Afeganistão: Mulheres saem às ruas para marcar o “Dia Negro” em que os talibãs recuperaram o poder
No dia 15 de agosto, assinala-se um ano desde que o regime talibã recuperou o poder no Afeganistão, após o Presidente Joe Biden ter decretado a retiradas das tropas norte-americanos desse país do Médio Oriente, que vários observadores consideram ter sido mal planeada e feita à pressa.
Depois de mais de duas décadas em que as mulheres afegãs conseguiram avanços significativos em matéria de direitos e liberdades, a chegada dos talibãs ao poder fizeram retroceder o relógio e, com isso, voltaram a colocar a população feminina sob a nuvem negra da opressão e do ultraconservadorismo.
Para marcar a data e demonstrar o seu profundo descontentamento com a atual liderança, várias organizações de mulheres estão a planear protestos por todo o país, no que decidiram chamar de “Dia Negro”. O objetivo das manifestações será exigir ao governo afegão que restitua às mulheres os direitos que lhes foram retirados no último ano.
Shahla Arifi, que durante cerca de 20 anos fez parte do Ministério para as Mulheres do governo afegão apoiado pelo Ocidente, lidera agora a organização “Mulheres em busca de justiça”, uma de várias entidades não-governamentais que fazem parte de uma rede nacional de ativistas afegãos que querem fazer frente aos talibãs.
“Iremos sair às ruas vestidas de preto”, diz Arifi, garantindo que “continuaremos a lutar até recuperarmos a liberdade”. Contudo, os protestos não deverão acontecer mesmo no dia 15 de agosto, pois espera-se um clima de grande tensão no país, mas assegura que as vozes descontentes se farão ouvir pelas ruas da capital Cabul e de outras cidades ao longo das próximas semanas.
A ativista denuncia que o governo talibã colocou-a sob vigilância, bem como à sua família, e que membros de outras organizações estão também a ser seguidos pelas forças de segurança do regime.
O atual governo é orientado por uma interpretação bastante restrita da lei islâmica, o que limita o acesso das mulheres ao mercado de trabalho, obriga que se cubram com vestes conservadoras e impede que acedam ao ensino secundário e, consequentemente, ao Ensino Superior.
Monesa Mubarez, ativista afegã de 31 anos, conta à agência ‘Reuters’ que “uma guerra terminou, mas a batalha para encontrar um lugar para as mulheres afegãs começou”, sublinhando que “faremos ouvir as nossas vozes contra qualquer injustiça até ao nosso último fôlego”.
Sob receios de punições físicas aplicadas pelas autoridades policiais talibãs, os movimentos de protesto têm vindo a perder força desde maio, mas as mulheres do Afeganistão voltam agora a galvanizar a ação popular contra o regime.
Em março, organizações cívicas prometiam protestes massivos em todo o país se os talibãs continuassem a impedir que as meninas e jovens pudessem frequentar as escolas secundárias. Tal não aconteceu, pelo que as mulheres saem às ruas para combater as políticas conservadoras de um regime que não é reconhecido pela comunidade internacional.