“A energia é um fator produtivo imenso que faz mexer a sociedade”: Administrador da EDP Comercial aponta percurso da empresa pela transição energética

Miguel Fonseca, administrador da EDP Comercial, desafiado a refletir sobre os desígnios da economia portuguesa e os rumos a seguir com determinados objetivos, apontou as oportunidades colocadas pela transição energética, que têm servido de mapa-guia para a empresa, durante a sua intervenção na XXV Conferência Executive Digest.

Referindo o papel do setor energético na “entrega dos compromissos para a redução das emissões de gases com efeitos de estufa”, e perante os alertas de que “estamos a um aumento de 3 graus, em média, ao dia de hoje”, o responsável considerou que, neste sentido “estamos a fazer mal os trabalhos de casa”. “A Europa vai fazendo, mas há um mundo que tem direito à sua riqueza e acaba a fazer o offset do trabalho na Europa”, apontou Miguel Fonseca.

No âmbito dos compromissos internacionais de transição energética, Portugal “tem um papel muito relevante”. “É um dos países mais penetrados de energias renováveis ao nível da Europa, já compete com a Noruega, que tem muita energia hídrica. Nós temos um compromisso forte, de redução das emissões em 55% até 2030, de produção de energia renovável, de 35% de ganhos de eficiência energética e 65% de nível de independência energética.

O administrador da EDP comercial, na sua apresentação ‘As oportunidades da transição energética na década decisiva’, estabeleceu que a Energia “desempenha um papel fundamental na descarbonização e “é um fator produtivo imenso que faz mexer a sociedade”.

Miguel Fonseca considera que o consumo energético de renováveis já entregou em Portugal, referindo que, na Europa, “foi o país com menos volatilidade de preços, mesmo para as empresas continuamos a ter os preços mais competitivos a nível europeu”.

O responsável da EDP Comercial referiu ainda o papel da ‘Feed in tariff’ no controlo de custos setoriais, a importância do mercado de energia ibérico (que permitiu economias devido à penetração de renováveis em Espanha e o aumento da nova capacidade solar impulsionada pelo preço da eletricidade e ação individual.

“Quando falamos de transição energética, falamos em ‘verde’, eletrificação, mais eficiente. Tem de acontecer em todos os setores e indústrias. Todos temos de participar. Em Portugal, temos uma vantagem competitiva única a nível europeu, que é como os países do sul podem formar uma aliança para exportar hidrogénio verde para a Europa. Acelerar e descarbonizar não é só ao que temos, envolve também criar novos setores, não apenas transformar os existentes. Temos os próximos 10 anos, que serão marcantes sobre como reorganizar a economia verde. Quem ficar para trás terá menos hipótese para captar oportunidade”, avisou.

A Península Ibérica tem várias vantagens competitivas nesta transição: 300 dias de sol, recursos eólicos 5 a 10% acima da média  da UE, 30% da capacidade de produção de lítio estimada da UE a 2030, a base industrial a nível ibérico (segunda região com maior produção de automóveis na Europa) o facto de ser o 3.º maior produtor de aço, ter 2 milhões de engenheiros e cientistas, infraestruturas, ter 20% do tráfego portuário de contentores na UE e 25% de capacidade de importação de gás liquefeito da UE.

O administrador destacou dois vetores de investimento, no rumo ao futuro da transição energética e de um mundo mais sustentável. Por um lado, apostar no setor energético, trabalhar nas redes de transmissão, eletrificação, energias renováveis, biocombustíveis, biogás, bioquímicos e hidrogénio verde.

Por outro lado é necessária uma abordagem “menos tradicional”, a da reindustrialização com “aposta no aço verde, amoníaco verde, alumínio verde, plásticos verdes, veículos elétricos e baterias”, procurando um posicionamento pioneiro na Península Ibérica.

Perante a realidade, o que está já a fazer a EDP no caminho rumo à transição energética? Miguel Fonseca responde: “Em Portugal já temos 6 GW de capacidade renovável instalada, gerámos 7 mil empregos, fizemos mais de 15 mil milhões de investimento em 20 anos, e iremos investir mais 3 mil milhões até 2026 e temos 2 mil organizações apoiadas”.

O responsável deu ainda exemplos de projetos ‘utility scale’ que têm envolvido a EDP, como o WinfFloat Atlantic, projetos de energia solar flutuantes, Projeto híbrido no Sabugal e bombagem hídrica.

Miguel Fonseca referiu também o papel das empresas adotarem o papel de agente económico na sua transição, consumindo menos energia. “Os agentes económicos têm de saber como acionar determinados mecanismos, que levem os clientes a fazer estes movimentos [de transição energética”, disse, exemplificando com o caso da eletrificação da frota dos CTT.

“A transição energética é um desígnio pessoal da empresa, e deve ser de todas. Mas também temos de entregar mundo melhor a nível económico, mas de habitabilidade, satisfação, sustentabilidade”.

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