«Liderar a transição energética sempre foi um objectivo da EDP»
No mais recente Plano Estratégico, apresentado em Fevereiro de 2021, a EDP assumiu dois grandes compromissos: eliminar a produção a carvão até 2025 e ser 100% verde até ao final da década – objectivos que levam a que cerca de 19 mil milhões de euros do investimento global previsto até 2025 sejam em energias renováveis. Em entrevista, fonte oficial explica os principais desafios e oportunidades na aceleração da transição energética.
Até 2050, o mundo estará a consumir três vezes mais energia eléctrica do que hoje. Nessa altura, a descarbonização e a electrificação serão palavras de ordem. Nesse sentido, quais os principais desafios para o sector da Energia e qual o papel da EDP na aceleração da transição energética?
A transição energética é hoje um processo urgente e imparável com impacto na vida das empresas, das comunidades, de todos os cidadãos. E, como tem sido reconhecido por várias entidades, como a Comissão Europeia ou a Agência Internacional de Energia, acelerar este processo é decisivo, não apenas para combater os efeitos das alterações climáticas, mas também para garantir a estabilidade e a segurança do mercado energético.
A estratégia tem de passar pela descarbonização e pela aposta nas energias renováveis, um caminho que a EDP antecipou há muito com o objectivo de ser neutra em carbono e totalmente renovável até 2030. E a electrificação da economia está aqui perfeitamente identificada como uma necessidade absoluta no contexto de uma descarbonização acelerada.
No mais recente Plano Estratégico, apresentado em Fevereiro de 2021, a EDP assumiu dois grandes compromissos nesse sentido: eliminar a produção a carvão até 2025 e ser 100% verde até ao final da década – objectivos que levam a que cerca de 19 mil milhões de euros do investimento global previsto até 2025 sejam em energias renováveis. Também no Compromisso para a Transição Climática 2030, a EDP assumiu a missão de promover a energia limpa ao mesmo tempo que opera de forma sustentável nas três dimensões do ESG (Environment, Social and Governance).
Quais os principais desafios da empresa para combater as alterações climáticas, melhorar a segurança energética ou potenciar o crescimento económico?
O mais recente relatório do painel intergovernamental sobre alterações climáticas (IPCC), dedicado aos “Impactos, Adaptação e Vulnerabilidade” deixa um alerta muito claro: já não se trata de prevenir as alterações climáticas, mas de saber quais as medidas que devem ser tomadas para nos adaptarmos às consequências do aquecimento global e limitar os seus efeitos. A transição energética tornou-se, por isso, numa corrida contra o tempo.
Um dos grandes desafios que temos pela frente é, sem dúvida, a descarbonização, onde o caminho é claramente orientado para a produção de energia renovável, mas também para outras áreas, como a do petróleo e gás, para as quais há que encontrar alternativas que minimizem o seu impacto ambiental. Na próxima década, a principal evolução poderá estar na velocidade de desenvolvimento de gases renováveis como o hidrogénio verde, uma solução que poderá complementar a electrificação da economia em sectores onde essa transição é mais difícil – casos da indústria pesada ou dos transportes de longo curso.
Este tema do desenvolvimento sustentável não é novo para a EDP – tem sido, aliás, um dos eixos centrais da sua estratégia e da expansão do negócio. Através dos investimentos da EDP e de uma abordagem de responsabilidade social aprofundada, a EDP tem contribuído para nove dos 17 Objectivos de Desenvolvimento Sustentável da Agenda das Nações Unidas para 2030. Liderar a transição energética sempre foi um objectivo e foi nesse sentido que o negócio se foi construindo e desenvolvendo, sendo hoje reconhecidamente um exemplo entre as companhias de maior dimensão a nível global.
A EDP Renováveis é líder mundial na geração de energia eólica e um dos objectivos estratégicos da companhia é crescer e diversificar as áreas de negócio. Que projectos gostariam de destacar para 2022?
A trajectória pioneira e sólida em energias renováveis tem permitido à EDP Renováveis consolidar a experiência e crescimento em tecnologias mais maduras, como a eólica (onshore e offshore), e diversificar o seu portefólio. Por exemplo, a companhia conta já actualmente com vários projectos em solar e o objectivo para os próximos anos é continuar a expandir a carteira neste segmento a nível mundial, desenvolvendo uma mistura equilibrada de tecnologias.
No que diz respeito ao hidrogénio, a EDP acredita que se tornará ainda mais importante nos próximos anos – é, sem dúvida, outra das apostas da companhia a longo prazo. Além disso, a crescente penetração das energias renováveis exige cada vez mais a integração com sistemas de armazenamento para proporcionar a flexibilidade necessária ao sistema e favorecer a integração das energias renováveis. Em 2018, foi inaugurada uma instalação pioneira de armazenamento de energia eólica no parque eólico de Cobadin, na Roménia, e desde então têm sido desenvolvidos outros que têm permitido desenvolver know-how numa área-chave para a transição energética e que se pretende replicar em todos os mercados onde a empresa está presente.
Por último, destacar ainda que a empresa está apostada em potenciar a hibridização, que permite promover a complementaridade entre diferentes tecnologias renováveis, já que representa uma alavanca para o crescimento futuro, que permitirá à EDP optimizar a utilização das suas infraestruturas de forma sustentável e aumentar a rentabilidade.
O Grupo EDP está a desenvolver centrais eólicas marítimas em vários países, mas também em Portugal. Podem revelar um pouco mais sobre estes projectos?
O segmento eólico offshore é estratégico para a EDP e uma das tecnologias com crescimento mais rápido em todo o mundo, em parte, devido à urgência de transição energética, para a qual o grupo tem contribuído de forma decisiva. A EDP, através da OW (joint venture EDPR/Engie), continua a crescer neste segmento. Actualmente tem em carteira projectos de eólica offshore na Europa (Portugal – Windfloat Atlantic, 30 MW; Reino Unido – Moray East, 950 MW; e Bélgica – Seamade, 487 MW) – e está já a desenvolver outros projectos, como por exemplo Moray West, com 882 MW, e Caledonia, de 1 GW, ambos no Reino Unido; na Coreia do Sul, com um potencial de 1,2 GW, e nos EUA, num projecto até 2 GW em Massachussetts (Mayflower Wind).
Portugal, enquanto país, está a dar passos de gigante para um sector energético limpo. Como é que os portugueses podem contribuir, a título individual, por exemplo, através da energia solar EDP?
A transformação energética precisa de evoluir a um ritmo acelerado e não terá os resultados esperados se não envolver as famílias e empresas. Estas precisam de alterar alguns comportamentos, nomeadamente, utilizando cada vez mais a electricidade – de preferência renovável – em detrimento de combustíveis fósseis. Assim, a instalação de soluções fotovoltaicas para autoconsumo é um passo fundamental, uma vez que permite que cada vez mais famílias e empresas produzam e utilizem a sua própria energia limpa, enquanto reduzem a sua factura mensal.
Em Portugal, a EDP Comercial tem ofertas disponíveis para todos os segmentos de clientes e com diferentes modelos de negócio. Estas soluções permitem contribuir para um sector energético mais limpo, pois substituem uma parte do seu consumo (em média, até 40%) por uma energia 100% verde.
A EDP já tem também disponíveis ofertas que integram baterias para armazenamento da energia solar, que permitem aumentar a dimensão das soluções solares e garantir que toda a energia produzida é, de facto, utilizada. Este factor é determinante para famílias que não estejam em casa durante as horas de produção solar, podendo utilizar mais tarde a energia armazenada, ou para empresas que tenham um perfil de consumo com flutuações diárias.
Só em 2021, mais de 21 mil famílias e 2000 empresas aderiram à energia solar da EDP, com poupanças imediatas nas suas facturas e retornos que podem ser menores do que meia década, dependendo da solução escolhida e da utilização de apoios públicos para o efeito.
O Save to Compete (S2C) é um programa criado pela EDP em 2012, que promove a eficiência energética, a competitividade e a inovação nas PME e grandes empresas dos sectores industriais portugueses e espanhóis. Passado 10 anos, que balanço fazem deste programa?
O programa Save to Compete tem evoluído ao longo dos anos e permitiu o desenvolvimento de uma ferramenta de automatização de desenho de soluções de eficiência energética “tailor made”. Este programa agrega várias opções de eficiência que o cliente poderá adoptar, sempre ajustadas ao seu perfil. Assim, a plataforma digital desenvolvida no Save To Compete é a espinha dorsal da oferta da EDP Comercial para empresas, no âmbito das soluções de autoconsumo de energia e de eficiência energética, pois permite-nos rapidamente identificar e customizar as ofertas para a realidade de cada cliente, apoiando-nos na geração de propostas feitas à medida.
O grupo EDP está a desenvolver outras soluções que permitam aos clientes reduzir a factura, aumentando a eficiência, e ao mesmo tempo reduzir emissões. Que exemplos gostariam de destacar?
Aumentar a eficiência energética dos edifícios é uma das prioridades da EDP, que está a investir nessa área, quer na oferta actual para clientes, quer na inovação que desenvolve na procura por novos produtos e soluções da transição energética.
Na oferta actual, a EDP Comercial tem uma equipa que avalia o potencial de melhoria da eficiência energética dos edifícios empresariais, criando a combinação de soluções à medida para cada caso. Estas soluções geram poupanças para os clientes, reduzindo os seus gastos energéticos.
No caso das famílias, estão disponíveis ferramentas de eficiência energética dentro dos serviços disponibilizados pela EDP Comercial, assim como são dadas aos clientes dicas periódicas para melhorarem a eficiência das suas casas, através da app do cliente EDP App Zero.
Ao nível da inovação, destacamos o projecto SATO, de que a EDP faz parte através da EDP NEW, que tem como objectivo implementar uma plataforma de gestão de edifícios baseada em IoT, com capacidade de avaliar e optimizar os seus consumos de energia. Esta plataforma combina um sistema de inteligência artificial com visualização 3D, para gerar uma visão holística do real desempenho de energia do edifício e dos electrodomésticos, com vista a torná-los mais inteligentes e eficientes, reduzindo assim o seu consumo energético.
Destacamos também o projecto Smart2B, que tem como objectivo aumentar os níveis de inteligência dos edifícios, através do controlo integrado de equipamentos existentes, da instalação de dispositivos inteligentes e do desenvolvimento de uma plataforma na Cloud. A plataforma Smart2B, pretende contribuir para a mudança de paradigma no que ao edifício se refere, tornando-o um elemento activo do sistema energético, oferecendo novos serviços energéticos e não energéticos, como a maior eficiência energética e um maior conforto para os seus utilizadores.
Este artigo faz parte do Caderno Especial “Ecologia, Eficiência Energética e Energias Renováveis”, publicado na edição de Abril (n.º 193) da Executive Digest.