Accenture: A cloud é hoje vista como um aspecto crucial para o negócio e até uma questão de sobrevivência

Como se prevê que venham a evoluir as empresas no âmbito da inovação tecnológica nesta fase de pós-pandemia?

Pela primeira vez na história, uma pandemia desta magnitude não foi uma enorme calamidade social, e isso deveu-se em larga medida à inovação tecnológica, que provou uma vez mais o seu papel vital na evolução e resiliência da sociedade humana e das nossas economias. Os operadores logísticos em Portugal viram o volume de transporte diário subir para níveis nunca antes vistos. No retalho, as suas plataformas de comércio electrónico mostraram-se um pilar fundamental. O homebanking permitiu aos bancos manterem a relação com os seus clientes. Todos encontrámos online os meios para conseguirmos continuar em contacto social e laboral, a educar os mais jovens e a dar assistência médica possível para minimizar riscos. A inovação tecnológica reduz o risco operacional e aumenta as fontes de receita, mesmo perante grandes adversidades.

Acredito que no pós-pandemia será vista de forma ainda mais séria e haverá maior motivação para investir em tecnologia, enquanto promotora de um aumento de resiliência da empresa e da sua viabilidade financeira e produtividade, porque dissocia o factor físico do humano, e potencia novas e melhores formas de comunicação e colaboração. Se, durante a pandemia, muitas organizações foram fortemente impactadas e, por isso, incapazes de encararem a inovação tecnológica via adopção e investimento, já na fase pós-pandemia veremos um ciclo de adopção de novas tecnologias acelerado. E dar-se-á por vectores tecnológicos, que esta pandemia demonstrou serem ma- duros e relevantes. Refiro-me a tecnologias de virtualização do posto de trabalho, acessibilidade à internet e virtualização de capacidade computacional e armaze- namento em cloud, cibersegurança, mobilidade e IoT, tratamento de informação e inteligência artificial.

O boom de transformação, que tivemos nas empresas e no sector público, nos últimos anos, vai continuar?

O Top 3 de países que lideram a inovação tecnológica (Suíça, Suécia, Estados Unidos) são os mesmos há dez anos, segundo o Global Innovation Index, publicado em Setembro de 2021 pela World Intellectual Property Organization. Nesse mesmo estudo, Portugal subiu no mesmo período dois lugares para a 31.a posição. Isto significa que o boom de transformação em Portugal deve acelerar sob pena de começarmos a regredir e perdermos a criação de valor para a nossa economia. O estudo “Future Systems” da Accenture revela que o Top 10 das empresas líderes na evolução tecnológica estava, entre 2015 e 2018, a crescer na adopção de tecnologia duas vezes mais rápido que as demais, uma taxa que acelerou para cinco vezes mais durante a pandemia. Nos trinta anos de 1992 até hoje, vimos booms sucessivos e vários deles ainda sem fim à vista, como o crescimento da internet, do comércio electrónico, das comunicações, que já estão na era espacial, a mobilidade eléctrica, os wearables de saúde e bem-estar, a explosão da tecnologia blockchain no sector financeiro e, claro, a biotecnologia, cujos frutos bem conhecemos na criação das vacinas para a Covid-19.

Qual o papel da implementação do 5G em Portugal no processo de transformação das empresas?

A implementação do 5G não é mais do que o início da ubiquidade de rede, uma vez que objectos, pessoas e computadores estarão online. Sempre. O 5G traz três principais inovações para as empresas:

  • Comunicação massiva entre máqui- nas (mMTC) através de IoT em áreas de cobertura mais densas; Maior largura de banda com strea- ming de alta-definição (8k) e down- loads a alta velocidade;
  • Comunicações ultrafiáveis de baixa latência ao nível do que já se experiencia sobre fibra. No estudo da Accenture “Accelerating the 5G Future of Business”, mais de 61% dos CEO inquiridos estão convencidos de que, com o 5G, dentro de dois anos: terão dispositivos móveis 5G para dar aos colaboradores acesso a aplicações vitais com maior velocidade e fiabilidade e transformar a estação de trabalho;
  • a capacidade de trabalho remoto poderá ser plena; simplificará as configurações de rede;
  • permitirá a implementação de monitorização e controlo de equipamentos remotos 24/7;
  • permitirá criar capacidades de reacção a situações de alerta com equipamentos ou pessoas com novas capacidades de resposta por via de tecnologias de comunicação mais avançadas.

Com o 5G podemos ter sensores e actuadores em unidades de cuidados intensivos, automóveis, dispositivos de segurança, capazes de comunicar em cloud, passando dados a máquinas de apoio à decisão em tempo real com inteligência artificial. Possibilita, por exemplo, a realidade aumentada, ou suporte em tempo real a agentes de segurança. Em última análise, o 5G vai mudar a forma como os trabalhadores efectuam o seu trabalho com importantes aumentos de produtividade, eficiência operacional, aumento de segurança física e satisfação no trabalho. São resultados relevantes para a economia nacional.

Como podem as empresas começar, desde já, a aproveitar o potencial revolucionário do 5G?

Considerando que estamos a dois ou três anos de ter a plena capacidade em Portugal, se ainda não começaram, agora é o mo- mento indicado. Vejo três acções chave a curto prazo, que se complementam: Primeira, se não tem conhecimento sobre como o 5G pode ajudar o seu negócio, ou não chegou a conseguir formular um conceito e um plano, é útil apoiar-se nos players de mercado que disponibilizam soluções que trazem valor para o seu sector de operação, para ajudar na reflexão e a traçar uma visão a curto/médio prazo com um plano de negócio, de iniciativas e de investimento. Segunda, colocar em marcha iniciativas que modernizem a tecnologia, em especial a focada em workplace, IoT, plataformas de experiência com mobilidade nas áreas de cliente, vendas e serviço a clientes, dados e analítica, com a correspondente modernização da infraestrutura para cloud. Terceira, tendo clareza sobre casos de uso, aproveitar a cloud para colocar de forma rápida pilotos a cor- rer para ganhar experiência, aprender e preparar-se para movimentos mais assertivos. Neste contexto, já se observa no nosso mercado a implementação e operação de novos casos de uso de indústria, demonstrando o potencial da tecnologia, mas também a sua monetização. No seguimento desta terceira linha de actuação é o que outras companhias como a Nokia, Shell, Lockheed Martin e Bosch estão a fazer com aumentos de 40% em eficiência operacional, 10 a 20% de aumento de produtividade, 45% de redução de inspecções de qualidade em fábrica e 10 a 20% de aumento de tempo de vida útil de equipamento fabril.

Com a chegada do 5G faz ainda mais sentido uma migração em pleno para a cloud?

Já fazia sentido antes da chegada do 5G e, se quiserem evoluir o negócio tirando partido do 5G, é vital. O 5G assenta em si numa tecnologia cloud, onde há um desacoplamento da infraestrutura física e da componente lógica de rede (software), permitindo a toda a sua infraestrutura ser resiliente e ter funções de auto healing em caso de disrupção, garantindo altos níveis de disponibilidade. As empresas deveriam seguir o mesmo modelo, migrando para a cloud, para assim terem uma agilidade no lançamento de novas ofertas e integração a novas tecnologias. É importante perceber que há vagas de inovação tecnológica no horizonte que estão todas construídas sobre cloud e que estarão acessíveis a quem estiver preparado. Falo de Blockchain e Decentralized Finance por exemplo. A prazo, continuar com um “data center” próprio será insuficiente e não vai permitir tirar máximo partido do 5G, impossibilitando acompanhar a inovação tecnológica que o mercado exige.

De que forma a cloud é um catalisador para a reinvenção do negócio?

A cloud permite verdadeiramente pensar o mercado à escala global e oferece uma incomparável agilidade, time to market e aceleração do ciclo ideação-realização da inovação tecnológica. Existem diversas formas de usar a cloud (pública, privada, SaaS, PaaS, IaaS) e, em cada uma delas, com inúmeras soluções maduras que permitem inovar mais rápido. Hoje os automóveis com a digitalização, sensorização e o facto de estarem conectados em cloud passaram soluções e problemas para o lado do software que, em cloud, permite que o veículo forneça dados e se introduzam melhorias ao funciona- mento da viatura por update online. A cloud permite pensar soluções que potenciam uma maior integra- ção e desacoplamento de hardware e software, e dessa forma construir, modificar e lançar soluções a uma velocidade maior. Permite escalar de forma transparente e muito rápida a tecnologia para responder ao cresci- mento do negócio. É a cloud que permite, por exemplo, o funcionamento das plataformas de streaming que conhecemos hoje. É também a cloud que potencia a profunda transformação no sector de serviços de saúde, facilitando, por exemplo, o acesso ao certificado de vacinação através de aplicação móvel.

Que aspectos devem as empresas ter em conta na definição de uma estratégia baseada na cloud?

Existem dois aspectos fundamentais que, não estando firmes, destroem qualquer estratégia, e um terceiro que, não estando salvaguardado, contribuirá para as conclusões erradas. O primeiro consiste em perceber bem o seu propósito e proposta de valor do negócio e como a cloud pode viabilizar essa agenda, e, acima de tudo, não assentar a estratégia cloud numa experimentação tecnológica como um fim em si mesmo, mas sim fazê-lo como resposta a um desafio de negócio para que possa gerar valor e financiar a sua evolução. O segundo aspecto é rodear-se de quem possa ajudar na transição para a cloud. Gerir esta tecnologia e tirar partido dela significa mudar metodologias, ferramentas de trabalho, novos skills e novas práticas de gestão e financeira. O terceiro tem que ver com o custo da cloud e é algo que precisa de ser governado para produzir os efeitos desejados – como em tudo nos negócios, onde há uma fonte de custos é preciso ter quem na organização as- segure a gestão contínua e a optimização dos custos de cloud, para que produzam o efeito desejado.

Quais as vantagens competitivas da migração em pleno para a cloud?

A migração em pleno é uma estrela do Norte que guia os profissionais de IT. Para negócios que já operam com maturidade, é um caminho progressivo, pela simples razão de que há vertentes tecnológicas onde há mais valor em migrar para cloud a curto prazo (e.g., Workplace, Marketing, Vendas, Comércio Electrónico, Serviço a Cliente), em especial as que poderão introduzir novas receitas, ampliar mercado ou produtividade. A cloud confere uma enorme resiliência às empresas assente em quatro vantagens competitivas que a definem e diferenciam de outras abordagens: Elevada preparação para resistência ao desastre, através da computação e armazenamento distribuídos, e a capacidade de activar redundâncias activas ou passivas da solução, conferindo uma enorme resiliência que muito poucas empresas conseguem, por si só, assegurar; Elasticidade das aplicações de suporte ao negócio que conseguem responder rapidamente a subidas sazonais, picos de demanda, flutuações em cargas de trabalho, sejam para aumentar ou para reduzir a capacidade computacional; Maior velocidade para responder ao negócio e mercado. Com uma infra- -estruturação cloud, o tempo necessá- rio para implementar, mudar, testar e lançar projectos é mais reduzido e de forma visível. As soluções disponíveis em cloud permitem-nos, aliás, come- çar a ensaiar ideias, iterar, pilotar, testar, levar a MVP e escalar de uma forma bastante rápida e com custos muito controlados; Elevado alinhamento da base de custo tecnológica à configuração do negócio, permitindo retirar benefí- cios de escala com o custo de IT.

De que forma a Accenture pode ajudar as empresas nesta migração e na sua transformação futura?

De muitas formas. Oferecemos capacidades de Estratégia, Negócio, Marketing Digital, Experiência e Criatividade, Tecnologia e Operação, e aplicamo-las em conjunto nas iniciativas que desenvolvemos juntamente com os clientes e todas as suas áreas de negócio. Ajudamos os nossos clientes a encontrar respostas a um conjunto de questões como, por exemplo: “Como posso transformar o meu negócio com cloud?” ou “Que soluções devo considerar para suportar a nova ideia de negócio?”; “Como posso manter os custos de exploração cloud controlados?” ou “Como me organizo para conseguir responder a modelos mais ágeis e cloud de entrega de soluções?”; “Como devo migrar as aplicações que tenho para cloud? ‘Lift and shift’, recodifico, reimplemento, substituo?”; Ou ainda outro tema tão relevante, como gerir a segurança, protecção de dados e risco operacional ao aumentar a exposição na cloud.

Ler Mais





Comentários
Loading...