Jorge Rebelo de Almeida, Grupo Vila Galé: As maiores mudanças na Gestão em Portugal

1. Quais os grandes desafios ao nível da Gestão, nestes últimos 15 anos?

Na nossa área de actuação, hoje, tal como há 15 anos, continuamos a ter de lidar com uma burocracia excessiva que por vezes só empata e nos impede de desenvolver ainda mais projectos. Temos também batalhado para que o país dê mais atenção ao interior, um desafio a que a própria Vila Galé tem respondido com investimento hoteleiro em zonas como Elvas, Alter do Chão ou Manteigas. Por fim, destacaria o desafio de lidar com sucesso com as crises dos últimos anos: o pós 11 de Setembro, a crise financeira iniciada em 2008 que se arrastou até 2015 e agora actual crise pandémica. Mas as maiores dificuldades de gestão centram-se: na imprevisibilidade, na insegurança, na impossibilidade de planear a médio/ longo prazo por sucessivas alterações legislativas (designadamente em matéria fiscal), na falta de reconhecimento da importância das empresas na criação de riqueza para o país, na incapacidade de implementar as reformas que todos sabemos serem indispensáveis para dar um salto qualitativo no desenvolvimento do país; e a ausência de um desígnio nacional que bem poderia ser o de melhorar condições de vida dos portugueses e reforçar a sustentabilidade em toda a linha.

2. Que principais mudanças nas empresas, e no seu sector em particular?

O turismo e a hotelaria, principal actividade da Vila Galé, estão em constante mutação e são dos sectores mais dinâmicos da economia a nível global.

Na última década e meia assistimos a inúmeras mudanças como por exemplo:

  • Democratização do transporte aéreo e aposta nas companhias low cost, o que, juntamente com a expansão das ditas transportadoras tradicionais, contribuiu para por mais gente a viajar pelo mundo;
  • Diversificação dos destinos turísticos e crescente interesse pelo que é genuíno e diferente. Sabemos que hoje, quem viaja, quer conjugar uma boa experiência de deslocação (avião, comboio, cruzeiro, carro) e alojamento, com gastronomia local e diferentes produtos: desde o sol e mar, ao ecoturismo, ao turismo cultural, de compras, de saúde, desportivo (golfe, correr maratonas, assistir a eventos desportivos). Ou seja, uma mesma viagem tem várias vertentes e a oferta e promoção turística têm cada vez mais isso em conta;
  • Massificação do uso da internet na pesquisa, compra e avaliação de viagens e na promoção turística. A digitalização neste sector observa-se na forma como os consumidores escolhem destinos e hotéis e na maneira de comprar, onde é cada vez maior o peso das agências e plataformas online, e, por fim, na partilha das suas experiências nas plataformas de comentários e redes sociais;
  • Crescentes e urgentes cuidados ambientais que deverão fazer parte de qualquer actividade turística, ao nível operacional e dos impactos no meio-ambiente. Neste ponto, a sustentabilidade, a redução das pegadas e a procura de energias verdes deve assumir-se como prioridade;
  • Crescimento acelerado da oferta de alojamento local, sobretudo nos centros das cidades e surgimento de produtos turísticos de nicho.

Neste contexto, ao longo destes 15 anos, as empresas têm também passado por processos de adaptação de modo a corresponder às expectativas de todos, de clientes a colaboradores. Aqui, a formação das equipas tem sido uma ferramenta essencial. Mas, para acompanhar as tendências, as organizações tornaram-se mais ágeis, mais digitais, menos hierárquicas, apostando na inovação, sem descurar a solidez financeira e o cumprimento dos compromissos assumidos com todos: colaboradores, fornecedores, parceiros de negócio.

Na Vila Galé é assim que temos agido desde sempre. Olhando para os últimos 15 anos, o grupo passou por vários momentos de expansão em Portugal e no Brasil, onde tem hoje 27 e 10 hotéis, respectivamente. Por exemplo, estreamos a marca Collection em 2013, no Vila Galé Collection Palácio dos Arcos, o nosso primeiro cinco estrelas em Portugal. Reabilitámos inúmeros imóveis históricos, como o Vila Galé Collection Braga, edifício do século XVI e antigo hospital de São Marcos. Ou, já no âmbito do programa Revive, o antigo Convento de São Paulo, hoje Vila Galé Collection Elvas, e vários espaços na Coudelaria de Alter, onde temos o Vila Galé Collection Alter Real. Além da praia, cidade e campo, chegámos também à montanha e ao nosso primeiro destino de neve com a abertura do Vila Galé Serra da Estrela, em Manteigas, no ano passado. De facto, e embora sem dar passos maiores do que a perna, estivemos sempre a fazer coisas, acelerando a nossa aposta em reabilitar património histórico que estava a degradar-se, dando-lhe um novo uso gerador de emprego e riqueza. E intensificámos a nossa aposta no interior do país, puxando por regiões que têm bons argumentos turísticos pela sua oferta cultural e gastronómica, por exemplo.

Também na área agrícola demos passos importantes com a consolidação da marca de vinhos e azeites regionais alentejanos Santa Vitória, a construção de um lagar de azeite e de uma central de frutas na nossa herdade perto de Beja e, mais recentemente, o lançamento dos vinhos Val Moreira, no Douro.

O sector do turismo em todas as suas vertentes teve um crescimento incrível nos últimos anos, sendo mesmo o motor do desenvolvimento do país após a crise que se iniciou em 2008. O grau de profissionalismo dos agentes do sector valorizou-se. A oferta de alojamentos, serviços em geral, gastronomia, animação cultural e lúdica, etc., atingiu níveis de qualidade bem elevados e com uma enorme diversidade que são bem retratadas no “Boa Cama Boa Mesa” do Grupo Impresa. É outro país turístico!

Aos que nos últimos anos antes de pandemia “reclamavam” do excessivo crescimento do turismo, gostaria só de dizer que bom seria para Portugal se os restantes sectores da actividade económica tivessem crescido ao mesmo ritmo.

3. Em que medida é que a Executive Digest serviu de “ferramenta” para os gestores portugueses?

Em primeiro lugar, muitos parabéns pelos 15 anos da revista. A Executive Digest veio de facto fazer a diferença na imprensa especializada dedicada à economia, gestão e empresas portuguesas. Sendo um ponto de encontro da comunidade empresarial nacional, mas também dando muita atenção ao contexto internacional, a Executive Digest tem sido essencial para partilhar e conhecer experiências e acompanhar tendências. É, ao mesmo tempo, a voz dos empresários, mas também uma ferramenta a ter em conta no processo de decisão e liderança, graças à sua isenção e rigor, à pluralidade de vozes e à inovação que promove. Ao longo destes 15 anos, a Executive Digest tem contribuído para fazer e contar a história do tecido empresarial português, dando espaço ao que é nacional e bem-feito.

Este artigo faz parte do Tema de Capa publicado na Revista Executive Digest n.º 181 de Abril de 2021

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