’10 de outubro castanho’: Movimento de mulheres que venceram o cancro da mama combate a “comercialização” do laço rosa

O movimento “19 de outubro castanho”, liderado por mulheres que superaram o cancro da mama, está a desafiar a crescente comercialização em torno do laço rosa, símbolo internacional de sensibilização para esta doença. Este grupo, que critica a trivialização e exploração comercial do cancro, promove uma visão mais autêntica e crítica da realidade vivida por milhares de mulheres em todo o mundo, muitas das quais se sentem alienadas pela forma como o cancro da mama é retratado.

Todos os anos, em outubro, campanhas de sensibilização sobre o cancro da mama inundam os media, lojas e redes sociais, impulsionadas pelo simbolismo do laço rosa. Estas campanhas, que à primeira vista parecem inofensivas e altruístas, são cada vez mais vistas como uma forma de pinkwashing, um termo usado para descrever o “lavar de imagem” de empresas que usam causas sociais para promover os seus produtos sem realmente contribuir significativamente para essas causas.

Segundo o movimento “19 de outubro castanho”, muitas destas empresas que se associam ao laço rosa lucram com produtos que contêm substâncias químicas nocivas, algumas das quais potencialmente ligadas ao aumento do risco de cancro da mama. Esta contradição tem gerado descontentamento entre ativistas, que apontam para a falta de transparência nas doações feitas por estas empresas para a pesquisa sobre o cancro.

Karuna Jaggar, diretora executiva da Breast Cancer Action, lidera uma campanha internacional chamada Think Before You Pink (“Pensa antes de comprar rosa”), que questiona o uso do laço rosa como ferramenta de marketing. Segundo Jaggar, o laço rosa tornou-se num “espejismo” que muitas vezes oculta os verdadeiros problemas enfrentados pelas mulheres com cancro da mama. “O que temos para mostrar dos biliões gastos em produtos com o laço rosa?” pergunta. “Muitas de nós já estamos cansadas de sensibilização. Queremos ação.”

A realidade vivida pelas mulheres com cancro da mama é muito diferente da imagem “rosada” promovida durante o mês de outubro. Para muitas, o diagnóstico representa uma batalha longa e dolorosa, envolvendo cirurgias, quimioterapia, radioterapia e terapias hormonais, além do impacto físico e psicológico devastador. “O cancro da mama não é cor-de-rosa. É um problema sério, uma luta pela vida,” afirmam as organizadoras do movimento “19 de outubro castanho”.

Neste contexto, o movimento acusa o octubro rosa de criar uma “atmosfera festiva” que não corresponde à gravidade da situação. Segundo elas, a doença não deve ser tratada como uma oportunidade de marketing, mas sim com seriedade e urgência. As suas exigências incluem diagnósticos precoces, mais acesso a tratamentos inovadores e uma maior transparência nas doações feitas pelas empresas que lucram com o laço rosa.

O movimento convocou manifestações em várias cidades, incluindo Barcelona, Madrid, Bilbao e Valência, com o objetivo de destacar estas questões e exigir mudanças. As ativistas esperam que a sua campanha traga à tona a necessidade de mais investigação pública sobre o cancro da mama, diagnósticos mais precoces e tratamentos mais acessíveis.

Além das manifestações, o “19 de outubro castanho” também anunciou a criação de um observatório de pinkwashing, para monitorizar e denunciar empresas que utilizam a imagem do laço rosa para benefício próprio, sem fazer uma contribuição significativa para a causa. “O octubro rosa tornou-se uma indústria milionária,” declaram as ativistas no seu site. “Mas é difícil encontrar informação transparente sobre as doações dessas marcas.”

Para muitas das mulheres envolvidas neste movimento, o foco excessivo em campanhas de sensibilização acabou por desviar a atenção das questões mais urgentes, como a necessidade de mais investigação científica e melhores tratamentos. Fran Visco, presidente da National Breast Cancer Coalition, partilha deste sentimento. “Não queremos ser parte do movimento cor-de-rosa,” afirma, referindo-se à necessidade de se concentrar em ações concretas para melhorar a vida das mulheres com cancro da mama.

Apesar de todas as campanhas de sensibilização, a taxa de incidência do cancro da mama manteve-se praticamente estável e continua a não existir cura para os casos em que a doença se espalha para outros órgãos. Como lembra Jaggar: “Muitas de nós estamos fartas de ver o laço rosa em todo o lado. O que queremos é uma verdadeira mudança.”

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