BP actualiza cenários sobre a transição energética

A bp apresentou mais uma edição do relatório anual bp Energy Outlook, onde são exploradas as principais tendências e incertezas que rodeiam a transição energética até 2050. No relatório são apresentados três cenários – Net Zero, Accelerated e New Momentum – que este ano sofreram actualizações para ter em consideração dois acontecimentos que estão a influenciar a transição energética – o eclodir da guerra entre a Rússia e a Ucrânia e a aprovação da Lei de Redução da Inflação (Inflation Reduction Act) nos EUA.
Os três cenários apresentados no bp Energy Outlook foram criados para analisar a gama de resultados possíveis do sistema energético global nas próximas três décadas. A compreensão destas várias incertezas ajuda a bp a moldar uma estratégia resiliente que tenha a capacidade de resistir em situações de diferentes velocidades e diferentes formas de transição do sistema energético.
O economista-chefe da bp, Spencer Dale, considera que «as políticas e discussões globais sobre a energia nos últimos anos têm-se centrado na importância de descarbonizar o sistema energético e na transição para o net zero. Os acontecimentos do ano passado serviram para nos lembrar de que a transição também precisa de ter em conta a segurança e a acessibilidade da energia. Qualquer transição energética bem-sucedida e duradoura precisa de abordar os três elementos do chamado trilema energético: energia segura, acessível e mais baixa em carbono».
Mas as mudanças ocorridas no mundo ao longo do ano passado podem estar a contribui também para uma aceleração da transição energética. Spencer Dale afirma que «os acontecimentos do ano passado realçaram a complexidade e interconexão do sistema energético global. O maior enfoque na segurança energética, como resultado da guerra Rússia-Ucrânia, tem o potencial de acelerar a transição energética à medida que os países procuram aumentar o acesso à energia produzida internamente, grande parte da qual provém, provavelmente, de energias renováveis e outros combustíveis não fósseis. Mas os acontecimentos também mostram como perturbações relativamente pequenas no fornecimento de energia podem levar a graves custos económicos e sociais, salientando a importância de que a transição para longe dos hidrocarbonetos aconteça de forma ordenada, de modo que a redução da procura por hidrocarbonetos aconteça em linha com os fornecimentos disponíveis».

OS TRÊS CENÁRIOS POSSÍVEIS

De acordo com a bp, os cenários Accelerated e Net Zero exploram a forma como diferentes elementos do sistema energético podem mudar nas trajectórias que alcançam reduções substanciais nas emissões de carbono até 2050 – em cerca de 75% no Accelerated e mais de 95% no Net Zero. Em ambos os cenários, é assumido um aumento significativo das exigências das políticas climáticas a nível global. Adicionalmente, no cenário Net Zero, assume-se ainda uma mudança do comportamento e das preferências da sociedade que terá impacto positivo nos ganhos em eficiência energética e na adopção de energias com baixo teor de carbono.
O terceiro cenário, New Momentum, explora a actual trajectória do sistema energético mundial num sentido amplo, colocando a sua ênfase no aumento acentuado das ambições e promessas governamentais de descarbonização que se têm verificado nos últimos anos. De acordo com este cenário, as emissões de carbono globais atingem o seu máximo no final da década de 2020 e por volta de 2050 está cerca de 30% abaixo dos níveis de 2019.

O MUNDO EM TRANSIÇÃO

Apesar do aumento acentuado das ambições governamentais, as emissões de CO2 têm aumentado todos os anos desde a COP de Paris em 2015 (bar 2020). Quanto maior for o atraso na tomada de medidas decisivas para reduzir as emissões de gases com efeito de estufa numa base sustentável, maiores são os prováveis custos económicos e sociais.
O apoio governamental à transição energética aumentou ainda mais em vários países, incluindo a aprovação da Lei de Redução da Inflação (Inflation Reduction Act) nos EUA. Mas a escala do desafio da descarbonização sugere que é necessário um apoio maior, incluindo políticas que promovam uma maior rapidez nos processos de autorização e licenciamento de infraestruturas de energias com baixo teor de carbono.
A interrupção do fornecimento global de energia associada à escassez de energia causada pela guerra Rússia-Ucrânia aumentam a importância atribuída à abordagem dos três elementos do trilema energético: energia segura, acessível e mais baixa em carbono.
A guerra tem efeitos duradouros no sistema energético global. O maior enfoque na segurança energética aumenta a procura por energias renováveis produzidas internamente e outros combustíveis não fósseis, ajudando a acelerar a transição energética.
Outro aspecto importante neste relatório da bp é a mudança que se prevê, nos três cenários, para a estrutura da procura por energia, motivada pela diminuição da importância dos combustíveis fósseis e pelo aumento da quota das energias renováveis e da electrificação. A transição para um mundo de baixo carbono requer uma série de outras fontes de energia e tecnologias, incluindo hidrogénio de baixo carbono, bioenergia moderna, e a captura, utilização e armazenamento de carbono (CCUS).
A procura por petróleo diminui ao longo das próximas décadas, impulsionada pela diminuição da sua utilização no transporte rodoviário, à medida que a eficiência da frota automóvel melhora e a eletrificação dos veículos rodoviários acelera. Ainda assim, o petróleo continua a desempenhar um papel importante no sistema energético global durante os próximos 15-20 anos nos três cenários.
Por outro lado, as perspectivas para o gás natural dependem da velocidade da transição energética, sendo que o aumento da procura nas economias emergentes, à medida que estas crescem e se industrializam, será compensado pela transição para fontes de energia com menor teor de carbono, liderada pelo mundo desenvolvido.
De acordo com o relatório, a recente escassez de energia e os preços mais elevados sublinham a importância de que a transição para longe dos hidrocarbonetos aconteça de forma ordenada, de modo que a redução da procura por hidrocarbonetos aconteça em linha com os fornecimentos disponíveis. O declínio natural das fontes de produção existentes significa que é necessário continuar a investir na exploração e produção de petróleo e gás natural durante os próximos 30 anos, incluindo no cenário Net Zero.
O sistema global de energia elétrica descarboniza, liderado pelo crescente domínio da energia eólica e solar. A energia eólica e solar são responsáveis pela totalidade ou pela maior parte do crescimento da produção de energia elétrica, ajudado pela competitividade contínua dos custos e por uma capacidade crescente de integrar altas concentrações destas fontes de energia variáveis nos sistemas de energia. O crescimento da energia eólica e solar requer uma aceleração significativa no financiamento e construção de nova capacidade produtiva.
Neste processo de transição energética, a utilização de biocombustíveis modernos – biomassa sólida moderna, biocombustíveis e biometano – cresce rapidamente, ajudando a descarbonizar sectores e processos difíceis de descarbonizar (hard-to-abate sectors and processes). Também o hidrogénio com baixo teor de carbono desempenha um papel crítico na descarbonização do sistema energético, especialmente em processos e actividades difíceis de descarbonizar (hard-to-abate sectors and processes) na indústria e nos transportes. De acordo com o relatório, o hidrogénio com baixo teor de carbono é dominado pelo hidrogénio verde e azul, com o hidrogénio verde a crescer em importância ao longo do tempo.
Muito importante é também a captura, utilização e armazenamento de carbono (CCUS), que desempenha um papel central na viabilização de trajectórias rápidas de descarbonização, capturando emissões de processos industriais, actuando como fonte de remoção de dióxido de carbono, e abatendo as emissões resultantes da utilização de combustíveis fósseis.
Por fim, uma gama de técnicas para a remoção de dióxido de carbono – incluindo a bioenergia combinada com a captura e armazenamento de carbono, soluções climáticas naturais e a captura directa de carbono do ar com armazenamento – são necessárias para que o mundo alcance uma descarbonização profunda e rápida. Estes são os principais temas da edição deste ano do bp Energy Outlook, que a bp disponibiliza gratuitamente a todos os interessados e que pode ser descarregado em www.bp.pt.