“A maioria das escolas tem lista de espera”: Corrida aos colégios privados faz esgotar vagas para novos alunos

A escassez de professores, as condições físicas precárias das escolas e a insegurança nos recreios devido à falta de assistentes operacionais têm levado um número crescente de pais a procurar alternativas no ensino privado. Contudo, conseguir uma vaga tem-se revelado um desafio, especialmente nas áreas metropolitanas de Lisboa e Porto, conforme revela a Associação de Estabelecimentos de Ensino Particular e Cooperativo (AEEP).

“A falta de vagas em Lisboa e no Porto deverá manter-se. Há novas ofertas, mas na verdade não esperamos uma diminuição da procura e a pressão deverá ser a mesma”, explica Rodrigo Queiroz e Melo, diretor-executivo da AEEP, ao Diário de Notícias (DN).

Queiroz e Melo salienta que o setor tem enfrentado uma procura superior à oferta nos últimos anos, uma tendência que se intensificou durante a pandemia. “A instabilidade no ensino público, especialmente devido à falta de professores, tem sido um fator relevante nas decisões das famílias”, afirma. Ele também adianta que, embora seja ainda cedo para ter dados concretos, espera-se um aumento na procura para o próximo ano letivo.

Apesar do aumento na oferta de estabelecimentos privados, em particular nas regiões do interior e Margem Sul de Lisboa, a capacidade de resposta ainda é insuficiente. “Apesar do crescimento no número de escolas, a maioria ainda tem listas de espera”, destaca Queiroz e Melo, acrescentando que “para novas inscrições, especialmente de alunos de outras regiões, a colocação tem sido mais desafiadora”.

Mesmo com os aumentos nas mensalidades, as famílias continuam a valorizar o investimento na educação dos filhos. “Os aumentos nas mensalidades têm sido mais notórios devido à inflação elevada. No entanto, as famílias entendem a importância de investir na educação dos filhos”, explica o diretor da AEEP.

Queiroz e Melo observa uma mudança no perfil das famílias que procuram o ensino privado, uma tendência que se intensificou durante a pandemia. “Mais famílias estão fazendo um esforço financeiro para inscrever os filhos no privado, muitas vezes com a ajuda dos avós”, diz ele.

O aumento da oferta de escolas com currículo internacional tem contribuído para o crescimento do setor. “Temos um número crescente de famílias estrangeiras com capacidade financeira a optar pelos nossos colégios”, conclui Queiroz e Melo.

Marco Carvalho, diretor do Colégio Júlio Dinis no Porto, relata ao mesmo jornal uma alta demanda pelo seu colégio, com uma procura que excede significativamente a capacidade de resposta. “Desde setembro de 2023, realizámos mais de mil apresentações do colégio e recebemos 1128 pedidos de informações”, revela Carvalho.

Carvalho partilha as preocupações sobre a instabilidade no ensino público e destaca a disposição das famílias em investir na educação dos filhos, mesmo enfrentando desafios financeiros. “As famílias estão mais dispostas a fazer esse esforço”, afirma.

Dados da Direção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência (DGEEC) indicam um aumento de cerca de cinco mil alunos no ensino privado em 2021/2022, em comparação com 2019/2020. Este crescimento contrasta com uma diminuição de quase 22 mil alunos no setor público durante o mesmo período.

Joana Marques, magistrada e mãe de três, exemplifica a crescente ansiedade dos pais na procura por uma vaga no ensino privado. “Fiz pré-inscrição em três estabelecimentos para 2025-2026. É uma situação angustiante, especialmente quando vemos a instabilidade e insegurança nas escolas públicas”, partilha Marques.

Já Alexandra e Ricardo Pereira, pais de duas crianças, contam que também enfrentaram dificuldades na procura de vagas e destacam a instabilidade do ensino público como uma das razões para optar pelo privado. “Acreditamos que no privado daremos mais oportunidades de futuro aos nossos filhos”, concluem.

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