticamente impossível uma reação eficaz. “Poltava está a cerca de 110 quilómetros da fronteira, e os mísseis balísticos viajam a cerca de 4000 km/h, três a quatro vezes a velocidade do som,” destacou o major-general Pereira.

Além das vítimas já confirmadas, as autoridades locais indicaram que pelo menos 15 pessoas permanecem desaparecidas sob os escombros dos edifícios destruídos. Equipas de resgate continuam a trabalhar no local, mas as chances de encontrar sobreviventes diminuem a cada hora.

Este ataque, considerado um dos mais letais desde o bombardeamento da estação ferroviária de Kramatorsk em abril de 2022, que matou 61 pessoas, revela as fragilidades do sistema de defesa ucraniano e a necessidade urgente de melhorias nos sistemas de alerta e resposta. A tragédia sublinha a brutalidade do conflito e os desafios que a Ucrânia enfrenta na proteção da sua população civil e infraestruturas críticas.

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