A vida numa comunidade de energia

É em Caxias que está a nascer um laboratório vivo para testar conceitos, tecnologias e soluções de energia inovadoras únicas no País. O Caxias Living Lab é uma experiência colaborativa que coloca os cidadãos no centro da transição energética, oferecendo-lhes a oportunidade de produzirem a sua própria energia, reduzirem consumos e aumentarem a sua eficiência energética. Para o efeito, os participantes têm à sua disposição mais de 200 painéis solares, baterias, bombas de calor, pontos de carregamento eléctrico que conseguem devolver energia às casas e uma inovadora bateria comunitária, entre outras tecnologias que serão adicionadas ao longo do projecto. Entre os 10 produtores e 20 consumidores de energia verde gerada no ecossistema encontram-se a Escola Básica e Jardim de Infância Nossa Senhora do Vale, o Centro Comunitário e Paroquial Nossa Senhora das Dores, o Mercado Municipal de Caxias e habitações privadas. 

«A Galp tem a ambição de estar na vanguarda de soluções inovadoras que possam acelerar a transição energética e satisfazer as necessidades dos nossos clientes, cada vez mais conscientes e exigentes. A ideia de uma comunidade de energia passou por criar um produto diferenciador e sustentável que permitisse aos consumidores participar activamente na gestão da sua energia, beneficiando de tarifas mais competitivas e de maior autonomia. Fomos mais longe neste projecto testando conceitos como o de microgrid e virtual power plant (VPP), elementos que vão definir a próxima geração de comunidades de energia. O Caxias Living Lab é parcialmente financiado pelo Plano de Recuperação e Resiliência Aliança para a Transição Energética, que prevê o apoio financeiro a projectos de autoconsumo colectivo e comunidades de energia renovável, como forma de estimular o desenvolvimento deste mercado emergente e de promover a eficiência energética, a descentralização da produção e o consumo responsável», afirma Carla Tavares, head of Renewables and Commercial Innovation Center.

Há três aspectos que fazem do Caxias Living Lab um projecto único: é uma das primeiras comunidades de energia a testar coeficientes de partilha dinâmicos, que permitem ajustar o custo da energia partilhada entre os membros da comunidade em função da oferta e da procura, incentivando assim a eficiência e a poupança; mais do que uma comunidade de energia, é um Testbed para tecnologias inovadoras relacionadas com a gestão inteligente da rede eléctrica, como baterias de armazenamento, veículos eléctricos, soluções de mobilidade e flexibilidade, entre outras, que serão testadas pela Galp no âmbito do seu programa de inovação aberta; é um projecto piloto aprovado pela Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos (ERSE), que reconheceu o potencial desta iniciativa para contribuir para o desenvolvimento do mercado de serviços energéticos e para a transição energética.

Nesta comunidade energética, os electrões verdes produzidos através de painéis fotovoltaicos são usados para alimentar bombas de calor e termoacumuladores eléctricos, substituindo os antigos esquentadores e caldeiras, servindo também carregadores de veículos eléctricos. Supridas as necessidades de consumo, a energia é armazenada em baterias descentralizadas distribuídas pela comunidade.
«O Caxias Living Lab tem um pendor laboratorial, de melhoria contínua, de experimentação com os utilizadores. Simboliza o espírito de abertura da Galp ao exterior, a sua vontade de aprender com a comunidade e, sobretudo, o compromisso de co-criar com os cidadãos o sistema de energia do futuro», acrescenta Ana Casaca, diretora de Inovação da Galp.
Este projecto é também inovador à escala europeia, combinando diversas tecnologias e conceitos que o tornam único. À já mencionada utilização de coeficientes de partilha dinâmicos, permite variar o preço da energia partilhada em função do equilíbrio entre a produção e o consumo na comunidade, incentivando assim a eficiência e a poupança energética dos membros.

«A implementação de uma bateria comunitária, a primeira vez que é testada em Portugal e na Europa. Esta bateria armazena o excedente de energia produzido pela comunidade e disponibiliza-o quando há maior necessidade, garantindo assim a estabilidade da rede e a maximização da utilização de energia renovável. Mais, o projecto foi concebido para além da comunidade de energia. É um Testbed para tecnologias inovadoras relacionadas com a gestão inteligente da produção e do consumo, nomeadamente, através dos veículos eléctricos, soluções de mobilidade e flexibilidade, que serão testadas pela Galp no âmbito do seu roadmap de inovação, visando a criação de novos serviços e modelos de negócio no sector energético. Por último, a participação dos municípios, das juntas de freguesia e de vários participantes residenciais e institucionais. A transição energética, para ser bem sucedida, requer elevados níveis de colaboração e compromisso. Aqui temos um excelente exemplo de como é possível fazer a descarbonização em conjunto», sublinha a head of Renewables and Commercial Innovation Center.

Estima-se que os participantes residenciais observem no final do primeiro ano uma redução de 30% nos consumos de rede e a redução de 20 toneladas de emissões de CO2. «A nossa ambição é replicar este modelo de comunidade energética em diferentes locais do País, adaptando-o às especificidades de cada região e aos perfis dos consumidores. Queremos contribuir para a democratização da energia, dando mais poder de escolha e participação aos cidadãos, às empresas e às entidades públicas. Temos recebido manifestações de interesse de novos consumidores que querem aderir à nossa comunidade energética. Acreditamos que este é o caminho para uma energia mais limpa, inteligente e resiliente. Cooperando com os cidadãos e com as entidades públicas, este é o futuro da energia», conclui Carla Tavares. 

TECNOLOGIA
O Caxias Living Lab emprega várias tecnologias que permitem a produção, o armazenamento, o consumo e a partilha de energia renovável entre os membros da comunidade.
As principais tecnologias são:

  • Painéis fotovoltaicos (PV), que convertem a luz solar em electricidade e que estão instalados nos telhados dos edifícios que participam no projecto;
  • Baterias, que armazenam o excesso de energia produzida pelos painéis PV e que podem fornecer energia à comunidade quando há menos sol ou maior procura;
  • Bombas de calor, que utilizam a energia eléctrica para aquecer ou arrefecer o ambiente e a água dos edifícios, aumentando a eficiência energética e o conforto dos utilizadores;
  • Carregadores de veículos eléctricos (EV), que permitem carregar as baterias dos carros eléctricos dos membros da comunidade, utilizando a energia renovável produzida localmente;

Estas tecnologias são integradas através de plataformas de gestão avançadas, que monitorizam e optimizam o fluxo de energia entre os diferentes elementos da rede, assegurando a qualidade, a segurança e a rentabilidade do serviço prestado pela comunidade de energia.

A PERSPECTIVA DO UTILIZADOR
Sérgio Teixeira Santos é um dos utilizadores deste projecto. Em 2024, neste primeiro trimestre, produziu 1,79 MWh, dos quais 60% (1,08 MWh) foram para auto-consumo. Este consumo representa 45% de auto-suficiência da sua casa. Durante o período de Junho a Setembro espera que a auto-suficiência seja de quase o dobro, pese embora uma parte significativa da produção seja em excesso e transferível para os restantes membros do condomínio. «A compreensão dos dados de produção e consumo, e capacidade de intervenção no meu comportamento familiar, torna fazer parte deste projecto uma enorme satisfação e quase um jogo, ao procurar gerir o lar de forma cada vez mais optimizada da perspectiva energética», diz. Sérgio tem sentido curiosidade da comunidade e dos seus vizinhos neste projecto. «Como cada membro da comunidade do projecto tem uma situação particular, isto é, alguns com equipamento de produção fotovoltaica, outros com equipamentos eficientes de consumo, bomba de calor, carregador de veículo eléctrico etc., cada caso é único. E portanto tem sido muito interessante trocar informação e experiências com os outros membros e vizinhos sobre tudo isto… não apenas em relação aos equipamentos, mas também a como o projecto nos causou naturalmente a repensar os nossos comportamentos em casa no que toca a consumo energético e uso de electrodomésticos. Tem havido interesse e pedidos de participação no projecto por parte de várias pessoas que ouviram falar do Caxias Living Lab, maioritariamente após a sua divulgação», afirma.