Acabou o IVA zero. Fizemos as contas e dizemos-lhe quanto vai pagar a mais a partir de hoje pelo azeite, as laranjas e outros 44 produtos essenciais

Esta sexta-feira, na altura de ir ao supermercado, não estranhe se a fatura final ficar mais pesada do que o costume: é que de IVA aplicado a um conjunto de 46 alimentos, numa medida do governo que vigorava desde 18 de abril do ano passado, acabou ontem. Assim, já a partir de hoje, deverá verificar um aumento no custo de vários produtos, que de taxa 0 de IVA passam para 6% e, em alguns casos, 13%.

Em entrevista à Executive Digest, Natália Nunes, coordenadora do Gabinete de Proteção Financeira da DECO explica que “com o fim da isenção de IVA Zero, para o mês de janeiro, antecipam-se contas ainda mais complicadas para as famílias”. “Em teoria é esperado um aumento de, pelo menos, 6%, na medida em que o IVA vai ser reposto. Mas a grande expectativa é perceber como é que vai ser o comportamento dos preços nas próximas semanas”, indica a responsável.

“Nestas últimas semanas assistimos já a um aumento generalizado de preços e a manter-se, em janeiro, esta tendência, com o fim do IVA zero, os consumidores terão as contas ainda mais dificultadas”, lamenta Natália Nunes, referindo já outras pressões, como aumentos das taxas de juro, consequente escalada das prestações de crédito á habitação, subida de rendas, e aumento do custo de vida.

Mas a quanto ficarão os produtos que tinham até ontem IVA zero? A Executive Digest fez as contas. Com base no cabaz IVA zero, aos preços até esta quarta-feira (4 de janeiro), dos produtos considerados pela Deco/Proteste no conjunto, apenas o óleo alimentar voltará a ter 13% de IVA, com os restantes a passarem a ter 6%.

Veja na Tabela abaixo o valor que hoje deverá encontrar no supermercado para cada produto

Medida do IVA zero chegou ao fim com cabaz quase cinco euros mais caro
O cabaz IVA zero voltou a subir esta semana, depois de uma ligeira descida na anterior, e custava na quarta-feira 143,28 euros, mais 3,36 euros (2,4%) do que na semana anterior. O cabaz já custa mais 4,51 euros do que no dia antes da medida entrar em vigor: a 17 de abril estava nos 138,77 euros. Já hoje, com o levantamento da medida, deverá custar 134, 55 euros.

Comparando com o início de 2023, verifica-se um aumento no preço do cabaz de 9,62 euros (+7,20%).

Há produtos que foram abrangidos pela medida que estavam esta quarta-feira bem mais caros do que a 18 de abril, com aumentos acima dos 30%. São estes os produtos que mais aumentaram até ao final do IVA zero: azeite virgem extra (47%), brócolos (43%), laranja (35%), alface frisada (32%), couve-flor (30%), pescada fresca (30%), atum posta em óleo vegetal (11%), iogurte líquido (11%), maçã gala (10%) e massa espirais (9%).

Por outro lado, segundo indica a Deco/Proteste à Executive Digest, foram estes os produtos que mais reduziram de preço no mesmo período: óleo alimentar (35%), cenoura (17%), tomate chucha (16%), cebola (10%), manteiga com sal (10%), carcaça tradicional (8%), queijo flamengo fatiado embalado (8%), queijo curado fatiado embalado (8%), costeletas de porco (8%) e dourada (7%).

Azeite, carapau e arroz foram os produtos que mais aumentaram na última semana
Na última semana, entre 27 de dezembro e 3 de janeiro, foram os seguintes produtos os que registaram a maior subida percentual no cabaz IVA zero monitorizado pela DECO PROTESTE: azeite virgem extra (17%), carapau (14%), arroz carolino (13%), massa esparguete (7%), ervilhas ultracongeladas (6%), arroz agulha (5%), brócolos (5%), atum posta em óleo vegetal (4%), cenoura (3%) e curgete (3%).

No espectro oposto, os produtos que mais desceram na última semana foram: maçã gala (5%), maçã golden (3%), lombo de porco sem osso (2%), tomate chuca (2%), dourada (1%), pão de forma sem côdea (1%), costeletas de porco (1%), laranja (1%), e febras de porco (1%).

Recorde-se que a isenção do IVA em mais de 40 alimentos resulta de um acordo assinado a 27 de março entre o Governo, o retalho alimentar e a produção agroalimentar. A medida visava mitigar os efeitos dos aumentos de preços dos bens alimentares e estava em vigor até final deste ano, após ter sido estendida pelo Governo a 7 de setembro (estava previsto o final da medida a 31 de outubro). A medida terminaria no final do ano, mas o Governo concedeu um ‘período de adaptação’ até dia 4 de janeiro de 2024.

A lista de produtos foi definida com base nas recomendações da Direção-Geral da Saúde. Inclui os alimentos mais consumidos pelas famílias em Portugal, de acordo com a informação disponibilizada pela associação que representa as empresas de distribuição alimentar.

Preço do cabaz ‘normal’ acompanha subida
O preço do cabaz de 63 bens essenciais monitorizado pela DECO PROTESTE, também subiu esta semana. Custava esta quarta-feira 236,04 euros, um valor recorde desde que a Deco acompanha o cabaz, mais 5,87 (+2,25%) face à semana anterior.

Se compararmos este valor com o período homólogo do ano passado, o preço do cabaz subiu 16,64 euros (mais 7,59%).

Na última semana, os 10 produtos com maiores aumentos percentuais foram azeite virgem (17%), carapau (14%), arroz carolino (13%), douradinhos de peixe (11%), café torrado moído (8%), salmão (7%), massa esparguete (7%), ervilhas ultracongeladas (6%), cereais integrais (6%) e arroz agulha (5%).

Já entre 23 de fevereiro de 2022, véspera do início da guerra na Ucrânia, e 3 de janeiro deste ano, os produtos que mais viram o seu preço subir foram o azeite virgem (138%), pescada fresca (98%), arroz carolino (82%), laranja (73%), cebola (64%), polpa de tomate (61%), açúcar branco (57%), couve-coração (56%), salsichas frankfurt (53%) e batata vermelha (49%).

Olhando a categorias de produtos, os maiores aumentos percentuais, desde início da guerra, foram registados na mercearia (41,10%, mais 17,32 euros), e no peixe (28,40%, mais 17,13 euros).

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