ISAG: O mercado inova, a formação está a fazer o mesmo?
Por Joana Seixas, subdirectora do ISAG – European Business School
A evolução económica e social sempre levou a mutações no mercado de trabalho. Esta realidade não é nova, mas está mais complexa do que nunca, graças a fenómenos como a globalização e a exponencial evolução tecnológica. Já em 2017, um estudo da Dell Technologies apontava uma estimativa do Institute For The Future: 85% das profissões que vão existir em 2030 ainda não tinham sido inventadas. Estará o capital humano português preparado para responder a estas novas necessidades do mercado de trabalho?
A verdade é que (ainda) não totalmente. Isto porque a acelerada evolução tecnológica tem feito as organizações depararem-se com necessidades inéditas no seu funcionamento que levam à procura de capital humano altamente especializado em competências emergentes. Essa procura acaba por suplantar a “oferta” disponível de profissionais com conhecimento solidificado nestas inovadoras áreas, criando uma verdadeira competição pelo talento.
Actualmente, verificamos esta dinâmica em áreas altamente tecnológicas, como a inteligência artificial, análise de dados, criptoeconomia, blockchain e web 3.0. Dominar e implementar estes novos conceitos não se trata só de promover a implementação das mais avançadas técnicas, mas, sobretudo, de reconhecer os benefícios de gestão que estas podem gerar, como os ganhos de produtividade, o aprofundar do conhecimento sobre o cliente/público ou a diferenciação perante o mercado.
A criação de novas formações focadas nestas áreas tem o papel de equilibrar a “balança” que põe, de um lado, as competências que o mercado procura e, do outro, aquelas que estão disponíveis. Já a desequilibrá-la estão a constante inovação, como vimos, mas também outros desafios que se impõem de forma transversal a vários sectores – muito para lá da tecnologia. Novas formas de consumo, novos modelos de negócio, novas preocupações do consumidor (a sustentabilidade, por exemplo) fazem as empresas repensar a actuação e, por consequência, renovar os conhecimentos dos quadros de que já dispõem, investindo na sua capacitação.
Um exemplo bastante concreto é encontrado na área da Comunicação Autárquica, que viu crescer, nos últimos anos, o número de profissionais. Estes precisam, agora, de conhecer e renovar estratégias direccionadas aos desafios que actualmente se impõe ao poder local, como a necessidade de atrair população, visitantes e negócios.
Se o mercado demanda, por um lado, a formação de novos profissionais e, por outro, o reskilling ou upskilling do capital humano, torna-se imperativo que o ensino, nomeadamente, o ensino superior acompanhe esta realidade. Isto é, cabe às instituições de ensino redobrar atenções perante as exigências do mercado e multiplicar esforços para desenhar programas de formação inovadores, práticos e actualizados, à medida das novas profissões que irão surgir.
Áreas como a economia verde, gestão internacional ou tecnologia continuarão a conhecer um aumento progressivo de procura, a que a oferta formativa deverá dar respostas assertivas e especializadas.
Este artigo faz parte do Caderno Especial “MBA, Pós-graduações & Formação de Executivos”, publicado na edição de Maio (n.º 194) da Executive Digest.