“A regulação para os prestadores de serviços de activos digitais é urgente”, alerta CEO do Bison Bank

O público-alvo da Bison Digital Assets está alinhado com o do Bison Bank, de forma a manter a consistência e permitir a materialização de sinergias entre as duas entidades – institucionais, empresas e particulares de elevado património líquido. António Henriques, CEO do Bison Bank e da Bison Digital Assets, em entrevista à Risco, explica os desafios do digital.

O Bison Bank lançou recentemente uma subsidiária de criptoactivos, a Bison Digital Assets. Qual o objectivo deste novo serviço?
O Bison Bank lançou a Bison Digital Assets, que é o primeiro prestador de serviços de activos virtuais em Portugal, detido por um banco. Tendo como objectivo ser a ponte perfeita entre o mundo tradicional e o ecossistema de activos digitais, a Bison Digital Assets facilita a navegação e compreensão dos clientes em relação a estes activos digitais, através de uma plataforma fiável e segura. Desta forma, os nossos clientes beneficiam da segregação e controlo total dos seus activos digitais, mantendo a independência e o livre arbítrio sobre as suas próprias decisões, num ambiente seguro, regulado e transparente. Desenvolvida sob os mesmos padrões de governação bancária que o seu accionista, a Bison Digital Assets tem o objectivo de ajudar a construir, a gerir e a tornar sustentável a riqueza entre culturas e geografias. 

Quais as funcionalidades disponíveis?
A Bison Digital Assets permite o depósito, levantamento, compra, venda e custódia de activos digitais, com acesso imediato a liquidação financeira nas principais moedas através do Bison Bank, onde todos os clientes da Bison Digital Assets têm, obrigatoriamente, conta aberta. A Bison Digital Assets disponibiliza actualmente aos seus clientes exposição em Bitcoin (BTC), Ethereum (ETH) e a duas stablecoins (USDC e USDT).

Que segmento de clientes pretendem atingir?
O público-alvo da Bison Digital Assets está alinhado com o do Bison Bank, de forma a manter a consistência e permitir a materialização de sinergias entre as duas entidades – institucionais, empresas e particulares de elevado património líquido. Sob o ponto de vista estratégico, o Bison Bank tem como objectivo ligar o mercado europeu a outros mercados globais, aproveitando uma rede de mais de 100 parceiros de orientação internacional para promover o seu alcance global, servindo actualmente mais de 2000 clientes de mais de 90 países.

Como é que a segurança está garantida?
Os serviços de custódia fornecidos têm uma arquitectura multicamada, certificada e auditada por terceiros independentes e alavancam décadas de experiência do accionista da Bison Digital Assets no campo da custódia, seguindo as melhores práticas de banca. Os preços do Bison Digital Assets são transparentes e sem taxas ocultas. A nossa plataforma assegura aos clientes a melhor execução (best execution) através dos nossos fornecedores de liquidez profissionais, realizando ordens de negociação de elevado montante, enquanto se encontram em segurança sob custódia. Todos os activos são detidos de 1 para 1, segregados do balanço contabilístico da Bison Digital Assets e todas as operações são devidamente registadas, tal como para outros activos financeiros regulados na banca tradicional.

É uma prova do compromisso do Bison Bank de abraçar a inovação e manter-se na vanguarda da indústria financeira?
É de facto um objectivo estratégico do Bison Bank, enquadrado num plano geral de transformação alavancado na inovação tecnológica. Acreditamos que a banca nos próximos dez anos será muito diferente daquela que conhecemos hoje, e que a Web3 e os activos digitais serão uma parte determinante desse ambiente e sistema bancário futuro. Contamos atingir o break-even no decorrer de 2024, com base em algumas centenas de clientes, ou seja, com cerca de um ano de actividade. De referir que, atendendo ao mercado alvo (institucionais, empresas e particulares de elevado património), a actividade deverá estar assente em volumes médios elevados por cliente, com origem num número moderado de clientes.

Como olha para o mercado das criptomoedas, atendendo aos eventos que aconteceram no ano passado?
Os recentes eventos demonstram que, por um lado, esta indústria ainda está em fase de expansão e maturação, e que se está a tornar cada vez mais resiliente e ágil face aos desafios que vão surgindo. Por outro lado, é por demais evidente que a regulação para os prestadores de serviços de activos digitais é absolutamente necessária e urgente. Consideramos que a regulação ao nível da União Europeia, em particular o MiCA (Markets in Crypto-Assets) e o AML package, é urgente e irá mitigar grande parte do tipo de eventos que observámos no ano passado. Estas normas vão definir um quadro regulamentar harmonizado para activos digitais, que, por sua vez, vai estabelecer regras claras sobre a emissão, negociação e custódia destes activos para todos os prestadores de serviços na UE. De referir que a Bison Digital Assets já antecipou em grande medida a adopção desta regulação, estando a funcionar com base nos princípios determinados pela mesma, desde o início da sua actividade.

Quais os principais desafios para regular o mercado das criptomoedas?
O principal e mais urgente desafio é o de lançar o primeiro pacote de regulação integral. Depois, será necessário manter um trabalho constante (ainda que gradual) com os reguladores. Através deste trabalho conjunto, garantimos a melhoria, a avaliação e a aprendizagem contínuas sobre novos produtos deste ecossistema. A educação será também um desafio enorme e, ao mesmo tempo, a chave essencial para encontrar um equilíbrio entre a promoção da inovação, a garantia de segurança e a protecção daqueles que utilizam esses serviços.

Ao nível do digital, quais os principais desafios e oportunidades que esperam encontrar em 2023?
A digitalização e o desenvolvimento da Web3 mudaram as expectativas dos clientes, que exigem serviços mais rápidos, transparentes e convenientes. Os desafios para este ano são vários, mas todos relacionados com a promoção de uma cultura de melhoria contínua da experiência digital, de forma iterativa e sem descontinuidades, que satisfaça estas expectativas e garanta a segurança na utilização das novas tecnologias. No fundo, em 2023, queremos garantir o estabelecimento de uma ponte perfeita entre o mundo tradicional e o ecossistema dos activos digitais.

Quais os principais desafios que a economia digital coloca à banca?
A banca tem sido, desde sempre, um dos maiores precursores da economia digital. No entanto, esta tem vindo a desenvolver-se constantemente nas suas diversas disciplinas, não dando tréguas a nenhum dos sectores da nossa economia. Nesse sentido, existe naturalmente uma necessidade de capacitação geral e continuada, de forma a conseguir incorporar e ajustar a sua estratégia e oferta de produtos e serviços. O processo de digitalização da indústria financeira continuará e a sustentação e gestão desta realidade requer necessariamente o investimento em profissionais qualificados. Estes precisam de estar aptos para analisar sistemas e actualizar infra-estruturas e arquitecturas de cibersegurança, de forma a garantir que os sistemas aplicacionais e dados financeiros sensíveis estejam protegidos. A formação digital contínua, em conjunto com a captação de novas pessoas digitais, são, assim, o maior desafio da banca. A par de todo o processo de desenvolvimento tecnológico nos últimos dois anos, no Bison Bank e na Bison Digital Assets estamos neste momento concentrados em formar todos os colaboradores em matérias relacionadas com activos digitais. 

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