“A iniciativa privada é o pilar da economia portuguesa”, diz Vice-Presidente Executivo da AIMMAP
Os setores metalúrgico e metalomecânico em Portugal estão a enfrentar o grande desafio da sua história, com a crise energética e inflacionária a exigirem agilidade às empresas e aos seus líderes para se fortalecerem e prosperarem num cenário desafiante.
A Executive Digest falou com Rafael Campos Pereira, Vice-Presidente Executivo da AIMMAP, para conhecer a realidade do setor metalúrgico e metalomecânico em Portugal, as oportunidades, os entraves, e também as perspetivas de futuro de um setor que caracteriza como tendo uma grande “audácia e resiliência”.
No dia em que se assinala o início da EMAF, na Exponor, o responsável admite que este é o maior evento português do setor industrial, que alavanca a aposta na internacionalização de tecnologias, na inovação da indústria e no conhecimento técnico especializado. “Assume, portanto, uma crescente importância no panorama industrial mundial e tem um papel fundamental para o posicionamento do METAL PORTUGAL em segmentos de maior valor acrescentado”
Quais os desafios que o setor metalúrgico e metalomecânico enfrenta no atual contexto económico, social e político?
Começaria por destacar dois desafios estruturais com os quais o setor há muito teve de aprender a lidar: a pesada estrutura fiscal e a escassez de mão-de-obra disponível para trabalhar na indústria.
Na verdade, a excessiva carga fiscal que incide sobre as empresas asfixia-as e absorve recursos que seriam muito importantes para efetuar determinados investimentos essenciais numa lógica de maior produtividade e maior competitividade. Isto é particularmente verdade no contexto nacional, em que mais de 90% das empresas são micro e PME.
Por outro lado, como é do conhecimento geral, o METAL PORTUGAL continua a apresentar um crescimento surpreendente e em 2022 voltou a bater um novo recorde de exportações, com 23.080 milhões de euros. Para continuar a crescer e a dar resposta à procura externa, o setor precisa de pessoas.
É fundamental criar condições para que haja mais mão-de-obra disponível para trabalhar na indústria.
Obviamente que, nos últimos anos, acresceram pesados obstáculos conjunturais, como a subida dos custos das matérias-primas e energéticos, a inflação, subida das taxas de juro, entre outros. Algumas medidas foram sendo tomadas para mitigar o efeito destes constrangimentos e, entretanto, o setor revelou mais uma vez enorme audácia e resiliência ao não se deixar vencer pelos referidos obstáculos e, em vez disso, continuar a crescer.
Quais as oportunidades que estes setores trazem e podem trazer para o país?
Este é um setor com uma importância nuclear no desenvolvimento económico do país, não só pelo efeito de arrastamento e de transferência de tecnologia e de conhecimento para tantos outros setores, como pelo impacto que tem na criação de riqueza.
Representa, obviamente, uma fatia muito importante das exportações do METAL PORTUGAL e no recorde de vendas ao exterior obtido em 2022. Um registo que reflete um conjunto de bens exportados que incorporam cada vez mais tecnologia e inovação, por esse motivo conseguem dar resposta a mercados e clientes mais exigentes.
É definitivamente um setor que faz escalar a proposta de valor, não só da oferta do METAL PORTUGAL como um todo, como da oferta nacional no seu conjunto.
Tendo em conta a grave crise económica e energética que assistimos, o que considera que deveria ser feito pelo Governo para apoiar o tecido empresarial?
A iniciativa privada é o pilar da economia portuguesa, nomeadamente através das exportações, que representam 49,9% do PIB. O estado não pode virar as costas às empresas quer nas políticas laborais, fiscais, ambientais, entre outras, quer no enquadramento do PRR e do PT2030, com os primeiros concursos lançados a menosprezarem a importância das empresas.
As empresas têm de ser uma prioridade da política nacional, que tem de saber criar condições de competitividade para aquela que é, seguramente, a parte mais relevante da economia, quer do ponto de vista estritamente económico, quer do ponto de vista social (o METAL PORTUGAL emprega cerca de 250.000 trabalhadores)
E o futuro?
O futuro é continuar a escalar no caminho do valor acrescentado, para isso, é fundamental acompanhar a dupla transição digital e energética, bem como qualificar e requalificar a força de trabalho, hoje, com mais importância do que nunca é crucial sabermos reter talentos (muito embora aqui o sistema fiscal, nomeadamente a taxa de IRS, jogue contra nós).
O METAL PORTUGAL quer continuar a competir entre os melhores, nos mercados mais exigentes e sofisticados, tornando-se um imperativo criar condições para aumentar a produtividade e a competitividade. Aliás, a AIMMAP apresentou recentemente o Plano de Ação e Concretização para o horizonte 2030, no qual identifica um conjunto de projetos a desenvolver em torno dos principais eixos estratégicos, nomeadamente, inovação e upgrading, qualificação empresarial, descarbonização e economia circular, atração, retenção e capacitação de talento, internacionalização e IDE.
Sabemos para onde queremos ir e este é o caminho que traçámos para que o setor continue a crescer.