EDP: Agente activo de mudança
A EDP estabeleceu há muito o objectivo de ter um papel activo na mudança de paradigma energético e os próximos anos são decisivos: caso não haja um esforço de mitigação de todos (governos, empresas, pessoas) não será possível cumprir o Acordo de Paris. Em entrevista à Executive Digest, fonte oficial da empresa explica quais as grandes linhas orientadoras da EDP para o desenvolvimento de um futuro mais sustentável.
Por onde passa o caminho da transição energética na EDP?
O nosso caminho passa por sermos um agente activo de mudança e estarmos na vanguarda da transição energética. A visão da EDP traduz-se no seu compromisso com a sustentabilidade, que tem sido reforçada ao longo dos anos nos seus planos estratégicos. No mais recente Plano Estratégico 2021-2025, a EDP voltou a evidenciar a sua ambição de ser líder na transição energética através de dois compromissos fulcrais: o fim da produção de electricidade a carvão até 2025 e alcançar a neutralidade carbónica em 2030. Este último representa uma antecipação à meta europeia em 20 anos. Paralelamente, continuaremos a apostar na digitalização, inteligência das redes, oferta de serviços e produtos de baixo carbono para os nossos clientes e, não menos importante, na inovação, com destaque para a exploração de novas tecnologias na área do armazenamento de energia e da produção de hidrogénio verde com um investimento na ordem dos dois mil milhões de euros.
Quais os grandes desafios e oportunidades no sector da energia?
O sector da energia é um dos que mais tem investido na reconversão dos seus sistemas de produção e numa maior eficiência energética. Os grandes desafios que temos pela frente são, sem dúvida, os da descarbonização, não tanto na área da produção de energia eléctrica, onde o caminho é orientado para as renováveis, mas noutras áreas como a do petróleo e gás, para os quais há que encontrar alternativas que minimizem o seu impacto ambiental. A evolução poderá estar, na próxima década, na velocidade de penetração de gases renováveis como o hidrogénio, quando produzido a partir de electricidade verde, uma solução que poderá complementar a electrificação da economia, em sectores onde esta não é viável. Uma das oportunidades é a aposta na Economia Circular, uma das tendências desta área para o ano de 2021, onde a EDP está a criar uma estratégia específica. Assegurar que todos os novos projectos com impactes ambientais significativos são No Net Loss em 2030 e não construir activos de geração em Natural World’s Heritage Sites são alguns dos passos a tomar na área da Biodiversidade, num ano em que se assinala o início da Década da Restauração dos Ecossistemas. A nível financeiro, em 2018 emitimos obrigações verdes, e desde então já foram realizadas nove emissões, todas elas destinadas ao financiamento ou refinanciamento de projectos renováveis. Trata-se assim de estimular um instrumento de mercado que suporta o investimento em empresas sustentáveis e que estão a contribuir para a transição da economia para o baixo carbono.
Como é que a EDP trabalha para reduzir activamente a pegada ambiental ao longo de toda a cadeia de valor?
A redução da pegada ambiental começa na definição de políticas internas, como a Política do Ambiente. Estas políticas estabelecem metas para o grupo, traduzidas por cada unidade de negócio para a sua realidade, sendo que existe uma monitorização do seu cumprimento. Estas práticas estão alargadas à cadeia de valor, quer na dimensão do cliente, quer nas compras, através de políticas e introdução de critérios de sustentabilidade nos processos de compras. Um dos focos é a procura de soluções para que os principais materiais residuais possam ser aproveitados como matéria-prima de outras indústrias. Com a nossa adesão ao Objectivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) 12 – Produção e Consumo Sustentáveis, assumimos o compromisso muito concreto de eliminar os plásticos de utilização única em 100% e manter uma taxa média de 75% de valorização dos resíduos, promovendo a circularidade. Isto materializa-se igualmente nas actividades de construção, operação e manutenção de instalações, privilegiando sempre a reutilização e as parcerias com operadores licenciados que encaminham os resíduos para destino preferencial de valorização, sendo que um dos nossos compromissos é o de atingir 80% de aproveitamento de resíduos operacionais resultantes do desmantelamento de parques eólicos e solares. Na dimensão do cliente, é sobretudo a aposta na mobilidade eléctrica e no consumo sustentável: contamos instalar 100% de contadores inteligentes na Ibéria em 2025 e 100 mil pontos de carregamento eléctrico instalados em 2030. Queremos igualmente crescer dois GW de potência renovável descentralizada no cliente em 2030.
O ano de 2020 ficou também marcado pelo avanço das energias renováveis. Quais as vossas metas, que em conjunto definem um caminho consistente com os objectivos do Acordo de Paris?
As empresas têm cada vez mais de assumir um papel preponderante, num posicionamento de pró-actividade e não apenas de reacção. O sector energético tem de estar comprometido com uma estratégia em fornecer energia 100% limpa, confiável e acessível a todos. Esta década é decisiva e se não houver um esforço de mitigação de todos (governos, empresas, pessoas) não será possível cumprir o Acordo de Paris, ou seja, limitar o aumento da temperatura média global a 2ºC acima dos valores pré-industriais, e preferencialmente a 1,5ºC, com consequências dramáticas para a humanidade do ponto de vista económico, social e ambiental. Neste sentido, a EDP pretende duplicar a capacidade instalada em centrais renováveis nos próximos cinco anos, de 12 GW para 25 GW, dos quais sete GW serão em solar. O objectivo é alcançar mais de 50 GW de adições renováveis até 2030, registando, neste mesmo ano, 100% de produção renovável. Relativamente às emissões de CO2, a EDP ambiciona reduzi-las para 97 g/ KWh em 2025 e praticamente zero em 2030, ano em que pretendemos ser neutros em carbono. Uma das soluções inovadoras que estamos a implementar é a construção de um parque flutuante com mais de 12 mil painéis fotovoltaicos na albufeira da barragem do Alqueva. A previsão é que, no final deste ano, já possa estar a produzir energia eléctrica. Com uma capacidade de produção anual de sete GWh, a expectativa é que venha a abastecer o equivalente a 25% dos consumidores da região (Portel e Moura). A parceria com a Corticeira Amorim e a espanhola Isigenere foi vital para criar flutuadores que misturam cortiça com polímeros reciclados para este novo parque solar.
Quais os objectivos para 2022, sendo que o orçamento de carbono mundial é finito e que caminha para esgotar rapidamente, dadas as necessidades e aspirações da sociedade? Em que assenta o vosso compromisso?
Os objectivos anteriormente assumidos para 2022, no âmbito do Plano de Negócios 2018-2022, foram, entretanto, actualizados e substituídos por outros muito mais ambiciosos no âmbito da estratégia 2021-2025 e projecções para 2030. Com efeito, a EDP subiu a fasquia no processo de descarbonização ao reforçar as suas metas ambientais até 2030: a empresa irá reduzir em 98% as emissões específicas de CO2 até 2030 (face aos níveis de 2015), reforçando o seu compromisso face ao objectivo anterior, que era de 90% para o mesmo período. Outra meta reforçada envolve as emissões indirectas de CO2, que também irão diminuir em 50% até 2030. A revisão das metas da EDP para a neutralidade carbónica foi validada pela Science Based Target initiative (SBTi), organização que avalia e aprova as iniciativas das empresas para uma economia de baixo carbono e para o combate às alterações climáticas. Nesta avaliação, a SBTi reconhece ainda que a estratégia de descarbonização da EDP está alinhada com a trajectória definida pela ciência de conter o aumento da temperatura média global a 1,5ºC. Este é um compromisso que a empresa já assumira em 2019, quando subscreveu a iniciativa Business Ambition for 1,5ºC, promovida pelas Nações Unidas.
Podem revelar o valor investido pela EDP nos esforços da diminuição da pegada ecológica?
No recente Plano Estratégico 2021-2025 da EDP, aumentámos o investimento em mais de 65% relativamente ao target de 2019- 2022: o CAPEX é de 4,9 mil milhões de euros/ano, onde 80% é aposta em renováveis, 15% em redes e 5% em soluções para clientes e gestão de energia.
Como é que em parceria com a EDP, as empresas podem apostar na sustentabilidade ambiental e redução da pegada ecológica?
A EDP tem, desde 2012, um programa dedicado às empresas, o Save To Compete. O grande objectivo é precisamente a aposta na sustentabilidade e na redução da pegada ecológica, promovendo a eficiência energética, a competitividade e a inovação nas PME e grandes empresas dos sectores industriais portugueses e espanhóis. Através de um modelo de negócio inovador, é possível que os investimentos em soluções de eficiência energética sejam pagos com as poupanças geradas. Em 2017, a EDP Comercial lançou o projecto Save To Compete 2.0, com o objectivo de digitalizar a venda de serviços de energia para o segmento empresarial, com particular foco nas pequenas e médias empresas. Os casos de sucesso atravessam diferentes sectores de negócio como o exemplo recente do vprotocolo assinado entre a CAP – Confederação dos Agricultores de Portugal e a EDP Comercial para instalação de painéis fotovoltaicos nas explorações agrícolas visando a produção de energia eléctrica para autoconsumo e venda à rede. Esta iniciativa garante o retorno do investimento em menos de cinco anos e permite ao agricultor pagar uma factura entre 20% a 40% mais baixa; outra parceria de sucesso foi o caso da marca Bonduelle, em que a mesma reduziu as emissões de CO2 em 524 toneladas CO2/ ano, através da implementação da Central Fotovoltaica para o Autoconsumo, o que representou a instalação de 3030 unidades de painéis fotovoltaicos, a marca terá uma poupança anual prevista na ordem dos 151 mil euros; no sector bancário, o Millenium BCP apostou numa Central Solar Fotovoltaica em três dos seus edifícios no Tagus Park, o que resultou numa redução anual de emissões de CO2 de 572 toneladas.
Com a aproximação da COP26, de que forma a EDP participa nas iniciativas globais de resposta às alterações climáticas?
A comunidade empresarial tem a capacidade de encontrar soluções concretas e criar confiança entre os governos e encorajá-los a aumentar o seu nível de ambição, bem como alavancar as parcerias multistakeholder, políticas e financiamento necessários para progredir na resposta às alterações climáticas. Este é um dos objectivos fulcrais da EDP para a COP26, mas não é o único: o nosso papel é o de apelar a que as políticas públicas sejam as adequadas à transição energética necessária, através da participação em debates de temas relevantes como os mercados de carbono, com o apoio das principais organizações internacionais. Neste ponto, temos estado na linha da frente como membro de organizações como UN Global Compact, Powering Past Coal Alliance, Climate Group, WBCSD e recentemente como uma das empresas fundadoras da Aliança Global para a Energia Renovável. Este envolvimento tem-nos permitido subscrever iniciativas relevantes nos diferentes quadrantes no combate às alterações climáticas. A nossa estratégia assenta, por um lado, em assumir um posicionamento em subscrições de cartas empresariais como a de apoio à Administração Biden-Harris, solicitando a adopção de uma meta de, pelo menos, 50% de redução de emissões até 2030; a carta “Fit for 55: Business fleet owners want and need ambitious electric vehicle legislation” da EV100 da Climate Group com o objectivo de informar e influenciar os principais decisores políticos da UE sobre pontos específicos nas propostas legislativas que foram elaboradas no âmbito do Fit for 55; a iniciativa da organização não governamental CERES com o objectivo de apelar à SEC (Comissão de Valores Mobiliários e Câmbio dos EUA) que estabeleça um padrão mínimo de reporte de informação relativa ao clima e ainda a carta aberta aos líderes G20 onde apela a uma maior ambição climática na Cimeira do G20 deste ano.
Por outro lado, temos integrado grupos de trabalho como a UN Global Compact CFO Task Force for the SDGs, um comité mundial de administradores financeiros criado para impulsionar os ODS que recentemente assumiu o compromisso de investir, em conjunto, mais de 400 mil milhões de euros para ajudar a concretizar as metas traçadas pela ONU, sendo a EDP a única empresa portuguesa a este nível no grupo. Esperamos assim antecipar tendências políticas e promover uma acção empresarial em tópicos específicos.
Este artigo faz parte do Caderno Especial “Redução da Pegada Ambiental”, publicado na edição de Outubro (n.º 187) da Executive Digest.