Liderança climática urgente?

À medida que nos aproximamos de 2030 com cerca de dois mil dias úteis para atingir os Objectivos Globais, encontramo-nos à beira da catástrofe. O CEO Study de 2019 concluiu que os líderes empresariais estavam muito longe de alcançar os seus objectivos climáticos. Hoje, o quadro é ainda mais desanimador. Os líderes empresariais enfrentam um cenário complexo, já que as catástrofes relacionadas com o clima ocorrem com uma frequência e intensidade assustadoramente elevadas. A pressão para agir em relação à sustentabilidade por parte de todos os stakeholders é maior do que nunca. As cadeias de abastecimento globais estão a fracturar-se, e as desigualdades continuam a aumentar. Juntando a isto as consequências da pandemia da COVID-19, muitas empresas estão mal preparadas para a realidade que se avizinha.

Na maior e mais profunda auto-avaliação global alguma vez expressa pelos CEO sobre sustentabilidade, o estudo deste ano conclui que os CEO acreditam que as empresas não estão preparadas para enfrentar os desafios das alterações climáticas. Estes mesmos CEO lançam um apelo igualmente forte à acção para que as suas indústrias se alinhem com o Acordo de Paris, e respondam com acções decisivas para evitar uma catástrofe global. Neste relatório, partilhamos o feedback dos CEO sobre a sua avaliação do desafio, mas também as sugestões sobre o que deve ser feito a todos os níveis para cumprir os objectivos do Acordo de Paris.

O CEO Study segue duas vertentes principais de investigação. Primeiro, realizou-se uma avaliação quantitativa de 1122 CEO através de um inquérito online traduzido em nove línguas. Em segundo lugar, foram realizadas mais de 110 entrevistas individuais a CEO, chairmen e presidentes de empresas que fazem parte do UN Global Compact em todo o mundo para compreender o contexto estratégico mais amplo – dos desafios e oportunidades da pandemia da COVID-19 às acções de adaptação e resiliência e prioridades de financiamento climático – para o negócio.

A esperança mantém-se com alguns dos principais CEO a mostrar o caminho a seguir e a fazer progressos reais. Estes estão a desenvolver modelos de negócio inovadores possibilitados pela tecnologia, alinhando os seus objectivos climáticos com estratégias baseadas na ciência, e fazendo parcerias com as suas comunidades, parceiros da cadeia de valor e o sector público. No entanto, isto não é suficiente.


PONTO DE RUPTURA

As alterações climáticas estão a acontecer aqui e agora

 

  • Os CEO afirmam que as alterações climáticas são uma crise actual, e não uma crise futura em 2030 ou 2050

Os eventos climáticos extremos estão a causar prejuízos na economia global, e os CEO estão a sentir a pressão para agir no imediato. Quase metade dos CEO a nível mundial (49%) afirmaram que estão a lidar com interrupções na cadeia de abastecimento devido a eventos climáticos extremos. Como Thomas Buberl, director executivo do Grupo AXA, observa, «grandes eventos como o Katrina ainda ocorrem com uma frequência relativamente uniforme, mas o que temos visto é que eventos de menor dimensão, como incêndios e tempestades, têm aumentado muito de frequência. Isto tornou-se uma realidade, e todos podem sentir as alterações climáticas na sua vida quotidiana actualmente.»

A alteração nos padrões climáticos está a interferir nas operações comerciais centrais. É de notar que, metade dos CEO da indústria alimentar e de bebidas (50%) estão preocupados com a sua capacidade de aceder a recursos naturais para operações comerciais devido a condições meteorológicas extremas, salientando a ameaça de um clima em mudança no fornecimento global de alimentos.

A frequência e distribuição global destas disrupções continuam a aumentar, e os CEO afirmam que não estão preparados para proteger a estabilidade das suas operações com os actuais níveis de investimento. A nível global, apenas um em cada quatro CEO (25%) tem sistemas de aviso prévio intermédios/ avançados para se preparar para eventos de risco climático; 28% dos CEO realizam análises de cenário intermédias/ avançadas para identificar riscos físicos e de transição das alterações climáticas nos seus negócios e indústria; e apenas 29% dos CEO têm níveis de seguro intermédios/ avançados para riscos relacionados com o clima.

Os CEO de pequenas e médias empresas, especialmente na Ásia, correm um risco particularmente elevado. Por exemplo, apenas 16% das empresas dessa região têm sistemas de alerta prévio intermédios/avançados; 13% realizam análises de cenários; e 19% têm seguros para riscos relacionados com o clima. As perdas resultantes de catástrofes naturais em 2020 totalizaram 190 mil milhões de euros. No entanto, na Ásia, foram registados 60 mil milhões de euros de perdas, dos quais apenas 2,7 mil milhões de euros estavam cobertos por seguros.

 

  • A pandemia de COVID-19 sublinhou a importância da sustentabilidade, mas aumentou a complexidade de uma resposta climática conjunta, afirmam os CEO

Quase três em cada quatro CEO a nível mundial (72%) concordam que a sustentabilidade continua a ser uma prioridade imediata, uma vez que lidam com as consequências da pandemia da COVID-19. Além disso, quase quatro em cada cinco CEO (79%) afirmam que a pandemia reforçou a necessidade de transição para modelos empresariais mais sustentáveis. George Oliver, presidente & CEO da Johnson Controls, observa: «Eu teria previsto que uma crise como a COVID-19 teria travado tudo o que não fosse o pensamento convencional – e o facto de ter acontecido exactamente o contrário é extraordinário. Acelerou a trajectória da sustentabilidade.»

Além disso, a pandemia reforçou a importância das parcerias multissectoriais, de I&D rápidas e da implementação coordenada de soluções fundamentais para enfrentar os desafios globais. Kim Fausing, CEO da Danfoss, afirma que «através do desenvolvimento de vacinas COVID-19, vimos como podemos trabalhar rapidamente quando necessário. Podemos usar isso como inspiração para a acção climática.»

Para metade dos CEO a nível mundial (50%), a pandemia da COVID-19 aumentou a sua dependência de parcerias estratégicas e multissectoriais – uma mudança observada sobretudo entre CEO de empresas com mais de 225 milhões de euros em receitas anuais (58%). Nas palavras de Francesco Starace, director-executivo e director-geral do Grupo Enel, «a pandemia da COVID-19 reforçou que a mudança é possível quando a gestão é coordenada e reforçada a nível global. O multilateralismo forte é essencial durante uma crise global, e estas lições devem ser aplicadas na acção climática.»

Com os níveis sem precedentes dos gastos para a recuperação económica, a oportunidade para uma maior colaboração e alocação de investimento nunca foi tão grande. Em 2020, os governos e os bancos centrais utilizaram políticas fiscais e monetárias para fornecer mais de 17 biliões de euros de financiamento. Para recuperar melhor da pandemia, os CEO estão a apelar aos governos para acelerarem a distribuição de dinheiro que permita ao sector privado investir na recuperação e na resiliência para uma transformação socioeconómica sistémica e um escalar de transição justa alinhada com uma trajectória de aquecimento de 1,5 °C.

 

  • A estabilidade da cooperação internacional será fundamental para gerir o escalar da crise climática, afirmam os CEO

Quase metade dos CEO a nível mundial (46%) enfrentam incerteza na sua indústria resultante de guerras comerciais nacionais; 37% enfrentam incerteza devido a um número crescente de movimentos populistas; e 40% dizem que enfrentam incerteza devido às ameaças à globalização e à circulação de bens e serviços.

Os CEO das economias em desenvolvimento são os que mais sentem instabilidade geopolítica. Quase metade dos CEO da América Latina (47%) estão particularmente preocupados com o número crescente de movimentos populistas entre países, enquanto 48% dos CEO em África e 49% dos CEO na Ásia citam as ameaças à globalização como uma barreira à sustentabilidade para as suas indústrias. Margaret Michaels, fundadora da Ezra Joel Group Corporation, explica: «Desbloquear o desenvolvimento sustentável em África exige a colaboração entre os sectores público e privados para enfrentar a instabilidade e insegurança regionais.»

Os CEO estão preocupados com o estado de preparação de uma resposta climática verdadeiramente global, que mesmo nesta fase de urgência permanece desarticulada, e por vezes contraditória, entre indústrias e sectores. Nas palavras de Carlos Torres Vila, presidente do BBVA, «a acção colectiva global precisa de melhorar. A resposta à pandemia do coronavírus enfraqueceu a confiança no estado da cooperação internacional.»

 

  • O sector privado está a postos à medida que os investidores e os mercados de capitais se alinham para uma acção climática

Impulsionados por um maior reconhecimento do risco sistémico das alterações climáticas, os investidores quase duplicaram a sua importância enquanto stakeholders fundamentais na promoção da sustentabilidade nas prioridades dos CEO. Actualmente, quase um em cada três CEO (31%) refere os investidores como estando entre os stakeholders mais influentes para gerir futuros esforços de sustentabilidade. Em 2016, este número era de um em cada cinco CEO (18%), o que significa que os investidores passaram de oitavo para terceiro lugar na lista de stakeholders.

Os investidores também estão a incentivar e a impulsionar acções de sustentabilidade, oferecendo empréstimos ligados, por exemplo, ao desempenho ambiental, social e de governação (ESG). Roy Bagattini, CEO do Grupo Woolworths Holdings Limited, comenta «ligar os objectivos de sustentabilidade aos acordos de financiamento tornou-nos mais competitivos nos mercados de capitais.»

O aumento da influência dos investidores é mais acentuado entre as indústrias que mais emitem: 46% dos CEO na indústria do petróleo e gás e 42% na indústria dos recursos básicos referem os investidores como uma influência crítica na gestão da sustentabilidade. A elevada pressão dos investidores para darem prioridade à sustentabilidade é fundamental nestas indústrias, que constituem a maioria das 100 empresas responsáveis por quase 70% das emissões de gases com efeito de estufa (GEE).

 

  • A disrupção climática está a acelerar a transição para modelos empresariais mais sustentáveis para CEO em todas as indústrias e regiões

Os CEO revelam que se sentem motivados para transformar os seus negócios em resposta a eventos cada vez mais severos relacionados com o clima. «Se podemos mudar os modelos operacionais da noite para o dia, porque não podemos fazer o mesmo pela sustentabilidade? A verdade é que podemos, só precisamos de maior urgência», revela Gimena Peña Malcampo, CEO da Pier2 Marketing.

A nível mundial, 81% dos CEO já estão a desenvolver novos produtos e serviços alavancando a electrificação, os materiais sustentáveis e o design circular. Um em cada quatro CEO a nível mundial (24%) está a dar prioridade a investimentos a curto prazo no desenvolvimento de novos produtos sustentáveis. Além disso, 69% dos CEO a nível mundial estão a investir em produção e concepção resistentes e sustentáveis.

Notavelmente, 86% dos CEO da indústria automóvel e de peças – uma das maiores indústrias transformadoras a nível mundial – estão a investir no fabrico sustentável. Os CEO estão a abraçar ciclos de vida de produtos circulares para guiar os seus modelos de negócio para uma economia de zero emissões líquidas. A nível mundial, quase três em cada quatro CEO (74%) começaram a implementar novos modelos de negócio circulares.


COP26

Uma chamada de atenção para a acção climática global

 

  • As metas climáticas das empresas continuam desalinhadas com o nível de ambição delineado pelo acordo de Paris

Apesar de um número crescente de metas climáticas públicas, a grande maioria dos CEO não está a alinhar os seus compromissos com a ciência climática. Segundo a nossa investigação, 57% dos CEO acreditam estar a fazer esforços suficientes para limitar o aumento global da temperatura até 1,5 °C acima dos níveis pré-industriais. No entanto, apenas 2% destes CEO validaram os seus objectivos com a iniciativa “Objectivos Baseados na Ciência” (SBTi) em linha com uma trajectória de aquecimento de 1,5 °C.

Os executivos que estabelecem metas baseadas na ciência estão, por sua vez, a ajudar as suas empresas a atingir objectivos significativos de redução de emissões: entre 2015 e 2019, as empresas com a SBTi reduziram colectivamente as suas emissões anuais em 25%.

Estes fortes resultados estão a provocar um crescimento sem precedentes do número de membros. Entre Novembro de 2019 e Outubro de 2021, 529 novas organizações validaram as suas metas com a SBTi. Este valor corresponde a mais do triplo da taxa média entre 2015 e 2019. Sigve Brekke, presidente e CEO do Grupo Telenor, cujas metas da empresa foram aprovadas pela SBTi em Maio de 2021, explica que «compromissos e metas claras são essenciais para um maior progresso na área climática. Com estes, todos podem ser avaliados não só por autocomparação, mas também comparando-se com os outros.»

 

  • Os CEO sentem que as indústrias estão a negligenciar os riscos da biodiversidade, prejudicando as próprias ambições climáticas e ameaçando um colapso cataclísmico do ecossistema

Os ecossistemas biológicos da Terra, acções vitais no ciclo global do carbono e nos sistemas meteorológicos, fornecem um valor estimado de 30 biliões de euros em bens e serviços por ano, o que equivale ao PIB combinado dos EUA e da China. Os principais executivos estão profundamente conscientes do potencial impacto da perda de biodiversidade nos negócios.

A preservação de ecossistemas é uma componente crítica da mitigação do clima e da protecção das empresas. Contudo, a nível global, os CEO ignoraram largamente a potencial disrupção da perda da biodiversidade nos seus negócios. A nível mundial, apenas um em cada cinco CEO (21%) vê a perda de biodiversidade e serviços de ecossistemas relacionados como um risco para os seus negócios. Além disso, apenas 26% dos CEO da América Latina e das Caraíbas – uma região que sofreu uma perda de biodiversidade de 94% desde 1970 – classificam a perda de biodiversidade como um risco máximo para os seus negócios.

Os CEO que pensam no futuro consideram a importância da protecção da biodiversidade como um componente fundamental da agenda climática antes da COP26. «A biodiversidade está no topo da nossa agenda e estamos continuamente a tentar reduzir a pegada da nossa actividade mineira. Devemos colaborar como indústria para garantir que continuamos a abordar a biodiversidade de forma responsável», declara Hilde Merete Aasheim, presidente & CEO da Norsk Hydro ASA.

 

  • Os líderes empresariais de sectores altamente emissores precisam de agir de forma mais arrojada e mais rápida para enfrentar os impactos das alterações climáticas

A acção climática não pode ser bem-sucedida sem o apoio de líderes empresariais de indústrias altamente emissoras – como a construção e os materiais, bem como os recursos básicos. Os líderes destas indústrias não estão a aproveitar a importância que têm.

Os líderes empresariais de sectores altamente emissores não estão a fazer avançar a sua acção climática com a rapidez necessária. Até à data, apenas 38% dos CEO dos sectores com maiores emissões dizem já ter estabelecido, ou planear estabelecer, um objectivo de zero emissões líquidas validado pela SBTi dentro do próximo ano.

Para além da fixação de objectivos, as empresas com elevadas emissões não estão suficientemente preparadas para avançar significativamente nos esforços de mitigação. Globalmente, apenas 11% destes CEO afirmam estar num estado avançado na transição para o afastamento de bens e operações de carbono intensivo.

Apenas 12% estão numa fase avançada de abrandamento dos investimentos em combustíveis fósseis; e apenas 7% dos CEO de indústrias altamente emissoras fixaram um preço interno para as emissões de GEE, a fim de descarbonizar adequadamente os seus modelos de negócio.

 

  • Os CEO afirmam que o nível de colaboração entre concorrentes ao nível da acção climática não é suficiente, mas estão abertos a trabalhar em conjunto

O desafio climático é demasiado complexo para que qualquer empresa o possa resolver sozinha. Qualquer resposta significativa exige parcerias fortes dentro e através de cadeias de valor para soluções de escala. Como Peter Zaffino, presidente e director-executivo do American International Group, observa, «as parcerias são fundamentais para uma acção de sustentabilidade à escala. Precisamos que as empresas partilhem entre si as melhores práticas para impulsionar a necessária acção global.»

Enquanto que as empresas individuais devem assumir as suas transformações, as indústrias e cadeias de valor devem trabalhar em colaboração para permitir tanto a transformação a nível da empresa como a nível da indústria. A nível global, menos de metade dos CEO (49%) dizem estar envolvidos em consórcios ou iniciativas intersectoriais sobre redução de GEE. No entanto, notavelmente, 77% dos CEO reportam níveis mais elevados de participação em iniciativas transsectoriais de redução de GEE na indústria das utilities.


PLANO DE NEGÓCIOS

Acelerar a mitigação, a adaptação e a resiliência do clima

 

  • A crise climática está a ultrapassar a velocidade a que os líderes empresariais estão a transitar para modelos de zero emissões líquidas

A mensagem dos principais executivos é clara. Os CEO que não estão a mudar para modelos de negócio de zero emissões líquidas estão a colocar as suas empresas em risco. Enquanto 65% dos CEO a nível mundial afirmam que já começaram a avançar com modelos de negócio e soluções zero emissões líquidas, quase metade destes CEO (45%) descrevem os seus esforços nesta área como apenas “básicos”.

As empresas com receitas anuais superiores a mil milhões de euros estão mais adiantadas no seu percurso. Ou seja, 78% dos CEO das maiores empresas do mundo dizem ter começado a avançar com modelos de negócio e soluções de zero emissões líquidas, em comparação com 61% dos CEO das empresas mais pequenas (menos de 22 milhões de euros em receitas anuais).

A mudança para modelos de negócio de zero emissões líquidas continua também a estar num nível básico para as empresas dos sectores com maiores emissões. Ou seja, 73% destes CEO declaram estar a avançar com modelos de negócios e soluções de zero emissões líquidas, no entanto 46% destas empresas estão num nível básico de preparação. Miguel Stilwell d’Andrade, CEO da EDP e da EDP Renováveis, sublinha a importância de garantir que todos os CEO definam um target de zero emissões líquidas nos seus negócios. «Quando falamos de zero emissões líquidas, é zero emissões líquidas globais. Todas as diferentes regiões e países do mundo precisam de passar para zero emissões líquidas em conjunto.»

 

  • Os CEO lutam para gerir as emissões de GEE scope 3 devido a cadeias de valor com falta de transparência e desafios na monitorização

Globalmente, os CEO estão a lutar para gerir as emissões de GEE de scope 3: enquanto que 55% começaram a avaliar e a comunicar as suas emissões de GEE de scope 3, apenas 16% de todos os CEO o fazem a um nível avançado. Debbie Crosbie, CEO do TSB Bank, explica que «o nosso maior desafio na transição para uma economia de carbono zero é que a maioria das nossas emissões de scope 3 provém de casas para as quais autorizámos créditos à habitação».

Os CEO dizem que os dados limitados de ESG ao longo da cadeia de valor são um grande obstáculo ao progresso na gestão das emissões. Mais de metade dos CEO a nível mundial (63%) afirmam que a dificuldade em medir os dados de ESG ao longo da cadeia de valor é um obstáculo à sustentabilidade na sua indústria.

Este desafio é mais pronunciado para os CEO de empresas com receitas anuais superiores a mil milhões de euros: 48% deles afirmam que o alargamento da sua estratégia de sustentabilidade ao longo da cadeia de abastecimento é um grande obstáculo, em comparação com apenas 33% dos CEO de empresas com receitas anuais inferiores a 22 milhões de euros.

 

  • Os CEO estão a reformular as suas operações e a sua força de trabalho para criar resiliência contra eventos relacionados com o clima

Os CEO estão a diversificar a pegada dos seus produtos e mão-de-obra para melhorar a resiliência e minimizar o risco de eventos relacionados com o clima. 64% dos CEO a nível mundial estão a diversificar o input de materiais em produtos e operações e 63% já começaram a diversificar geograficamente a sua mão- -de-obra e operações. Contudo, as empresas têm mais espaço para se desenvolverem, uma vez que apenas 12% e 22% atingiram níveis avançados de preparação em ambas as frentes, respectivamente. A diversificação geográfica, em muitos casos, significa uma mudança para modelos mais locais de produção e consumo.

Os CEO estão também a abraçar o desenvolvimento de produtos circulares para diversificar ainda mais a sua produção de materiais e aumentar a sua resiliência. A Royal KPN N.V., por exemplo, descobriu que o seu programa de circularidade desenvolveu a sua agenda de sustentabilidade e permitiu à empresa proteger o seu negócio de choques no fornecimento. Joost Farwerck, CEO & presidente do Conselho de Administração, afirma: «O nosso programa de circularidade é parcialmente uma salvaguarda contra a escassez de material e riscos geopolíticos na nossa cadeia de fornecimento. Ao recolher equipamentos antigos dos nossos clientes, podemos reduzir a dependência de matérias-primas estrangeiras.»

 

  • Os CEO sentem que só agora começaram a avançar com soluções baseadas na natureza para criar empresas mais resilientes

O Programa das Nações Unidas para o Ambiente (UNEP) revela que as soluções baseadas na natureza são opções de baixo custo que reduzem os riscos climáticos, restauram e protegem a biodiversidade, e trazem benefícios para as comunidades e economias. Enquanto 46% dos CEO a nível mundial começaram a explorar soluções baseadas na natureza, apenas 7% estão a utilizá-las a um nível avançado. O duplo impacto das soluções baseadas na natureza como táctica de mitigação e como alavanca para criar resiliência contra as alterações climáticas representa uma oportunidade de investimento inestimável, revelam os CEO.

Poucas empresas líderes estão a maximizar o potencial da protecção da biodiversidade para fazer avançar modelos de negócios de zero emissões líquidas. Por exemplo, a empresa brasileira de cosméticos Natura – uma das quatro marcas do grupo de beleza global Natura &Co – opera uma gama “Ekos” com fórmulas feitas com compostos bioactivos puros da floresta tropical amazónica. O modelo preserva actualmente dois milhões de hectares de terra na Amazónia, uma área equivalente a metade dos Países Baixos, e tem como objectivo preservar três milhões de hectares até 2030. A empresa pretende expandir o seu alcance de 33 para 40 comunidades fornecedoras e aumentar os fluxos de receitas com a utilização de 55 bioingredientes, a partir dos 38 actuais.

 

  • Os CEO revelam que ainda não implementaram medidas para mitigar a disrupção na força de trabalho e assegurar uma transição justa

Embora os principais CEO tenham noção da inevitável transformação da força de trabalho, muitos não estão tão concentrados nos riscos. Menos de um em cada cinco CEO a nível mundial considera o aumento das desigualdades sociais entre a força de trabalho (19%) como um risco máximo, devido aos impactos físicos das alterações climáticas. Apenas 16% consideram as oportunidades reduzidas para trabalhadores, sindicatos e comunidades locais como um risco de topo.

A transição para uma economia de zero emissões líquidas pode levar à alienação e deslocamento de pessoas dependentes de indústrias altamente emissoras. Segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT), as alterações climáticas e a degradação ambiental podem pôr em risco quase 1,2 mil milhões de empregos, o que constitui 40% da força de trabalho global.

Os CEO não estão a responder a este risco iminente com urgência. Apenas metade dos CEO a nível mundial (50%) implementaram redes de segurança social para proteger a sua força de trabalho de riscos significativos relacionados com o clima. Além disso, menos de metade dos CEO a nível mundial (47%) estão a investir em empregos verdes para cumprir a Agenda 2030 e o Acordo de Paris. Os principais CEO reconhecem a importância destes investimentos, como observa Anna Borg, presidente e CEO da Vattenfall: «Não podemos impedir o mundo de progredir na transição da sustentabilidade. Temos de garantir que nos requalificamos para os empregos do futuro.»

Mais importante ainda tendo em conta o seu nível de transformação, 51% das empresas em indústrias altamente emissoras estão a investir em empregos verdes. As empresas devem apoiar uma transição justa, e construir uma protecção social, investindo em empregos verdes e dignos e reciclando e requalificando os trabalhadores e as comunidades mais afectadas pela mudança para uma economia de baixo carbono. Os CEO não são os únicos responsáveis pela estabilidade da força de trabalho, mas reconhecem o seu papel na preservação de uma transição justa. Enquanto que os líderes empresariais trabalham para requalificar a sua força de trabalho, os CEO afirmam que os governos devem criar um ambiente para a adaptação dos colaboradores. Ao mesmo tempo, os trabalhadores devem agir face a estas oportunidades.


TECNOLOGIA

Irá definir a próxima fronteira da acção climática

 

  • Os CEO acreditam que a tecnologia é o principal impulsionador de novos modelos de negócio e irá desbloquear o futuro da descarbonização da indústria

A tecnologia está fundamentalmente a transformar modelos de negócio e está também a introduzir indústrias inteiramente novas nos esforços para acelerar a descarbonização global. Como explica Christian Klein, CEO e membro do Conselho Executivo da SAP SE, «a tecnologia pode ajudar a enfrentar alguns dos mais profundos desafios ambientais, económicos e sociais do nosso tempo à escala. Permite-nos converter os maiores desafios nas maiores oportunidades e tornar a sustentabilidade rentável e a rentabilidade sustentável.» Os avanços nas tecnologias desde a inteligência artificial (IA) e a Internet of Things (IoT) até à gestão da cloud estão a forçar os CEO a subir a fasquia das ambições climáticas.

Os líderes reconhecem que, embora a tecnologia não seja uma solução mágica isoladamente, é um poderoso potenciador de uma acção climática reforçada. Manon van Beek, CEO da TenneT TSO B.V., explica que «a inovação é mais do que apenas desenvolver tecnologia; trata-se de combinar as tecnologias certas, no momento certo, no lugar certo».

 

  • A investigação inovadora e as iniciativas de desenvolvimento prometem um progresso considerável da sustentabilidade seguinte, revelam os CEO

Actualmente, mais de três quartos dos CEO a nível mundial (77%) estão a promover investigação e desenvolvimento centrados na sustentabilidade – da concepção do produto à selecção dos materiais. «O futuro promete condução autónoma, casas inteligentes e cidades inteligentes. Para tornar este futuro possível, vamos continuar a investir pró-activamente na inovação e na infra-estrutura tecnológica subjacente», declara Toshiki Kawai, director representativo, presidente & CEO da Tokyo Electron Limited.

As empresas líderes também representam virtualmente activos que utilizam a tecnologia de twin digital para reimaginar oportunidades de incorporação da sustentabilidade no início da concepção de produtos. A nível mundial, 44% dos CEO dizem que a tecnologia de twin digital terá um impacto significativo na sustentabilidade da sua indústria nos próximos cinco anos; é de notar que, 65% dos CEO do sector imobiliário concordam com essa avaliação. David Briggs, CEO do Grupo VELUX, observa como os twins digitais já estão a apoiar a sustentabilidade na sua indústria. «A digitalização está aqui, agora é uma questão de adopção. Cada edifício deve ter um twin digital para nos ajudar a compreender como substituímos, reutilizamos e reciclamos componentes ao longo de todo o ciclo de vida de um edifício.»

 

  • Para conseguirem cumprir a promessa da tecnologia, os CEO dizem que devem ultrapassar as limitações de acessibilidade e conhecimento

Aproveitar todo o potencial da tecnologia para resolver o desafio climático exige a redução de custos. Mais de metade dos CEO a nível mundial (54%) citam a acessibilidade das tecnologias disponíveis como um importante obstáculo aos seus esforços de sustentabilidade no seu sector. Como observa a Anish Shah, directora-geral e CEO da Mahindra & Mahindra Ltd., «duas áreas irão definir o progresso da sustentabilidade global para as pessoas, as empresas e o planeta: o fluxo de tecnologia e o fluxo de capital».

Além disso, a falta de conhecimentos de tecnologia impede os CEO de obter ganhos de sustentabilidade. Mais de metade dos CEO a nível mundial (53%) afirmam que têm dificuldade em compreender quais as tecnologias que podem melhorar o seu desempenho em matéria de sustentabilidade. Os CEO de empresas mais pequenas são travados desproporcionadamente por limitações nos conhecimento: 58% dos CEO de empresas com menos de 22 milhões de euros em receitas anuais têm dificuldade em compreender quais as tecnologias a utilizar para melhorar os seus esforços de sustentabilidade – em comparação com 43% dos CEO de empresas com mais de mil milhões de euros em receitas anuais.


O CAMINHO PARA 2030

O que é que as empresas precisam por parte dos decisores políticos

 

  • Alinhar contributos determinados nacionalmente (CDN) para a trajectória de aquecimento de 1,5 °C

Globalmente, os CEO esperam que os governos e decisores políticos alinhem os seus CND com uma trajectória de aquecimento de 1,5 °C para melhor compreenderem as ambições climáticas nas suas próprias empresas. 62% dos CEO – e 66% dos CEO das maiores empresas mundiais – afirmam apoiar a redução do aquecimento global de um aumento de 2 °C para um aumento de 1,5 °C acima dos níveis pré-industriais, de acordo com as recomendações do Painel Intergovernamental sobre Alterações Climáticas da ONU.

Os CEO procuram aproveitar “loops de ambição”, um ciclo de feedback positivo em que a acção do sector privado e as políticas governamentais se reforçam mutuamente. Por exemplo, a recente Ordem Executiva sobre Risco Financeiro Relacionado com o Clima do Governo dos EUA introduziu uma obrigação para os principais fornecedores federais estabeleceram um objectivo baseado na ciência.

À medida que o mundo continua a combater a pandemia do coronavírus enquanto a realidade climática se intensifica, os CND mais fortes podem ajudar as empresas a alinhar os seus próprios modelos de negócio – que estão actualmente sob mudanças dramáticas – para se alinharem com uma trajectória de 1,5 °C. No entanto, apenas 18% dos CEO sentem hoje que os governos e decisores políticos lhes deram a clareza necessária para melhor recuperarem da pandemia de COVID-19 em linha com uma trajectória de aquecimento de 1,5 °C. Segundo o último relatório síntese dos CDN da United Nations Framework Convention on Climate Change (UNFCCC), os planos actuais levarão a um aquecimento de 2,7 °C acima dos níveis pré-industriais.

 

  • Reforçar a cooperação global em mecanismos de fixação de preços de carbono alinhados com o acordo de Paris

Globalmente, 36% dos CEO – e 47% dos CEO das maiores empresas – pedem aos responsáveis políticos que ratifiquem o Artigo 6 do Acordo de Paris nas negociações da COP26; o artigo relativo à cooperação internacional, mercados de carbono e mecanismos de crédito de carbono para ajudar as indústrias a transitarem para zero emissões líquidas. Além disso, 39% dos CEO dos sectores com maiores emissões a nível mundial apelam aos decisores políticos para que ratifiquem o Artigo 6.

Para os CEO, o alinhamento dos instrumentos de fixação de preços de carbono criará um ambiente mais estável e previsível para incentivar soluções de redução de emissões. Ao mesmo tempo, os líderes empresariais apelam a um mercado justo e global para o carbono, a fim de assegurar a responsabilização. A finalização das regras dos mecanismos do mercado internacional ao abrigo do Artigo 6 do Acordo de Paris proporcionará o apoio necessário para que se consiga minimizar a fuga de carbono, em paralelo com a criação de condições mais equitativas em todas as indústrias.

 

  • Estabelecer normas comuns para a protecção da biodiversidade e vias para soluções baseadas na natureza

Os líderes empresariais estão também a apelar a quadros abrangentes e normas de relatórios sobre biodiversidade para melhor avaliar o impacto das suas operações. A nível mundial, menos de um em cada cinco CEO (21%) reconhece a perda de biodiversidade e de serviços de ecossistemas relacionados – como a acidificação oceânica, o colapso da polinização e a redistribuição de espécies marinhas – como um risco para o seu negócio ou indústria.

Em comparação com quadros de redução de emissões e normas de desempenho, a avaliação do impacto sobre a biodiversidade continua a ser incipiente. Contudo, mais de 40 biliões de euros de valor económico – mais de metade do PIB global – está moderada ou altamente dependente da natureza, reforçando a gravidade do desafio.

Os investimentos em soluções baseadas na natureza não são viáveis apenas para o sector privado.

Os governos devem encorajar mecanismos inovadores para incentivar as empresas a aumentar a escala das soluções baseadas na natureza à medida que os bancos multilaterais de desenvolvimento e os países aumentam o financiamento da adaptação.

 

  • Aumentar o envolvimento empresarial na formação de políticas climáticas para uma acção climática colaborativa

Tanto os governos como os decisores políticos precisam de envolver o sector privado mais pró-activamente em soluções climáticas, desde os ganhos a curto prazo até aos compromissos a longo prazo. Apenas 30% dos CEO a nível mundial dizem acreditar que os governos têm uma boa noção da opinião empresarial sobre políticas climáticas. A colaboração entre o Governo e as empresas em áreas como sistemas de aquisição, planeamento e desenvolvimento de infra-estruturas ecológicas pode proporcionar inovação e transição aceleradas. Por exemplo, na Europa, os governos e uma parceria empresarial no Mar do Norte poderiam desenvolver capacidades de partilha de energias renováveis em múltiplos países pela primeira vez.

Os CEO querem partilhar os seus conhecimentos, inovações e soluções climáticas à escala, através de políticas que reduzam as emissões para metade até 2030 e alcancem um nível de zero emissões líquidas até 2050, em conformidade com o Acordo de Paris.

Artigo publicado na revista Executive Digest n.º 189 de Dezembro de 2021

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