Alemanha alerta que Putin quer “restabelecer as fronteiras da NATO como eram nos anos 90”

O chefe do Serviço Federal de Inteligência da Alemanha (Bundesnachrichtendienst – BND), Bruno Kahl, lançou um aviso preocupante sobre as ambições da Rússia, afirmando que o país liderado por Vladimir Putin poderá estar em posição de atacar a Europa até ao final desta década. As declarações de Kahl surgem num contexto de crescente tensão entre Moscovo e o Ocidente, com a NATO a ser vista como um potencial alvo de um ataque militar.

Em entrevista, Kahl explicou que a Rússia está a aumentar a pressão sobre o Ocidente, testando constantemente as suas “linhas vermelhas” e intensificando o confronto. De acordo com o chefe dos serviços secretos alemães, as forças armadas russas poderão estar suficientemente preparadas, tanto em termos de pessoal como de equipamento, para lançar um ataque contra a NATO antes de 2030. “Putin continuará a testar os limites do Ocidente e a intensificar a escalada do confronto. As forças armadas russas estarão provavelmente em condições de lançar um ataque contra a NATO, o mais tardar, no final desta década”, afirmou Kahl, citado pelo Politico.

Na visão de Kahl, Moscovo não apenas ambiciona “restabelecer as fronteiras da NATO tal como eram nos anos 90”, como pretende criar “uma nova esfera de influência” russa e estabelecer “uma nova ordem mundial”, onde os Estados Unidos seriam forçados a sair da Europa. Esta visão tem sido considerada por alguns como um dos elementos fundamentais da estratégia russa para fortalecer o seu controlo geopolítico e minimizar a influência ocidental no continente europeu.

A gravidade do aviso de Kahl suscitou diferentes interpretações. O major-general Agostinho Costa, especialista em assuntos de segurança, expressou uma visão mais cética ao afirmar que estas declarações fazem parte de uma “narrativa” que visa manter a opinião pública ocidental alinhada com as diretrizes políticas. “A intenção é manter a ideia de que temos um inimigo que vai atacar a Europa, porque muita coisa vai ter de mudar no plano da defesa”, comentou o general à CNN Portugal, referindo que discursos como este preparam o terreno para eventuais decisões de grande impacto, como a reintrodução do serviço militar obrigatório em países como a Alemanha.

Costa questiona ainda a real capacidade e o interesse da Rússia em atacar a Europa, sublinhando que a mobilização de tropas para tal conflito representaria um enorme desafio económico para Moscovo. “Para quê os russos quereriam atacar a Europa? Têm capacidade? Não. Para a terem, teriam de fazer uma mobilização semelhante à que os ucranianos estão a fazer, o que enfraqueceria a economia russa”, afirma, pondo em dúvida a lógica por detrás de uma possível ofensiva russa contra países da NATO.

Segundo o major-general Agostinho Costa, o verdadeiro interesse de Moscovo parece ser mais económico do que militar. “Os russos querem é vender gás e petróleo à Europa”, afirmou, enfatizando que um ataque militar total contra a Europa não seria compatível com os interesses económicos da Rússia, que dependem em grande parte das suas exportações de energia.

No entanto, Costa reconhece que a Rússia não hesitará em usar a força militar se os seus interesses estratégicos forem diretamente ameaçados. Especificamente, ele alerta que, caso a Polónia tente fechar o Corredor de Suwalki ou se a Finlândia e a Estónia encerrarem o Mar Báltico, os russos estarão prontos para agir militarmente para reabrir essas rotas.

O major-general Isidro de Morais Pereira considera que o cenário descrito por Kahl é “verosímil e provável”, mas não certo. “Diria que o grau de probabilidade é de 50-50”, refere o especialista militar, explicando que o desfecho da guerra na Ucrânia será determinante. Se a Rússia vencer o conflito e a sua economia resistir, um ataque à Europa tornar-se-ia mais provável. “Se a economia russa entrar em colapso, o país poderá enfrentar uma crise semelhante à da União Soviética, tornando impossível continuar a expansão imperialista”, explica.

Além disso, o comentador aponta que a Rússia está a fazer investimentos significativos no seu complexo militar-industrial, convertendo a sua indústria para a produção de material bélico e alocando grandes reservas de ouro e divisas para a defesa. Segundo ele, Putin tem como objetivo aumentar o exército permanente para superar o tamanho das forças norte-americanas.

Ainda assim, o especialista descarta a possibilidade de um conflito nuclear, destacando que Putin está ciente das consequências de tal ação. “No dia em que Putin der ordem para utilizar armas nucleares, estará a assinar a sua sentença de morte”, observou.

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