Acidentes e teorias da conspiração: Os casos de líderes europeus que morreram em desastres de avião (incluindo um português)

O recente acidente de helicóptero que vitimou o presidente iraniano, Ebrahim Raisi, trouxe à tona uma lista preocupante de líderes políticos e militares europeus que morreram em acidentes aéreos ou em circunstâncias misteriosas.

Apesar das rigorosas medidas de segurança geralmente aplicadas para protegê-los, muitos destes incidentes permanecem envoltos em mistério e teorias da conspiração, até porque muitas vezes envolvem figuras polémicas ou controversas. Recorde alguns dos principais casos, que incluem um português.

Dag Hammarskjöld, Secretário-Geral da ONU
Dag Hammarskjöld, um famoso diplomata sueco e segundo Secretário-Geral das Nações Unidas, morreu em 18 de setembro de 1961, num acidente de avião na Zâmbia. Hammarskjöld estava a caminho de negociações de cessar-fogo entre as forças da ONU e as tropas de Katanga, uma província separatista do Congo, quando o acidente ocorreu, matando todos os 16 passageiros a bordo.

Uma investigação em 1962 atribuiu o acidente a um erro do piloto, com o avião a voar a baixa altitude. No entanto, em 2011, o The Guardian relatou novas evidências sugerindo que o avião foi abatido sobre a Rodésia do Norte (atual Zâmbia), com alegações de que as autoridades coloniais britânicas encobriram o incidente. Empresas mineiras e o antigo serviço de inteligência russo, KGB, foram acusados de estarem por trás do alegado golpe, embora estas alegações não tenham sido confirmadas.

Primeiro-ministro jugoslavo Džemal Bijedić
Džemal Bijedić, um político bósnio que serviu como Primeiro-Ministro da República Socialista Federativa da Jugoslávia, morreu em 1977 quando o seu jato Learjet caiu na montanha Inač, na Bósnia-Herzegovina. A sua esposa Razija e mais seis pessoas também morreram no acidente.

Embora as más condições meteorológicas tenham sido apontadas como a causa, teorias da conspiração sugerem um esquema por parte dos seus rivais, dada a sua potencial sucessão ao envelhecido Tito, que morreu três anos depois.

Francisco Sá Carneiro, primeiro-Ministro português
Francisco Sá Carneiro, uma figura de destaque desde a Revolução de 25 de Abril, liderou a então Aliança Democrática de direita, que venceu as eleições gerais de 1979 em Portugal. Contudo, a sua vitória foi curta. A 4 de dezembro de 1980, a caminho de um comício eleitoral no Porto, o avião Cessna em que viajava caiu num edifício em Camarate, pouco após a descolagem. Inicialmente, a investigação apontou falha no motor como causa do acidente. No entanto, uma análise química moderna dos destroços em 2004 sugeriu que uma bomba foi colocada sob o cockpit. Teorias sugerem que o alvo do suposto assassinato era o Ministro da Defesa, Adelino Amaro da Costa, que viajava com Sá Carneiro.

Presidente da Polónia Lech Kaczyński
Lech Kaczyński, presidente da Polónia, morreu em 10 de abril de 2010, num acidente de avião perto de Smolensk, na Rússia ocidental, que matou todos os 96 passageiros. A bordo estavam vários altos oficiais militares, membros do parlamento polaco e dignitários, incluindo a esposa de Kaczyński. A delegação estava a caminho para marcar o 70º aniversário do massacre de Katyn.

O avião tentou aterrar no meio de um denso nevoeiro, apesar dos avisos sobre as condições meteorológicas e da recomendação para desviar para outro aeroporto. O acidente mergulhou a Polónia em luto e levantou questões sobre as decisões que levaram à tragédia, incluindo possíveis pressões sobre os pilotos e a adequação da aeronave.

A tragédia também desencadeou debates sobre as relações polaco-russas, dado o contexto histórico do massacre de Katyn e as tensões políticas em curso. A morte de Kaczyński foi usada pelo seu irmão gémeo Jarosław — líder não oficial do partido nacionalista de direita PiS — para alertar sobre a influência maligna da Rússia no país. Valeriya Novodvorskaya, uma política russa, afirmou que o Kremlin assassinou Kaczyński, embora não tenha apresentado provas para esta alegação.

Estes casos emblemáticos destacam como acidentes de avião e helicóptero podem ter profundas implicações políticas e gerar inúmeras teorias da conspiração. Com muitas investigações ainda sem respostas definitivas, a morte destes líderes continua a ser um capítulo doloroso e intrigante na história política europeia.

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