O digital no futebol

Por Manuel Falcão, director-geral da Nova Expressão – Planeamento de Media e Publicidade

Recentemente, o New York Times publicou um artigo onde revelava uma faceta pouco conhecida da preparação do Liverpool, que foi o grande vencedor da Champions League este ano.

O mérito não é só do treinador, é também de um dos homens da equipa do clube, Ian Graham, doutorado em Física, e que esteve aliás na base da escolha de Jurgen Klopp para treinar a equipa. Graham aplica modelos matemáticos e uma sistemática recolha e análise de dados para ajudar o Liverpool a tomar decisões – nas contratações, nas tácticas de jogo, na preparação das grandes competições. Na realidade Ian Graham foi o ovo de Colombo que revolucionou o clube – sem ter os recursos financeiros de equipas como o Real Madrid, o Manchester City ou o Barcelona, o Liverpool socorreu-se da ciência como alavanca para o seu desenvolvimento. É uma nova atitude que está a despertar a curiosidade em todo o mundo e a revolucionar o desporto. Pela mão de Graham, um físico formado na Universidade de Cambridge, o big data saltou para o meio do relvado e o resultado é surpreendente.

O método desenvolvido por Graham permite estudar o comportamento de jogadores, analisar o seu potencial e ajudar a tomar decisões. Não há contratações sem o parecer de Ian Graham, e foi ele aliás a peça decisiva na contratação do treinador, mas também de jogadores como Naby Keita, um guineense que se destacou no campeonato austríaco, onde a sua performance foi estudada.

A relação de Graham com o treinador é curiosa. Pouco depois de chegar ao Liverpool, Jurgen Klopp conheceu o director de pesquisa do clube, que foi quem tinha recomendado a contratação de Klopp. Graham mostrou-lhe então uma série de dados do Borussia Dortmund, o anterior clube de Klopp. Jogo por jogo Graham mostrou um olhar alternativo sobre as estatísticas dos jogos – até de um desafio em que o Dortmund perdeu por dois a zero, apesar de ter dominado o jogo do princípio ao fim. Graham não tinha assistido ao jogo, limitou-se a compilar e estudar dados do Borussia e os números analisados mostravam que o estilo de futebol de Klopp era adequado ao que o Liverpool queria implementar na equipa. Foi com esses dados que Graham convenceu os dirigentes do Liverpool a contratarem Klopp e Graham ficou o seu braço-direito. O físico especializou-se ao longo dos anos na análise de dados de jogadores e conta com uma base de dados de milhares de futebolistas de todo o mundo. Aqueles que mais se destacam são recomendados e alguns, como Keita, acabam contratados pela equipa. Outro caso é o que envolve a contratação de Mohamed Sala que Graham achou que se complementava com o brasileiro Roberto Firmino. O entendimento entre os dois jogadores levou a que Salah marcasse 32 golos no campeonato inglês. A análise permite também definir a táctica de jogo. Graham provou que o lado direito do ataque do Liverpool fazia mais golos com cruzamento na área do que o lado esquerdo, levando Klopp a adequar a forma de jogo. O técnico alemão tem o cuidado de não inundar o balneário com estatísticas, mas explica a conclusão a que chegou e as mudanças que acha adequadas. E tem dado resultado

Uma nova forma de ter acesso a conteúdos fechados

A revista Wired, que pertence à Condé Nast, um dos maiores grupos editoriais especializado em revistas de prestígio, lançou a 1 de Junho uma nova forma de acesso a conteúdos fechados, reservados até aqui a assinantes. Ao longo do último ano a Wired conseguiu aumentar o número de assinantes digitais em 100 mil, o que transformou a paywall da revista num êxito. A primeira experiência aconteceu com a We Transfer. Normalmente os leitores não assinantes têm direito a quatro artigos por mês – agora podem ler um quinto artigo, com o patrocínio da We Transfer. Para a Wired esta campanha tem um duplo efeito: aumentar as receitas da publicidade e fomentar novos assinantes. Quanto à We Transfer, esta é a sua primeira grande campanha publicitária e a escolha recaíu numa revista conhecida por ser uma espécie de bíblia da informação sobre o mundo digital. Antes já o Washington Post tinha permitido que anunciantes patrocinassem o acesso a conteúdos pagos.

Este artigo foi publicado na edição de Junho de 2019 da Executive Digest.

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