Os Estados Unidos entraram em paralisação governamental (shutdown) depois de republicanos e democratas não conseguirem aprovar um orçamento federal. À meia-noite em Washington (05h00 em Lisboa), expirou o financiamento e entraram em vigor planos de contingência que suspendem serviços não essenciais e afastam centenas de milhares de funcionários públicos. A última tentativa para travar o bloqueio aconteceu no Senado, mas tanto a proposta democrata como a do partido do presidente Donald Trump foram chumbadas, confirmando um cenário que já não se verificava há sete anos.
O Gabinete de Gestão e Orçamento da Casa Branca confirmou, em comunicado, que “as agências afetadas devem agora executar os seus planos para um encerramento ordenado”. Estima-se que cerca de 750 mil trabalhadores fiquem em licença sem vencimento, com impactos que podem ir da suspensão de benefícios sociais à afetação das viagens aéreas. Serviços essenciais, como as Forças Armadas, aeroportos e forças de segurança, continuarão a funcionar, mas os funcionários não receberão salários até que o impasse político seja resolvido.
O que é uma paralisação governamental?
Uma paralisação ocorre quando o Congresso não aprova a tempo as 12 leis de apropriação que autorizam a despesa pública discricionária. Desde 1980, já se registaram 14 episódios semelhantes. Durante o bloqueio, serviços considerados essenciais — como a segurança social, o controlo do tráfego aéreo e as Forças Armadas — mantêm-se ativos, mas praticamente todas as outras funções da administração entram em suspensão.
Quem é afetado diretamente?
Funcionários públicos que desempenham funções não essenciais são colocados em licença sem vencimento. Já os trabalhadores em setores indispensáveis continuam em funções, mas sem remuneração até ao fim da paralisação. Embora, historicamente, os salários acabem por ser pagos retroativamente, o impacto no consumo destes trabalhadores é imediato, afetando também outros setores económicos.
Qual é o contexto político?
O bloqueio resulta de um impasse entre republicanos e democratas. Para aprovar uma medida temporária de financiamento, seriam necessários 60 votos no Senado. A proposta republicana obteve 55 votos a favor e 45 contra, mas ficou aquém do necessário devido à oposição unânime dos democratas. Estes exigem a manutenção de créditos fiscais ligados ao Affordable Care Act (Obamacare), enquanto os republicanos, alinhados com o pacote legislativo de Donald Trump, pretendem cortar despesas, incluindo apoios ao Medicaid. O líder democrata Chuck Schumer acusou os republicanos de empurrarem o país para a crise, recusando salvaguardar os fundos para a saúde pública.
Que impacto económico pode ter?
Economistas estimam que cada semana de paralisação reduza o PIB trimestral real em 0,1% a 0,3%. Num mês, a contração pode atingir entre 0,5% e 1,5%. Apesar de parte do consumo ser recuperado quando os salários são pagos, há perdas definitivas em despesas do dia a dia, como refeições fora de casa ou custos de transporte. Além disso, a suspensão da despesa discricionária, que representa 27% do orçamento federal, gera efeitos imediatos na atividade económica.
Que riscos existem para os mercados financeiros?
A paralisação agrava a perceção de risco sobre a dívida soberana dos Estados Unidos. Um aumento nas taxas de juro dos títulos do Tesouro pode refletir-se em subida do custo do crédito, incluindo nas taxas hipotecárias, num contexto já marcado por crise imobiliária. A suspensão de programas como o National Flood Insurance Program pode ainda bloquear empréstimos para compradores de casa. Outro risco é a interrupção da divulgação de estatísticas essenciais, que deixa os mercados sem referências e aumenta a incerteza para a Reserva Federal.
Há precedentes recentes?
Sim. Em 2023, foram necessárias três resoluções temporárias para evitar uma paralisação. Já no ano fiscal de 2025, iniciado em outubro de 2024, três medidas transitórias — em setembro e dezembro de 2024 e em março de 2025 — adiaram sucessivamente o problema, mas apenas por períodos limitados. Desta vez, o bloqueio tornou-se inevitável.













