A era dos ‘supercentenários’: “A primeira pessoa que chegará aos 150 anos já nasceu”, revela especialista

Quando alguém felicita Maria Branyas por ser a mulher mais velha do mundo aos 117 anos, ela encolhe os ombros e responde que não é mérito dela, conta a sua filha. Esta catalã partilha com outras supercentenárias – pessoas com mais de 110 anos – a sensação de não ter feito nada de extraordinário para alcançar tal longevidade, além de uma boa genética, uma vida ativa e uma alimentação moderada. Este é o caso de Emma Morano, Kane Tanaka e Sarah Knauss, que também atingiram idades avançadas, e da recordista Jeanne Calment, que viveu até aos 122 anos.

Estas mulheres têm algo mais em comum: enfrentaram vidas difíceis, passando por guerras, recessões económicas e pandemias, como a recente COVID-19. Estes eventos são descritos como “compressão da mortalidade”, concentrando mortes de indivíduos nascidos em determinados anos. Quando Calment nasceu em 1875, a esperança média de vida era de 43 anos. No entanto, um estudo de 2023 publicado no PLOS One identificou um fenómeno de “postergamento”, sugerindo que os nascidos a partir de 1950 podem esperar viver até aos 125 anos.

Avanços Científicos e Novas Perspetivas

Investigadores acreditam que não será necessário esperar até à segunda metade do século XXI para superar o recorde de Jeanne Calment. José Alberto López, investigador do IRB Barcelona, estima que há 80% de probabilidades de alguém viver mais de 122 anos até 2050. Um estudo de 2021 na Nature Communications sugere que a resiliência das células humanas pode permitir uma longevidade de até 150 anos. David Sinclair, professor de genética na Escola de Medicina de Harvard, afirma, em entrevista ao El Español: “Acredito que a primeira pessoa a viver 150 anos já nasceu.”

A longevidade extrema levanta questões que vão além da medicina. O Parlamento Europeu já discute os impactos sociais e demográficos desta nova era. Mesmo com a reforma aos 70 anos, uma pessoa com 150 anos passaria mais de metade da vida reformada, implicando elevados custos sociais e de saúde. No entanto, especialistas clarificam que o limite vital não é o mesmo que a esperança média de vida. Estima-se que a média possa alcançar entre 120 e 125 anos, com alguns indivíduos excecionais atingindo os 150 anos.

O Papel da Geociência

O progresso científico e o aumento da prosperidade desde meados do século XX têm sido fundamentais para este aumento da longevidade. Um dos avanços mais promissores é o estudo do “relógio epigenético”. Este conceito refere-se a mecanismos metabólicos que podem acelerar ou retardar o envelhecimento, influenciando a saúde das células. Manter as células com um comportamento “jovem” pode atrasar doenças prevalentes na idade avançada, como o cancro e as doenças cardiovasculares e neurodegenerativas.

No IRB Barcelona, a pesquisa foca-se nas células senescentes, também chamadas de ‘células zombies’. Estas células atingiram o fim da sua vida útil mas resistem à morte, acumulando-se e produzindo substâncias tóxicas. A descoberta de fármacos senolíticos visa erradicar estas células, reprogramando o relógio epigenético e potencialmente retardando processos cancerosos e neurodegenerativos. Ensaios clínicos estão em andamento para tratar doenças de origem diabética e fibrótica.

Limitações e Realidades

Apesar dos avanços, os resultados em organismos simples nem sempre se traduzem diretamente para os humanos. Intervenções que duplicam a vida de vermes aumentam a longevidade das moscas da fruta em 40% e dos ratos em 20%, mas estas modificações genéticas não podem ser eticamente testadas em humanos. Além disso, eliminar todas as doenças relacionadas com o envelhecimento ainda deixaria um limite físico intransponível entre os 120-130 anos.

Os especialistas defendem que, além dos fármacos, a chave para a longevidade saudável está em manter uma vida ativa e equilibrada. Isso inclui atividade física e intelectual contínua, alimentação saudável, descanso adequado, atividades de lazer e uma forte vida familiar e comunitária.

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