Católica Porto Business School: Formação traz retorno pessoal
O actual contexto obriga a pensar os negócios em função de um mundo em permanente mudança e, por isso, assiste- se a uma maior dificuldade na captação e manutenção do talento. Em entrevista à Executive Digest, Carlos Vieira, director executivo para a Formação Executiva da Católica Porto Business School, explica como estes factores estão a potenciar um aumento da formação executiva, de iniciativa das empresas, e os principais desafios da instituição.
E depois da pandemia, surgiu o conflito na Ucrânia. Que efeitos tem esta nova situação nas vossas actividades? E nos vossos planos para 2022?
A expectativa que tínhamos, no pós-pandemia, era a de uma retoma geral da actividade de formação, mas com o foco nas formações presenciais que entendemos como as que melhor representam o modelo de educação e formação na Católica Porto Business School, incluindo a sua formação executiva. O facto é que o ensino em modelo de blended learning ou modelo híbrido permitiu que não tivesse existido quebra na nossa actividade, nestes dois anos, principalmente nos programas abertos. Existiu, sim, uma quebra na formação incompany (a que é solicitada e desenhada para empresas específicas), mas também essa, ligeira.
Há cerca de dois meses, o sentimento das escolas de negócio, era o de que as empresas estariam mais optimistas e preparavam-se para investir mais em formação. Esta perspectiva está a verificar-se?
Sim, claramente. Pelo que referi atrás, as alterações que se verificam e que se perspectivam nos médio e longo prazos, vêm originar riscos e oportunidades, como em todas as situações de acção/reacção. O facto é que, por um lado, estas mudanças obrigam a pensar os negócios em função de um mundo em permanente mudança e, por outro, assiste-se a uma maior dificuldade na captação e manutenção do talento. Isso está a potenciar um aumento da formação executiva e de iniciativa das empresas.
E do ponto de vista das acções individuais? Continuam a existir receios ou já há mais optimismo?
Os dados públicos indicam que há maior capacidade financeira das pessoas singulares para aumentar as suas despesas e os seus investimentos. A realidade da educação e formação é, claramente, vista como um investimento, com retorno pessoal, profissional e, concomitantemente, financeiro. Os receios que notamos que existem não têm sido limitadores do investimento em formação, pelo que nos é dado a perceber.
A escassez de recursos é um problema transversal em Portugal, pois abrange vários sectores e níveis. E no vosso sector de actividade?
A escassez de recursos é uma realidade em qualquer momenmomento. Compete-nos a nós, gestores, fazermos a melhor gestão, mais eficiente, dos recursos existentes. Focando-nos nos nossos recursos humanos, há, também, da nossa parte uma preocupação com a formação contínua do corpo docente e não docente. Nem sempre é fácil conseguir um equilíbrio, mas a realidade é que, se não formos capazes de incrementar a capacidade de atracção e potenciação de talento, teremos as imediatas dificuldades. O nosso sector, ao mesmo tempo, e associado ao que atrás já referi, em termos de dinâmica da procura por formação, está com um nível de competição que, em primeiro lugar, beneficia o nosso cliente. E, em segundo lugar, e não menos importante, obriga-nos a ser competitivos nas formas de aumento do potencial humano que existe nas nossas equipas.
E ainda relativamente à escassez de recursos, estão as empresas a utilizar a formação como instrumento de retenção e atracção?
Sim, claramente. As empresas, independentemente da sua dimensão, percebem que têm de melhorar a experiência dos seus trabalhadores. Ao mesmo tempo, a realidade actual no mercado laboral apresenta um incremento de aspectos menos positivos para as organizações, como a saúde mental dos seus colaboradores e a Great Resignation, para além das óbvias rotações entre empresas, que estão, claramente, a aumentar. Assim, as empresas, para captar e manter talento têm de apresentar aos seus trabalhadores, independentemente das fórmulas contratuais, uma proposta de valor e de ciclo de vida. A formação surge, obviamente, neste segundo ponto, como ponto fulcral de evolução profissional numa organização. Mas assistimos a um incremento da formação, solicitada ou patrocinada pelas empresas que não tem necessariamente a ver com essa evolução, mas sim com o sentimento de que há formação que simplesmente deixa as pessoas mais felizes, motivadas e, consequentemente, produtivas. Este é um paradigma importante. Correndo por vezes o risco de que os seus trabalhadores obtenham conhecimentos fora das suas áreas de actividade numa empresa e que, assim, possam buscar outras oportunidades laborais, há a percepção de que, essa realidade permite um aumento da satisfação do trabalhador com a sua empresa, que lhe proporcionou esta e outras oportunidades de enriquecimento pessoal.
Numa altura em que é cada vez mais importante tomar decisões assentes em dados concretos, as áreas da Data Science já têm, e terão uma enorme procura num futuro próximo. E que outras áreas gostariam de destacar? Que tendências de oferta e procura estão agora a ser introduzidas nos programas de formação de executivos?
Concordamos, em absoluto, com o incremento das áreas de Data Science e Business Intelligence e Analytics. A Católica Porto Business School, inclusive, irá aumentar a sua oferta nesta área. As tendências que observamos passam por um foco em sectores de actividade específicos, como Moda, Economia Circular e Produção Sustentável nos sectores industriais (incluindo a área agroindustrial), entre outras, em que a Católica Porto Business School desenvolve as acções em parcerias com faculdades da Universidade, como a Escola Superior de Biotecnologia ou a Escola das Artes. Temos um modelo de governo que recolhe muito bem as opiniões dos nossos stakeholders, e que tem uma capacidade de construir formações adaptadas ao que o mercado solicita.
Consideram que há um claro pendor para prepararem os líderes e gestores com o objectivo de tomarem decisões com uma componente, sobretudo ética? O famoso ESG já chegou à formação?
Esta questão é prioritária para a Universidade Católica Portuguesa. Obviamente que a Católica Porto Business School não foge desse desiderato e consegue mesmo superá- lo, quando nos comparamos com a concorrência directa. O ESG já está a ser discutido e incluído nos planos de formação há bastantes anos. As terminologias vão-se alterando, mas os princípios éticos e de sustentabilidade estão plenamente integrados na nossa actividade. E importa, claro, esclarecer que a sustentabilidade inclui o pilar económico e que, portanto, no nosso processo de ensino- aprendizagem procuramos identificar como, através destes aspectos, se cria riqueza e aumenta o valor global de um negócio ou projecto. Aliás, o centro de investigação da Católica Porto Business School tem uma linha de investigação importantíssima na área da sustentabilidade.
A intergeracionalidade que é verificada nas organizações também se reflecte na procura dos vossos programas? Como acompanham esta necessidade de actualização?
Não tem sido uma realidade, se falarmos de pessoas com mais de 50 anos. Temos programas que atraem diversos públicos, de diversas idades e alguns acabam por ser mais específicos para um determinado intervalo etário. No entanto, sentimos que há um histórico negativo na cultura portuguesa de não valorização do ensino formal. Penso que foram muitos anos de desvalorização dos processos formais que se reflectem nas estatísticas de qualificações da população portuguesa e que urge reverter. Pensamos ser importante um reforço dos incentivos de natureza financeira ou fiscal, que aumentem a visibilidade da importância da formação ao longo da vida. Como já referi, uma escola como a Católica Porto Business School envolve-se em permanência com os stakeholders e procura construir programas de formação adaptados ao que é solicitado. Não havendo aproximação destes públicos, torna-se difícil. Neste ponto, identificamos um sector que se tem relacionado, em permanência, com a escola. Falo dos empresários com mais idade que pretendem criar condições para as transições de liderança nas suas empresas. E que originou o recente lançamento do nosso curso de Gestão na Empresa Familiar, que tem despertado um significativo interesse.
FORMANDOS INTERNACIONAIS
Historicamente, a Católica Porto Business School tem a grande maioria dos cursos leccionados em língua portuguesa, pelo que o grande número de alunos internacionais na formação executiva vem de países de língua oficial portuguesa. A internacionalização em língua inglesa tem vindo a ser desenvolvida em parcerias com instituições estrangeiras. Destaca-se, por exemplo, o curso Globally Responsible Leadership for Sustainable Transformation (GRL4ST), leccionado pela Católica Porto Business School e mais seis instituições de quatro continentes. Um sucesso, que pretendemos prolongar e incrementar. Até porque Portugal e o Porto em particular têm muito para apresentar a quem queira ser um cidadão do Mundo.
Este artigo faz parte do Caderno Especial “MBA, Pós-graduações & Formação de Executivos”, publicado na edição de Maio (n.º 194) da Executive Digest.