Alerta OCDE: se houver nova crise, famílias portuguesas perdem metade dos rendimentos

O estudo da OCDE analisou recentemente 23 países. Famílias portuguesas seriam das mais afectadas em caso de nova crise financeira.

Numa futura crise económica ou financeira, as economias desenvolvidas têm aquilo a que se costuma chamar de “estabilizadores automáticos orçamentais”, mecanismos que servem para diluir o impacto de condições económicas mais adversas no rendimento disponível.

De acordo com o mais recente estudo da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Económico (OCDE), o conjunto das famílias portuguesas tenderia a ser dos mais afectados no grupo de 23 países analisados. A parte do rendimento disponível total que seria protegida pelos referidos estabilizadores automáticos rondaria apenas 50,8%, avança o DN.

O que significa que nesta eventualidade as famílias portuguesas perderiam, em média, quase metade do seu rendimento disponível pré-crise (49,2%), valor que fica bastante abaixo da média das 23 economias estudadas, em que a perda rondaria os 41% já que os estabilizadores automáticos amorteceriam o efeito recessivo em cerca de 59%.

Valores facultados ao DN/Dinheiro Vivo pela OCDE mostram que o estabilizador com maior efeito é, de longe, o dos “impostos directos”. “A menor cobrança deste tipo de impostos (por causa do desemprego mais elevado, de uma base tributável mais reduzida, com salários mais baixos, por exemplo) ajudaria a preservar 35% do rendimento médio auferido pelas famílias (antes da crise) numa fase do ciclo mais adversa, no futuro”, explicam.

O segundo estabilizador mais importante é a contribuição para a Segurança Social, que ajudaria a manter mais de 9% do rendimento médio familiar. “Em Portugal, a taxa de descontos suportada pelos trabalhadores por conta de outrem é 11%. Uma vez mais, esta ajuda é o dinheiro não cobrado pela Previdência uma vez que não há tanto rendimento tributável por causa do desemprego”, avançam.

Finalmente, existem os apoios sociais, que ajudam as famílias na eventualidade de uma recessão. Em Portugal, este estabilizador vale quase 7% do rendimento. Segundo a OCDE são apoios sociais vários, subsídio de desemprego e apoios à habitação (para as famílias mais pobres).
Estas três parcelas somam no total os referidos 50,8% de rendimento que fica protegido pelos estabilizadores automáticos.
Os autores confirmam que os três tipos de estabilizadores orçamentais automáticos admitidos neste estudo “são todos diretamente afetados quando o emprego ou os salários mudam”.

Os países com maior e menor protecção
Ainda assim, Portugal está na parte inferior deste ranking, abaixo da média da OCDE, entre os países em que as famílias estão mais vulneráveis a uma crise futura. O caso mais vulnerável é a Grécia, onde os estabilizadores apenas cobrem 37% dos danos sobre os rendimentos em caso de choque adverso. O segundo pior é o Japão (39%).

As famílias da Holanda são as mais protegidas pelos estabilizadores automáticos orçamentais, com um estabilizador de rendimento superior a 80% (portanto, as famílias só perderiam 20% do rendimento em caso de choque económico negativo). A Alemanha aparece em segundo lugar, com 79%.

A OCDE explica que “os estabilizadores automáticos parecem ser eficazes na estabilização do rendimento disponível das famílias nos 23 países da OCDE analisados”. Neste universo, esses estabilizadores orçamentais “absorvem, em média, pouco mais da metade do choque específico sobre os rendimentos familiares”, os referidos 59% (média dos 23 da OCDE). O grau de eficácia deste mecanismo varia “de cerca de 80% em países como Holanda, Alemanha e Suíça a menos de 40% na Grécia, Japão e Eslováquia”, confirma a OCDE ao DN/Dinheiro Vivo.

Ler Mais