Acabar com a fome em dez anos tem um preço: 280 mil milhões de euros, indica estudo alemão

Cumprir a ‘grande meta’ de acabar com a fome até 2030 vem com um preço: 280 mil milhões de euros (330 mil milhões de dólares), de acordo com um estudo revelado pelo Governo alemão esta semana.

Grupos de investigação compilaram dados de 23 países e perceberam que os doadores internacionais teriam de acrescentar mais 12 mil milhões de euros por ano aos seus gastos em segurança alimentar e nutrição durante os próximos 10 anos – mais do dobro da sua contribuição atual. Os países de rendimento baixo e médio teriam também de dar mais 16 mil milhões de euros por ano, potencialmente através da tributação.

O estudo, publicado esta semana, coincidiu com os avisos de que o mundo tem uma “montanha imensa” para escalar para acabar com a fome, com 11 países a mostrar níveis “alarmantes” de fome, e níveis “graves” em outros 40, de acordo com o Índice Global da Fome.

“Estamos aqui a tentar resolver um problema – ou seja, a fome está a aumentar – e ainda assim quase 700 milhões de pessoas vão para a cama com fome durante a noite. O que quer que estejamos a gastar atualmente não está a ajudar essas pessoas”, disse Carin Smaller, co-directora da Ceres2030, uma coligação financiada pelo governo alemão e pela Fundação Bill e Melinda Gates, em declarações ao The Guardian.

De acordo com Smaller, os investigadores utilizaram um modelo económico que considerou as despesas existentes e analisaram como poderia ser melhorado em 14 áreas, desde a proteção social e apoio ao rendimento, até ao investimento em investigação e formação. “Não se trata de duplicar as despesas para fazer as mesmas coisas”, disse.

A investigação descobriu que os avanços tecnológicos precisavam de ser acompanhados pelo apoio aos agricultores, especialmente às mulheres, que muitas vezes não podiam beneficiar de novas técnicas ou culturas que pudessem tornar as colheitas mais fiáveis.

Também sugeriu que o trabalho de redução das perdas das colheitas deveria ser expandido além do enfoque existente no armazenamento, de modo a incluir frutas e vegetais mais nutritivos.

O estudo incluiu o desenvolvimento de uma ferramenta de Inteligência Artificial que analisou meio milhão de artigos de investigação dos últimos 20 anos, para encontrar provas sobre o que poderia funcionar para acabar com a fome.

“Se os países ricos duplicarem os seus compromissos de ajuda e ajudarem os países pobres a darem prioridade, direcionarem adequadamente e aumentarem as intervenções rentáveis na investigação e desenvolvimento agrícola, tecnologia, inovação, educação, proteção social e na facilitação do comércio, podemos acabar com a fome até 2030”, disse Maximo Torero, economista chefe da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO, na sigla em inglês) ao The Guardian.

A investigação foi conduzida pelo Centro de Investigação para o Desenvolvimento, da Universidade Cornell, pela FAO, pelo Instituto Internacional de Investigação de Política Alimentar, e pelo Instituto Internacional para o Desenvolvimento Sustentável.

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