Miguel Frasquilho, TAP: «Temos o desafio da pontualidade»
Nos últimos anos, várias foram as mudanças operadas no seio da TAP, ao nível da frota, experiência e digital. Contudo, há um tema sensível que tem sido muito mediatizado e ameaça a reputação da companhia: os atrasos nos voos. Na abertura da XVI Conferência da Executive Digest, que decorreu esta manhã no Porto, Miguel Frasquilho, administrador da TAP, não fugiu ao assunto. «Temos muitos desafios pela frente e um deles é o da pontualidade. Este foi um enorme problema no ano passado, que pesou de forma determinante nas contas da empresa, com as indemnizações (totalmente devidas) aos nossos passageiros, e provavelmente vai voltar a sê-lo este ano. Há que reconhecer, não nos escondemos deste problema e resta-nos pedir desculpas a todos os passageiros que já enfrentaram situações deste género», afirmou o gestor no palco do evento, que decorreu na Católica Porto Business School.
Mesmo assumindo a responsabilidade da companhia – que, garante, tem vindo a contratar pessoas e a criar novos departamentos para debelar o problema -, Miguel Frasquilho relembra também que «o maior constrangimento está relacionado com o Aeroporto de Lisboa, que está a operar no limite da sua capacidade». Nesse sentido, deixou o apelo para que «daqui a três ou quatro anos possa estar realizada a expansão do Aeroporto do Montijo, no sentido de ajudar a desimpedir o Aeroporto de Lisboa. Pelas tarifas que possam eventualmente ser mais vantajosas para alguns operadores – que não a TAP, que não tem intenção de sair da Portela. É bom que a operação no Montijo tenha luz verde o mais cedo possível», reiterou.
Quanto ao tema em debate na conferência da Executive Digest, a “Reinvenção dos Negócios”, Miguel Frasquilho começou por referir que a transformação digital e o desenvolvimento das novas tecnologias (como a Inteligência Artificial) obrigam a uma «reinvenção permanente» das empresas, sob pena de serem ultrapassadas pela concorrência, que pode chegar de players de diferentes sectores de actividade. Essa reinvenção, completou, pode decorrer de «uma necessidade ou da identificação de novas oportunidades de negócio». No caso específico da TAP, a empresa sentiu uma necessidade que a impeliu a transformar o negócio em diversas áreas. Isto porque «nos anos anteriores à privatização, a TAP passou um período muito difícil. Era uma empresa cronicamente deficitária, o que impossibilitava o único accionista (o Estado) de recapitalizar a empresa», recorda o administrador.
Apenas com a entrada de capital privado, em 2015 – hoje, a transportadora é detida em 50% por accionistas privados -, é que a TAP conseguiu colocar em marcha o seu processo de transformação. «Estamos em processo de renovação da frota, a desenvolver novas parcerias, a crescer em novos mercados e a apostar na transformação digital», enumerou Miguel Frasquilho.
No que diz respeito à renovação da frota de aviões, foi estabelecido um acordo com a Boeing, que já permitiu renovar uma grande parte da frota da TAP, apesar de «alguns atrasos» na entrega das aeronaves. Ainda assim, recentemente a TAP tornou-se a primeira companhia aérea europeia a operar o novo modelo A321 Long Range, um «avião de médio curso adaptado a voos de longo curso, o que permite reduzir os custos por cliente em cerca de dois terços» e permitirá à companhia ter voos directos entre Porto e Nova Iorque seis dias por semana, já a partir de Junho. «É um exemplo de uma mudança que só foi possível com a privatização da empresa», frisa o administrador.
Outra transformação nos últimos anos está relacionada com a alteração das tarifas, que tem permitido à empresa aumentar receitas. «Não somos uma low cost, nunca seremos, mas temos de competir com elas», admitiu Miguel Frasquilho. Também as parcerias com empresas como a Azul (Brasil), Jet blue ou United (América do Norte) têm permitido à TAP lançar novas rotas e tornar-se mais competitiva. Neste momento, a companhia procura um parceiro asiático que permita criar novas rotas para aquele continente, admitiu o responsável.
Noutra área, a aposta no digital tem sido materializada na renovação do website da TAP, numa nova aplicação móvel e em serviços como o chat personalizado com recurso a Inteligência Artificial. «Fomos pioneiros, com os novos Neo A330, a oferecer Wi-Fi nos voos de longo curso, possibilitando aos nossos passageiros o envio de mensagens ilimitadas», realça Miguel Frasquilho.
Para melhorar a experiência a bordo dos aviões da transportadora têm ainda sido desenvolvidos programas como o “Taste the Stars”, em parceria com sete chefs portugueses, ou “Wine Experience”, que dá a conhecer uma vasta selecção de vinhos nacionais. Criado há dois anos, o programa “Portugal Stopover” também marcou a inovação no sector.
«Este é um processo de transformação que, apesar de alguns percalços, tem sido bem sucedido e tem ajudado a posicionar Portugal como um destino turístico premium», conclui Miguel Frasquilho.
Texto de Daniel Almeida