“Acredito que cada organização tem uma realidade própria, pelo que não há caminhos universalmente certos”, sublinha administrador do Grupo Vicaima

No atual cenário empresarial, as estratégias ESG (Ambientais, Sociais e de Governança) surgem como elementos cruciais na tomada de decisões corporativas. Mais do que uma tendência, a abordagem ESG representa uma revolução no paradigma empresarial e no caminho para uma melhor eficiência operacional.

Em entrevista à Executive Digest, Filipe Ferreira, Chief Sustainability Officer do Grupo Vicaima e Administrador Vicaima Indústria, falou sobre o impacto da adoção de uma estratégia ESG e dos investimentos realizados pela empresa.

 

Podemos quantificar o esforço e o investimento nas políticas sustentáveis? Quanto representa este esforço em investimento de capital e investimento em recursos humanos?

A partir do momento que assumimos uma estratégia ESG, essa dimensão está permanentemente presente em todas as ações, projetos ou decisões que tomamos, pelo que não é dissociável dos demais quadrantes.

Sem prejuízo, há um conjunto de investimentos diretos que realizámos, desde equipamentos industriais a painéis solares, incluindo os recursos humanos, que têm uma ligação umbilical aos objetivos ESG que estabelecemos.

Os dados de que dispomos permitem-nos afirmar que, nos últimos dois anos, 58% do nosso investimento global foi relacionado com as temáticas da sustentabilidade.

 

A dois anos da obrigatoriedade de adesão ao Pacto do Clima, como é que se compara e classifica face aos concorrentes diretos, nesta matéria?

No Grupo Vicaima, assumimos desde sempre a prerrogativa de procurar a melhoria contínua. Fazemo-lo através de um compromisso com Clientes e Parceiros, e não numa ótica concorrencial e de comparação com os nossos concorrentes. Esta estratégia e estes investimentos são realizados em nome desse compromisso com os stakeholders, a sociedade e o ambiente.

Orgulhamo-nos de ter sido a primeira empresa do setor a receber a certificação FSC® e procuraremos continuar a fazer o nosso trajeto desta forma, assente em objetivos próprios e alinhados com as entidades internacionais de referência. Neste quadro, sabemos e regozijamo-nos por afirmar que o Grupo Vicaima está, no respetivo setor de atividade, na linha da frente no que à adoção de políticas de sustentabilidade diz respeito.

 

Neste ponto, em que etapa desta transição energética considera estar a Vicaima?

Considero que temos dado passos muito assertivos e positivos, estando alinhados com as metas definidas pelas organizações mundiais de referência na matéria.

A transição energética é verdadeiramente crucial para nós e é intrínseca a todo o modelo de negócio do Grupo, pelo que temos já definido um roadmap de ações e metas que nos permitirão continuar a ser um agente ativo de contribuição para a transição energética do setor e do país.

 

Em que se têm refletido os investimentos para dentro e fora de Portugal?

O conjunto de investimentos que temos realizado não se reflete diretamente em produtos novos, mas sim nas componentes destes ou no impacto ao longo de todo o processo. Uma das grandes prioridades passa pela eliminação do desperdício, promovendo a eficiência da utilização dos recursos e matérias-primas, bem como ao nível do consumo de energia e água.

Neste quadro, as soluções com certificação FSC®, conforme mencionei acima, são de grande relevância para o mercado, permitindo-nos oferecer opções acreditadas por entidades internacionais por serem provenientes de florestas geridas de forma responsável.

 

Têm uma forte presença no Médio Oriente. É um mercado atraente e em crescimento. As preocupações ambientais também existem nos vossos clientes dessa zona do globo?

Sim, felizmente temos traçado um crescimento significativo no Médio Oriente, potenciando a expansão acelerada deste mercado, nomeadamente no setor hoteleiro e residencial.

As preocupações ambientais são hoje transversais às diferentes geografias em que estamos presentes. As metas mundiais refletem-se nas políticas e orientações dos diferentes governos, pelo que os nossos parceiros de negócio nos diversos mercados manifestam, naturalmente uns mais do que outros, a preocupação e priorização com a sustentabilidade e impacto ambiental da atividade.

 

Enquanto gestor, quando deu início a este processo, sentiu que havia informação suficiente para orientar as empresas e, muito concretamente, quanto essa transição lhes pode vir a custar?

Sim, efetivamente esta é uma temática que tem vindo a ser trabalhada, a nível global e nacional, de forma séria e eficaz. Quer ao nível da informação, quer das metodologias de trabalho, dispusemos, desde o início do processo, de material e orientação para conduzir todas as etapas de forma integrada, sustentada e orientada por indicadores tangíveis.

Acredito que cada organização tem uma realidade própria, pelo que não há caminhos universalmente certos. No Grupo Vicaima, optámos por realizar este trabalho investindo tempo, recursos e o know-how dos nossos profissionais das diferentes áreas. Há algo que creio que foi decisivo para o processo, e que se prendeu com o envolvimento direto da Administração. O facto de a liderança de topo assumir esta prerrogativa como prioritária transmite para toda a Organização o sentido da importância do tema e facilita a adoção transversal deste nos diferentes departamentos e níveis hierárquicos.

 

 

Ler Mais