“Pedro Theotónio Pereira, o Outro Delfim de Salazar”, do historiador Fernando Martins

A Dom Quixote edita a biografia “Pedro Theotónio Pereira, o Outro Delfim de Salazar”, do historiador Fernando Martins, sobre o político e diplomata do Estado Novo que a doença afastou do caminho de uma eventual sucessão do presidente do Conselho de Ministros.

«Poucos meses depois do acidente que incapacitou Salazar, a irmã mais nova de Pedro Theotónio Pereira, Virgínia, visitou-o no Hospital da Cruz Vermelha. Muito fraco, mas ‘perfeitamente lúcido’ e ‘errivelmente inquieto’, a dada altura Salazar pegou com ‘muita força em ambas as mãos’ de Virgínia e `perguntou-lhe, angustiado, se era verdade que Pedro se encontrava doente… se não havia esperança que o Pedro pudesse…Não pode contar com ele foi a sentença proferida por Virgínia Theotónio Pereira. Na mesma altura, durante a crise política que se sucedeu à doença de Oliveira Salazar, o presidente da República, Américo Thomaz, que tinha a competência constitucional para escolher um substituto ou um sucessor para a chefia do Governo, não deixou de pensar, como testemunhou nas suas Memórias, que ‘muito possivelmente’ em Setembro de 1968, Theotónio Pereira era ‘a personalidade mais indicada para suceder ao doutor Salazar, se a sua saúde o tivesse permitido», Fernando Martins.

A obra com mais de mil páginas permite conhecer o percurso deste homem e político que atingiu o estatuto de sucessor de Salazar e perceber o salazarismo e o contexto internacional português em meados do século XX.

Pedro Theotónio Pereira (1902-1972) serviu o Estado (apenas com uma breve interrupção de alguns meses em 1950) desde que foi nomeado subsecretário de Estado das Corporações, em 1933, até 1963, quando deixou de ser embaixador em Washington, dias antes do atentado a John F. Kennedy, por estar cada vez debilitado com a doença de Parkinson que só lhe foi diagnosticada em 1968. Quando chegou, porém, à Subsecretaria de Estado das Corporações em abril de 1933, fazia política de forma ininterrupta desde o início da década de 1920.

Como diplomata, exerceu funções em postos‑chave como Londres, Madrid, Rio de Janeiro e Washington e, em momentos decisivos, da diplomacia portuguesa e da política internacional. Foi, também, entre 1939 e 1949, um dos poucos conselheiros de Salazar tanto para temas de política interna como de política internacional. Entre 1933 e 1937, na qualidade de subsecretário de Estado das Corporações e Previdência Social e, depois, como ministro do Comércio e Indústria, foi um dos mais jovens membros do Governo e um dos pais fundadores do regime, cabendo‑lhe um papel marcante na afirmação política e institucional do corporativismo.

Fernando Martins é licenciado em História e mestre em História do Século XX pela FCSH-UNL. Doutorou-se em História na Universidade de Évora (UÉ). É, desde 1993, professor de história contemporânea nesta Universidade. É investigador do CIDEHUS-UÉ e colaborador do IHC (FCSH-UNL). Publicou e faz investigação, participa em colóquios, conferências e seminários com trabalhos que analisam diferentes vertentes da história política portuguesa (1910-1976) e da biografia histórica do século XX lusófono.