“A nossa empresa tem mais de 40 anos e todos eles foram diferentes”, conta Presidente do Conselho de Administração da A. Silva Matos Metalomecânica

A empresa A Silva Matos Metalomecânica desenvolve a sua actuação nas áreas de Oil&Gas, Química, Indústria Alimentar e Medicinal ou Aproveitamento Hídrico.

Desde sempre que o foco na diversificação de produtos e mercados contribuiu para a consolidação da empresa. Em entrevista à Executive Digest, Cláudia Matos Pinheiro, presidente do conselho de administração da A. Silva Matos Metalomecânica, explica os principais desafios da empresa para o futuro. 

Como nasceu a A. Silva Matos Metalomecânica e o que produz?
A empresa A. Silva Matos Metalomecânica SA nasceu em 1980 e desenvolve a sua actividade na construção de equipamentos metalomecânicos, nomeadamente equipamentos sob pressão, bem como outros equipamentos relacionados com a indústria de processo.

Quantas unidades industriais tem e onde estão localizadas?
Temos duas unidades industriais, uma em Sever do Vouga, onde estamos sediados e que conta com cerca de 20 mil metros quadrados, e outra em Aveiro, que foi inaugurada em 2015 e ronda os 70 mil metros quadrados.

Finalizaram 2022 com um volume de facturação de 14 milhões de euros, exportam para mais de 60 países e empregam mais de 110 pessoas. Qual é a receita do sucesso?
A nossa empresa tem mais de 40 anos e todos eles foram diferentes, com novos desafios a surgir e, por vezes, impossíveis de prever (como a pandemia em 2020 ou a guerra na Ucrânia em 2022). Dito isto, infelizmente não existe uma receita única para o sucesso – se houvesse certamente tornaria tudo mais fácil. É necessário regularmente encontrar “novas receitas”. Contudo, diria que o empenho e dedicação da nossa equipa, a sua constante motivação e foco nos objectivos definidos e nas necessidades do seu cliente são contributos importantes e indispensáveis em todos os momentos. 

Quais são os objectivos da empresa para o segundo semestre de 2023?
Neste momento, o grande objectivo é aumentar a capacidade produtiva nas nossas unidades industriais, com especial foco na unidade industrial de Aveiro, onde investimos fortemente para inaugurá-la em 2015. Para tal, estamos a projectar renovar o nosso parque de máquinas e introduzir novas tecnologias nas nossas instalações. Este é o nosso grande foco para o segundo semestre de 2023, apesar de se tratar de um projecto que ficará concluído somente no final de 2024. Sintetizando, estamos focados em dotar a empresa de equipamentos tecnologicamente mais evoluídos para permitir maior eficiência dos processos. Estamos a meio deste projecto e, com ele, contamos registar um crescimento de 10% fruto deste investimento.

O que é o projecto “HiperSea” e qual o principal objectivo?
O projeto HiperSea desenvolveu uma infraestrutura móvel hiperbárica que permite recolher animais vivos (habitantes do mar profundo), transferi-los para uma outra câmara hiperbárica, à superfície, que permite a sua sobrevivência, em condições idênticas às do seu habitat natural, manutenção e reprodução em cativeiro. Surgiu da necessidade de estudar melhor os seres vivos de profundidade, para uma maior conservação dos ecossistemas, mas também para que o eventual uso dos recursos vivos do mar profundo se faça de forma sustentável.
O principal objectivo deste projecto foi aprofundar o (pouco) conhecimento sobre a biologia destas espécies de profundidade. Adicionalmente, pretendemos aumentar o desenvolvimento tecnológico nacional e proporcionar à comunidade científica portuguesa um equipamento que até agora não existia, colocando Portugal na vanguarda deste tipo de estudos a nível mundial.
As entidades envolvidas foram no HiperSea foram a A. Silva Matos Metalomecânica – que liderou o projeto –, o ISEP, o INESCTEC, o CIIMAR e o IPMA. Este é, portanto, um projeto 100% nacional.

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Quem são os seus principais clientes?
Os nossos principais clientes são grandes empresas internacionais, bem como entidades do sistema científico internacional. A título de exemplo, actualmente temos em curso uma obra para o CERN (European Organization for Nuclear Research) e, no passado recente, participámos num projecto da ESA (European Space Agency) através do desenvolvimento de um equipamento para a montagem e transporte do painel solar a instalar no satélite Euclides. 

Em que consiste esse projeto em que são parceiros do CERN?
Este projecto destina-se a contribuir para o arrefecimento do Large Hadron Collider (LHC). Contextualizando, o LHC é o maior e mais poderoso acelerador de partículas do mundo, localizando-se no Centro Europeu de Pesquisa Nuclear (CERN), perto de Genebra, na Suíça. Trata-se de um anel circular de 27 quilómetros, localizado a cerca de 100 metros abaixo da superfície. O LHC acelera partículas a velocidades próximas da velocidade da luz e faz com que colidam em pontos específicos do anel, onde estão localizados detetores de partículas. Essas colisões permitem aos cientistas estudar as partículas subatómicas e as forças fundamentais que ditam as leis do universo.
Para que o LHC funcione correctamente, é necessário encontrar-se a uma temperatura extremamente baixa, próxima dos 271.3°C. Por esta razão, grande parte do acelerador está ligado a um sistema de distribuição de hélio líquido, que arrefece os ímanes. É aqui que a A. Silva Matos Metalomecânica entra no projecto, através do fabrico de reservatórios que vão armazenar o hélio. Este projeto terá início ainda este ano e será concluído no primeiro trimestre de 2024. O LHC tem contribuído significativamente para avanços na compreensão da física de partículas e, como tal, estamos bastante orgulhosos por colaborar neste projecto com uma entidade de referência como o CERN.

Como consegue manter a competitividade fora do território português?
A competitividade é uma realidade global que exige das empresas um racional elevado. Factores recentes como o aumento drástico do custo dos materiais e da energia, bem como da taxa de juro, têm representado uma exigência adicional muito significativa. Manter a competitividade neste contexto implica uma gestão bastante cuidada e análise permanente a dezenas de fatores.

Quem são os seus principais concorrentes?
Actuando num mercado global e exportando para cerca de 70 países, os nossos concorrentes encontram-se nas mais diversas geografias, sendo que a Europa apresenta um especial relevo, não só pela maior quantidade de empresas do sector, como também pela sua dimensão.

De onde poderá vir o crescimento da A. Silva Matos Metalomecânica? Quais os principais mercados e produtos para aumentar o volume de negócios?
Desde sempre que o foco na diversificação de produtos e mercados contribuiu para a consolidação da empresa. Para esse facto também a nossa contínua aposta em Investigação & Desenvolvimento (I&D) de novos produtos tem vindo a potenciar novas áreas de negócio, com grande potencial de crescimento, ligadas à Economia do Mar. Acreditamos que, no futuro, uma significativa parte do volume de negócios pode estar associada a essa área.

Qual a importância da inovação para o seu negócio?
A inovação é uma peça fundamental, quer como ferramenta de motivação e criatividade da equipa, quer como potenciador do sucesso do negócio. É algo que está presente no ADN da nossa empresa e tem sido reconhecido por várias entidades. Recentemente, por exemplo, o esforço desenvolvido nesta área foi atestado pela Agência Nacional de Inovação através do reconhecimento de idoneidade à nossa empresa para a prática de atividades de I&D no domínio de atuação da Economia do Mar.

De que forma é  tratado o tema da atracção e retenção de talento?
A atração e retenção de talento é, actualmente, um desafio constante a todas as empresas e em permanente evolução. Nas empresas, há assuntos de diferentes graus de complexidade e este é um dos mais complexos.
Se pensarmos, por exemplo, na decisão que uma empresa toma quando pretende ter acesso a tecnologia operacional, prende-se com uma relação custo-benefício entre os objectivos de negócio definidos e o caminho mais eficaz para o atingir, enquadrado no orçamento disponível. Podemos dizer que é um processo não tão complexo, na medida que a decisão terá como base uma análise somente a factores objetivos e mensuráveis.
Por outro lado, a atração e retenção de talento prende-se com factores objectivos, mas também vários subjectivos, estes últimos difíceis de analisar e que, por isso, implicam um constante esforço para cativar e motivar a equipa.
Para além de procurarmos constantemente proporcionar boas condições de trabalho aos nossos colaboradores (factores objetivos), procuramos constantemente estabelecer práticas e desenvolver actividades que contribuam para a sua motivação e sentimento de pertença. Na A. Silva Matos Metalomecânica acreditamos que as nossas pessoas são o coração da empresa e, diariamente, tentamos refletir-lhes isso.

Considera que o salário é o fator mais importante para reter talento?
O paradigma da retenção de talento tem vindo a evoluir num sentido em que o salário, embora sempre importante, é uma das componentes do pacote remuneratório. Factores como regalias complementares associadas ao bem-estar pessoal, ao equilíbrio entre a vida profissional e familiar e a atenção à saúde são componentes cada vez mais valorizadas. Ainda que o salário possa ser o factor mais importante, ou um dos mais, é actualmente impossível ignorar essas tais regalias completares quando falamos de retenção de talento.

A empresa tem fechado parcerias com algumas universidades!
Desde sempre que o foco na qualificação e formação da nossa equipa foi assumido como um factor crítico de sucesso. Nesse sentido, o recrutamento de pessoas qualificadas e a sua contínua formação são essenciais, sendo que os protocolos com escolas e universidades, quer em frequência de estágios, trabalhos curriculares e, posteriormente, através de recrutamento, são ferramentas imprescindíveis. Actualmente, estamos com vários estágios curriculares a decorrer que resultam desses protocolos com as escolas locais e com universidades. Terminado o protocolo, importa salientar que uma taxa significativa de estagiários são recrutados para a empresa.

Como é que é encarada a temática da Sustentabilidade?
A empresa A. Silva Matos Metalomecânica tem, desde 1990, a certificação ISO 9001, que atesta o nosso sistema de gestão da qualidade (SGQ), tendo sido a 10.ª empresa portuguesa a obter tal distinção e a primeira na sua área de atuação.
Em paralelo, desenvolvemos ferramentas direccionadas para a protecção do ambiente e segurança no trabalho na década de 90, quando estes temas mal se discutiam, formalizando a sua certificação pelas normas ISO 1400 e OSHAS 1800, em 2005.
Assim, podemos afirmar com orgulho que a sustentabilidade em todos os seus domínios é um tema intrínseco à nossa filosofia de actuação como empresa, como equipa e como pessoas que pretendem ser um agente activo na proteção ambiental, em linha com os Objectivos de Desenvolvimento Sustentável, definidos pela Organização das Nações Unidas.

Como define o seu estilo de Gestão?
Pessoalmente, acredito que a definição de objectivos e a criação de ferramentas técnicas e de qualificação para o seu alcance responsabiliza as equipas e motiva a sua independência e crescimento. Procuro igualmente ter um modelo de gestão que proporcione às equipas um forte equilíbrio entre o bem-estar profissional e o pessoal, acreditando que só assim é possível contribuir para a saudável evolução das organizações. 

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