Tendências 2022: Análise de João Duque, Professor catedrático do ISEG
Reunimos um conjunto de presidentes e CEO portugueses que nos ajudaram a traçar as perspectivas económicas para o país e empresas. E revelam também a medida que gostavam de ver debatida nos programas eleitorais do partidos
1. Quais as perspectivas para 2022 para o País, Economia e no seu sector de actividade?
Do ponto de vista económico, o ano de 2022 é um ano que se prevê profundamente influenciado por quatro ou cinco variáveis críticas: a inflação na Europa, os PRR europeus, a evolução das ondas pandémicas, as relações geopolíticas entre a Rússia e a União Europeia e os resultados eleitorais em Portugal.
Hoje, há a nítida consciência de que Portugal, a manter o caminho de desenvolvimento económico que tem tido vai entrar num perigoso caminho de empobrecimento arrastado por uma população que envelhece velozmente, que não é produtiva e que quer um nível de vida e de assistência que o produto não vai providenciar. Por isso, até o PS sente que o seu modelo falhou e que temos de mudar. As boas empresas podem e pagam mais aos seus trabalhadores. Mas um Estado que olhou para a distribuição e não para o crescimento seca e morre. O modelo que os governos de António Costa escolheram, assente na redistribuição de rendimentos sem a sua geração acabarão por nos despenhar assim que as taxas de juro comecem a subir. E vão subir.
A inflação que hoje é de 5% na Europa vai acabar por arrastar o BCE para uma alteração da sua política monetária impondo uma alteração das taxas de referência do banco central. Contrariamente ao que a sua presidente Christine Lagarde esperaria, a subida estrondosamente acentuada da inflação irá provocar uma provável subida das taxas dos depósitos junto do BCE (que hoje estão nos -0,5%) para terrenos positivos. Se tal suceder isso elevará imediatamente a taxa Euribor e por esta via assistiremos a uma profunda alteração da vida das famílias, das empresas e do Estado. A correlação histórica entre as taxas de depósito no BCE e as taxas no mercado interbancário é de 98% pelo que assim que Christine Lagarde anuncie uma alteração daquelas taxas directoras, as taxas de curto prazo do mercado interbancário tenderão a acompanhar essa evolução. Sublinhe-se que já estamos a assistir à subida das taxas de longo prazo (+0,3% num mês!).
Consequentemente, as prestações para amortização das hipotecas das famílias, quase todas indexadas à Euribor, irão subir o que, a par da subida dos preços da energia, transportes, etc. fará reduzir o rendimento líquido dessas famílias.
Sem tanto rendimento para gastar, e com uma economia excessivamente dependente do consumo, temo que as melhores expectativas de crescimento estejam comprometidas. Por isso acredito que um crescimento de 5,1% já seja um crescimento notável. Mais do que isso será miragem.
Sublinhe-se que este crescimento é assente no pressuposto de uma recuperação muito significativa do turismo, o que só sucederá quando as ondas pandémicas deixarem de nos afligir. É isso que dou por adquirido.
Por fim, é ainda preciso que a Rússia não estrangule o fornecimento de gás à Europa e que se reestabeleçam as cadeias logísticas para os níveis que tínhamos em 2019. Sem que tudo isto se conjugue no mesmo sentido nem 4% cresceremos.
2. Que medida gostava que constasse nos programas dos partidos para as eleições legislativas de Janeiro 2022?
Gostava de ver reconhecido o papel e incentivado o recurso ao mercado de capitais como instrumento de financiamento de empresas e de colocação de poupança das famílias. O mercado de capitais é o maior espaço de liberdade e de assunção de responsabilidade. E é isso que necessitamos para o desenvolvimento de uma cultura de risco e recompensa sem vergonha.
Artigo publicado na revista Executive Digest n.º 190 de Janeiro de 2022