Agosto traz ‘novo rombo’ no orçamento: aumento da prestação da casa chega aos 266 euros

A Euribor tem subido de forma acentuada nos últimos meses e em agosto a regra confirma-se: quem contraiu um crédito à habitação vai ter razões acrescidas para se preocupar este mês se tiver o seu contrato revisto.

Devemos ter especial atenção a taxa Euribor a 12 meses, que atualmente é a mais utilizada em Portugal nos créditos à habitação com taxa variável – segundo dados referentes a maio de 2023 do Banco de Portugal, representava 40,3% do stock de empréstimos com taxa variável, sendo que a Euribor a seis e a três meses representava 34,4% e 22,8%, respetivamente –,que se manteve em 4,114%, depois de ter subido até 4,193% no passado dia 7, um novo máximo desde novembro de 2008.

Ou seja, se o seu contrato for revisto este mês, “as notícias não são boas”, alertou, em exclusivo à ‘Executive Digest’, Nuno Rico, especialista da DECO Proteste – isto porque a prestação vai subir cerca de 266 euros este mês.

Tomemos como exemplo um empréstimo de 150 mil euros a 30 anos, com um spread (margem comercial do banco) de 1%:

– se o empréstimo tem como indexante a Euribor a 12 meses: a prestação que vai pagar no próximo ano irá subir para 820 euros, mais 266 euros (48,01%) em relação à prestação que pagou nos últimos doze meses (554 euros). A taxa média registada este mês – dados até ao dia 26 de julho – foi de 4,159%.

– Já se o indexante for de 6 meses, prepare-se para entregar ao banco 800 euros, uma subida de 13,63% (cerca de 96 euros) face a fevereiro de 2023, quando a prestação situava-se nos 704 euros. Já a taxa média situou-se no 3,940%.

– por último, se tiver um contrato a 3 meses: a taxa Euribor média é de 3,661%, o que significa um aumento da sua prestação de 5,8%: sobe de 732 para 775, mais 43 euros.

Convém sublinhar que a taxa média da Euribor diz respeito a dados até esta quarta-feira, sendo expectável que até dia 31 possa subir um pouco mais o valor médio, ou seja, um ligeiro agravamento da prestação.

“Continuamos com pequenas medidas, pequenos paliativos, para os problemas que estamos a viver”

Nuno Rico, especialista contactado pela ‘Executive Digest’, não se mostrou surpreendido com a subida das prestações ao banco devidas pelo crédito à habitação mas deixou o aviso: não fica por aqui.

“O crescimento está em linha com o previsto e com a evolução das taxas de juro no mercado. Provavelmente esta quinta-feira vamos ter novo aumento das taxas diretoras, que apesar de não terem uma relação direta, influenciam as taxas Euribor. Este movimento, tudo indica, vai continuar pelo menos até ao final do ano”, precisou Nuno Rico, sublinhando que “a partir de 2024, espera-se que comece a haver uma correção em baixa mas que, à partida, não será muito significativa”.

Tão cedo não vale a pena esperar um alívio na carteira e o segundo semestre de 2023 vai “acentuar as dificuldades das famílias portuguesas, sobretudo no caso das taxas Euribor a 12 meses. Começa agora a fazer-se sentir esta subida: há um ano a taxa situava-se nos 0,9%. É um impacto muito grande. Quem renovar contratos neste segundo semestre de 2023 vai sentir o verdadeiro impacto desta subida”.

Crédito habitação: Taxa fixa ou variável? Nenhuma. Taxa mista ganha peso no mercado

O Governo manifestou recentemente a intenção de promover contratos com taxas mista – o Ministério das Finanças está a negociar com a Associação Portuguesa de Bancos uma proposta, que será apresentada em setembro, para “alargar significativamente a oferta de regimes de taxa fixa”, que “deve estar disponível para aqueles que já têm os créditos à habitação.

“Basicamente, tudo o que seja alterar medidas que já existem para abranger mais famílias e dar maior apoio é positivo. Mas temos de ver como se traduz em termos legislativos, mas parece-me muito pouco. Seja a alteração do cálculo da bonificação a partir dos 3% – que já existe para famílias que têm taxa de esforço acima dos 50% – seja o alargar para os 35% de bonificação a todos e não em função dos escalões do IRS, é positivo mas considerando que se mantém o teto de 720 euros anuais, só significa ser mais rápido receber o dinheiro”, referiu Nuno Rico.

“A alteração automática é positiva, contudo os bancos já estão a fazer isto. Os processos de renegociação que temos acompanhado, em muitos dos casos a oferta dos bancos é nesse sentido: no curto prazo, uma taxa fixa, de 2/3 anos, a partir do qual volta à taxa variável. Na prática, o que foi anunciado traduz-se em muito pouco face às dificuldades das famílias portuguesas que podem esperar, neste segundo semestre de 2023, um período muito complicado”, criticou, reconhecendo que continuam por “aparecer medidas mais alargadas”. “Continuamos com pequenas soluções, pequenos paliativos, para os problemas que estamos a viver.”

As maiores dificuldades das famílias portuguesas têm chegado à DECO Proteste. “Os pedidos de ajuda/esclarecimento têm crescido exponencialmente. Principalmente de maio para cá – nos primeiros 6 meses do ano, tivemos cerca de 2 mil contatos nesse sentido. Só em maio e junho este número foi quase metade do total, superior a 800 contatos, o que é demonstrativo da dificuldade crescente das famílias portuguesas”.

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