“A IA permite que as empresas ajustem a sua estratégia com mais facilidade, tanto a nível nacional como internacional”, diz a Vice-Presidente da ACEPI
A Inteligência Artificial (IA) tem o potencial de transformar o panorama do e-commerce em Portugal, oferecendo novas possibilidades para personalizar a experiência do consumidor, otimizar estratégias e ajudar as empresas a competir a nível global.
Em entrevista à Executive Digest, Carla Pereira, Vice-Presidente da ACEPI e Diretora de Marketing e Comunicação da DPD, destaca como a IA pode personalizar as interações, analisando dados do comportamento dos consumidores para recomendar produtos de forma mais precisa.
De que forma acredita que a Inteligência Artificial (IA) pode acelerar o crescimento do e-commerce em Portugal nos próximos anos?
A Inteligência Artificial (IA) oferece inúmeras oportunidades para impulsionar o crescimento do e-commerce em Portugal. Uma das suas grandes vantagens é a capacidade de personalizar a experiência do consumidor e no atendimento automatizado e disponível a qualquer hora, através de assistentes virtuais. Ao analisar dados sobre o comportamento e as preferências dos utilizadores, a IA sugere produtos que correspondem às suas necessidades, o que acaba por aumentar a satisfação do cliente.
Outra área onde a IA pode contribuir significativamente é no planeamento e estratégia de marketing. Através de uma análise preditiva, as empresas podem antecipar tendências e ajustar a oferta consoante a necessidade e procura dos consumidores. A capacidade da IA de monitorizar stocks em tempo real e segmentar públicos-alvo de forma mais eficaz pode revolucionar o panorama do e-commerce em Portugal, criando oportunidades para um crescimento sustentável nos próximos anos.
De que maneira a IA está a ser usada para melhorar a personalização da experiência do utilizador nas plataformas de e-commerce?
A personalização da experiência do cliente é, sem dúvida, uma das principais vantagens que a IA pode oferecer, já que facilita a comunicação entre clientes e empresas, ajustando recomendações com base nos interesses e preferências de consumo. Esta análise em tempo real é realizada a partir das interações com a plataforma — tais como cliques, tempo gasto em cada página ou em compras anteriores —, permitindo que os sistemas de recomendação alimentados por IA apresentem produtos que correspondem melhor aos interesses de cada utilizador, criando assim uma experiência de consumo mais relevante e envolvente.
Do ponto de vista do vendedor, não posso deixar de mencionar o potencial dos algoritmos para personalizar campanhas de marketing. Isso não só aumenta a conversão, como também fortalece a fidelização, ao adaptar a forma como nos dirigimos ao consumidor.
De que forma a IA pode ajudar as empresas portuguesas de e-commerce a competir com grandes players internacionais?
Com a capacidade de identificar padrões de consumo e antecipar tendências de futuro, graças ao processamento de grandes volumes de dados, a IA permite que as empresas ajustem a sua estratégia com mais facilidade, tanto a nível nacional como internacional. Além disso, o facto de utilizarem a realidade aumentada nas suas vendas, possibilitam que os consumidores “experimentem” produtos à distância, mesmo a milhares de quilómetros. Da mesma forma, as empresas de logística e transporte têm adaptado os seus serviços para facilitar entregas e devoluções, tornando o e-commerce uma atividade cada vez mais global.
Considera que as PME portuguesas estão preparadas para implementar tecnologias de IA de forma eficiente no e-commerce?
É uma situação paradoxal. Muitas das pequenas e médias empresas já reconhecem a importância da digitalização e da rápida adoção de novas tecnologias para se manterem competitivas num mercado cada vez mais global, mas cerca de 30% ainda não fazem uso básico da internet, o que evidencia uma barreira significativa à adoção de novas tecnologias e ao crescimento do e-commerce.
Penso que ainda existem desafios consideráveis, como a falta de formação, orçamentos reduzidos para investir em tecnologias e alguma resistência à mudança. Contudo, o futuro parece promissor. De acordo com o mais recente estudo da ACEPI sobre o estado da economia digital em Portugal, já 17% das empresas nacionais utilizam IA, um valor que supera a média europeia.
Algumas PMEs estão a explorar soluções com IA, mas, para que possam realmente beneficiar desta tecnologia no e-commerce, é fundamental investir em apoio e formação, facilitar o acesso a ferramentas adequadas e proporcionar mentoria sobre como utilizar a IA de forma eficaz para impulsionar os negócios.
Quais são os desafios de segurança associados ao uso de IA no e-commerce, nomeadamente em termos de proteção de dados dos consumidores?
Devido à natureza sensível dos dados pessoais dos consumidores, a utilização da IA no e-commerce apresenta alguns desafios relacionados com a segurança, especialmente no que diz respeito à proteção de dados. Por este motivo, é necessário que as empresas implementem medidas robustas para salvaguardar os seus sistemas e mitigar riscos de ciberataques. De igual forma, no que diz respeito às transações financeiras, a encriptação de ponta a ponta é imprescindível.
Outro aspeto importante é a conformidade com normas de privacidade e a monitorização em tempo real para detetar possíveis violações de segurança, como ataques de phishing ou manipulação de dados, garantindo uma maior segurança digital a longo prazo.
Que impacto terá a IA na força de trabalho do setor do e-commerce? Haverá uma transformação significativa no tipo de competências procuradas?
A meu ver, à medida que as empresas começam a adotar tecnologias de IA para automatizar processos e aumentar a eficiência, é natural que algumas funções tradicionais sejam substituídas por soluções mais otimizadas. No entanto, este avanço tecnológico também abre portas para novas oportunidades de trabalho. Acredito que vamos testemunhar uma transformação nas competências mais valorizadas, com um foco crescente em áreas como desenvolvimento de software, machine learning, cloud computing e data mining.
A atuação em processamento de linguagem natural (NLP), que permite analisar sentimentos e desenvolver modelos de linguagem, como, por exemplo, chatbots, ChatGPT, será igualmente crucial. Por outro lado, e como mencionado anteriormente, com o aumento das ameaças à cibersegurança, o investimento em habilidades para detetar e proteger contra ataques cibernéticos tem crescido de forma significativa. Todas estas áreas serão essenciais para impulsionar o setor do e-commerce em Portugal, exigindo, sem dúvida, uma requalificação substancial da força de trabalho.