LET THERE BE CHANGE: Cumprir a promessa da sustentabilidade

Este momento sem precedentes exige uma acção concertada de empresas, governos e sociedade civil para construirmos um futuro equitativo, resiliente e sustentável para as pessoas e para o planeta. O desenvolvimento sustentável impulsiona a resiliência, que é uma das razões por que os stakeholders exigem que as empresas se reconstruam para melhor. Com o pleno envolvimento da comunidade empresarial, podemos ainda criar o impacto necessário para atingir os Objectivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) das Nações Unidas até 2030 e mitigar futuros choques económicos da magnitude da COVID-19.

Este relatório da Accenture descreve a escala dos desafios que enfrentamos ao reconstruirmos um futuro melhor e descreve as oportunidades para as empresas contribuírem para um mundo mais resistente e sustentável. A nossa análise centra-se em 12 sectores e na forma como cada um deles está posicionado de forma única para fazer avançar ODS específicos, beneficiando simultaneamente de custos e riscos reduzidos, de uma confiança reforçada com os stakeholders e de novas oportunidades de crescimento. O relatório serve de guia para os CEO identificarem vias para uma reinvenção específica do sector e para uma acção colectiva intersectorial no trajecto para um negócio responsável.


CADA SECTOR TEM UM PAPEL A DESEMPENHAR

Todos os sectores têm um papel a desempenhar quando se trata de reconstruir para melhor. A Accenture Strategy examinou como 12 sectores estão posicionados de forma única para avançar com ODS específicos. A avaliação do impacto de cada sector baseia-se numa combinação de factores que abrangem toda a sua cadeia de valor – incluindo as suas ofertas de produtos e serviços, a composição da sua mão-de-obra, a pegada operacional e as regiões em que opera.

AUTOMÓVEL

1. Apoiar a transição da sociedade para uma mobilidade com zero emissões de carbono

O sector dos transportes é responsável por 14% das emissões anuais de gases com efeito de estufa, sendo 72% provenientes de veículos rodoviários. Ao apoiar a transição da sociedade para a mobilidade com zero carbono, a indústria automóvel pode reduzir as emissões globais de gases com efeito de estufa (ODS 13), e como resultado reduzir o número de mortes por poluição atmosférica (ODS 3).

O sector pode impulsionar o crescimento através do acesso aos mercados de mobilidade com zero carbono, de veículos eléctricos a bicicletas eléctricas e carregadores. Os veículos eléctricos representam um mercado em crescimento: O número de veículos eléctricos na estrada deverá crescer de 3,1 milhões em 2017 para 140 milhões em 2030.


2. Investir em modelos de negócios circulares

O valor em questão na economia circular da mobilidade pessoal é de 200-500 mil milhões de euros entre 2018 e 2030. Apesar das taxas de utilização na faixa dos 5-10%, estima-se que 100 milhões de automóveis serão produzidos em 2030 – e 20% do total de emissões de gases com efeito de estufa para veículos com motor de combustão interna são gerados na fase de produção.

O sector automóvel pode reduzir os custos de produção através de práticas de produção circulares, incluindo a reutilização de componentes, incorporando os fluxos de resíduos de outros sectores como matéria-prima e abraçando a produção inteligente. Os modelos de negócio circulares – serviços de aluguer de automóveis e mobilidade automatizada – podem melhorar o valor total do ciclo de vida de um automóvel, promovendo o consumo responsável (ODS 12) e sistemas de transporte acessíveis e económicos (ODS 11).


3. Reduzir acidentes rodoviários

Um dos objectivos contidos no ODS 3, saúde e bem-estar, é reduzir para metade o número global de mortos e feridos por acidentes rodoviários. Os fabricantes de automóveis podem vir a libertar valor e reduzir o risco, investindo em tecnologias que possam reduzir acidentes.

Podem investir em várias soluções relacionadas com a segurança, incluindo tecnologias veículo-a-veículo, como a travagem automática. As empresas que adiam a adopção de tais melhorias correm o risco de perder clientes à medida que estas intervenções se tornam a norma do sector.

BANCA E MERCADOS DE CAPITAIS

1. Abraçar a inovação e inclusão

O sector bancário e de mercados de capitais pode apoiar a inclusão financeira (ODS 1) inovando e expandindo as suas ofertas de produtos e serviços para chegar a um conjunto mais diversificado de clientes (ODS 10). As empresas podem expandir o acesso ao capital através da adaptação dos processos de crédito e empréstimo, por exemplo, utilizando comprovativos de emprego ou até aceitando outras garantias que não o histórico de crédito estabelecido, para conseguir aumentar o crédito a mulheres e a outros grupos minoritários (ODS 5 e 10).

O sector pode também alargar os seus canais de distribuição, como a utilização da banca móvel ou a oferta de microsseguros, para chegar aos dois mil milhões de adultos em todo o mundo que não têm acesso a uma conta bancária.


2. Avaliar e estabelecer a transparência das métricas de gestão

A gestão ambiental, social e empresarial (GASE) está ainda em evolução, e o sector bancário e dos mercados de capitais pode ajudar a resolver as directrizes de definição, as lacunas nos dados e as questões de medição para assegurar a plena participação das empresas. Ao fazê-lo, o sector pode encorajar as empresas a adoptar práticas sustentáveis, integrar a informação da GASE nos seus relatórios (ODS 12) e separar o crescimento económico da degradação ambiental (ODS 8).

Podem fazê-lo de três maneiras: convergir num quadro comum para avaliar as métricas da GASE, defender a normalização dos relatórios empresariais para resolver discrepâncias de classificação na GASE, assim como defender a automatização dos relatórios empresariais para facilitar a complexidade da avaliação e da elaboração de relatórios.


3. Financiar as prioridades globais da sustentabilidade

O sector bancário e dos mercados de capitais tem um papel fundamental no avanço dos ODS devido à sua influência no financiamento do capital. São necessários cerca de dois biliões de euros por ano para atingir os ODS até 2030. A pandemia revelou ainda mais a importância do impacto social e impulsionou o investimento em obrigações sociais: 9,6 mil milhões de euros em 15 de Maio de 2020, em comparação com 5,1 mil milhões de euros no mesmo período de 2019.

As empresas podem apoiar a transição para uma economia sustentável investindo directamente em projectos e facilitando a participação tanto do sector público como do privado (ODS 17). As empresas estão a colaborar com o sector público, investindo em projectos de energias renováveis e infra-estruturas, bem como angariando capital para a mitigação dos riscos climáticos e a adaptação às alterações climáticas.

PRODUTOS QUÍMICOS E MATERIAIS AVANÇADOS

1. Apoiar o consumo responsável

Os polímeros são utilizados para fabricar produtos plásticos e constituem cerca de 80% da produção da indústria química. Como tal, o sector químico possui um imenso potencial para impulsionar os modelos comerciais circulares e a inovação posterior (ODS 12).

As empresas podem aproveitar esta oportunidade ao estimularem a transparência nos fluxos de resíduos, estabelecendo sistemas de recolha em fim de vida para diferentes classes de materiais, implementando intervenções digitais ao longo da cadeia de valor e desenvolvendo processos de reciclagem química.

2. Investir em infra-estruturas para objectivos de sustentabilidade mais abrangentes

Ao alavancarem estímulos governamentais e investimentos direccionados, as empresas químicas podem cimentar o seu lugar na transição energética e o seu papel na concretização dos ambiciosos objectivos de sustentabilidade.

Por exemplo, o sector químico pode permitir o crescimento e a acessibilidade de preços da economia de hidrogénio verde, um pilar fundamental da transição energética. Ao melhorarem aspectos fundamentais como o processo de electrólise, as empresas podem reduzir o custo do hidrogénio verde ao ponto de este conseguir competir contra combustíveis tradicionais como o petróleo e o gás. Além disso, as empresas podem investir em investigação e desenvolvimento para criarem baterias mais baratas, mais pequenas e mais densas em energia, de forma a melhorar a sua relação custo-eficácia e acelerar a sua adopção.


3. Acelerar a emissão zero carbono e minimizar recursos

O sector químico gera cerca de 7% das emissões globais de gases com efeito de estufa. É também o maior consumidor mundial de energia industrial.

As empresas podem reduzir o seu impacto ambiental e os custos e riscos associados usando estratégias como o aproveitamento de resíduos plásticos mistos de baixa qualidade como matéria-prima, a utilização de insumos de energia renovável e a eliminação segura de materiais que não podem ser reaproveitados ou reciclados.

COMUNICAÇÕES

1. Acabar com o fosso digital

Uma internet aberta com acesso total, velocidade, informação, tratamento justo do tráfego e serviço de alta qualidade para todos pode acabar com o fosso digital. O sector das comunicações encontra-se numa posição única para fazer avançar o ODS 9: “Fornecer acesso universal e barato à internet nos países menos desenvolvidos.”

O sector também tem potencial para criar oportunidades de crescimento económico e procura de novas competências. As empresas podem facilitar a conclusão universal do ensino primário e secundário pelas crianças (ODS 4), expandindo-se para novos mercados onde os lares não têm acesso online.

Garantir que as pessoas têem direitos iguais aos recursos económicos (ODS 1) exige soluções inovadoras. Por exemplo, os sistemas de pagamento móvel, como o M-PESA do Quénia, têm potencial para servir dois mil milhões de pessoas que estão actualmente sem banco a nível mundial.


2. Criar urbanização sustentável e resiliência

O sector das comunicações tem um grande papel a desempenhar na construção de infra-estruturas sustentáveis e resilientes (ODS 9 e 11).

O investimento em soluções 4G e 5G permitirá às cidades ligarem melhor as suas infra-estruturas, dispositivos e pessoas – com potencial para optimizar o fluxo de tráfego e a segurança, melhorar a eficiência das operações urbanas, melhorar a eficiência energética e a gestão de resíduos, e monitorizar a qualidade do ar.

As empresas de comunicação podem também proteger pró-activamente as suas infra-estruturas operacionais investindo na resposta a catástrofes naturais e na recuperação, o que, por sua vez, reforçará a resiliência e a capacidade de adaptação das cidades aos riscos relacionados com o clima (ODS 13).


3. Permitir a redução de emissões derivadas

O sector das comunicações pode permitir às empresas integrar medidas sobre alterações climáticas no planeamento estratégico (ODS 13) e reduzir as emissões de gases com efeito de estufa derivadas.

Em 2018, a tecnologia móvel permitiu uma redução de emissões equivalente a mais de dois mil milhões de toneladas de CO2, aproximadamente 10x a pegada de carbono do próprio sector móvel. As intervenções possíveis incluem teletrabalho, unidades inteligentes de medição/resposta à procura, e poupança de combustível e de energia com base na máquina e na internet das coisas.

BENS DE CONSUMO E RETALHO

1. Reduzir as pegadas ambientais operacionais

Os bens de consumo e o retalho têm uma grande pegada ambiental operacional. Só a indústria da moda é responsável por 10% das emissões anuais de gases com efeito de estufa e consome 93 mil milhões de metros cúbicos de água por ano – mais de 10% da água utilizada por todos os tipos de sector.

Os bens de consumo e as empresas retalhistas podem reduzir o seu desperdício e a utilização de materiais – e os riscos e custos associados – aumentando a sua utilização de energias renováveis, adquirindo materiais recicláveis, utilizando subprodutos da sua própria indústria e de outras, implementando a reciclagem de água e a utilização de águas cinzentas nos sistemas de produção, e mantendo níveis de inventário mais baixos.


2. Implementar modelos de negócios circulares

As empresas podem aproveitar valor comercial e promover o consumo responsável e a redução de resíduos derivados através da implementação de modelos comerciais circulares, com mais de 49 mil milhões de euros em valor económico em jogo anualmente só no mercado das embalagens reutilizáveis.

As empresas podem tirar partido da procura dos consumidores por produtos mais sustentáveis, desenvolvendo modelos empresariais inovadores, como o aluguer de vestuário, a venda a retalho de produtos usados, ou a reformulação do “modelo das garrafas de leite”, em que uma empresa consegue reduzir o desperdício ao recolher e reutilizar as embalagens dos seus produtos.


3. Assegurar cadeias de valor robustas e inclusivas

Estima-se que 170 milhões de crianças estejam envolvidas em trabalho infantil (ODS 8), muitas delas na indústria têxtil e do vestuário. Além disso, os salários dos trabalhadores das cadeias de fornecimento de vestuário, couro e calçado nos países menos desenvolvidos podem variar entre 14-36% dos salários mínimos (ODS 10).

O sector pode fazer avançar as ODS assumindo a responsabilidade de assegurar a protecção social da sua mão-de-obra alargada. As empresas podem incorporar e promover/ forçar a inclusão, diversidade e normas de direitos humanos nas suas cadeias de valor.

Estas medidas irão melhorar a produtividade e reforçar o valor da marca. Exemplos de medidas incluem a adopção de políticas de igualdade de oportunidades (ODS 5) através da aplicação de direitos laborais, padrões e salários de vida, a implementação de programas de novas competências para melhorar o acesso a oportunidades profissionais, e o desenvolvimento da capacidade dos pequenos empresários. Ao assegurar que os fornecedores cumprem estes mesmos padrões, as empresas podem criar cadeias de valor robustas e inclusivas.

TECNOLOGIA ENERGÉTICA E UTILITIES

1. Adoptar uma abordagem de valor para a transição para energia limpa

Uma abordagem de valor do sistema para a transição para energia limpa tem em conta não só o custo da energia, mas também o impacto mais amplo na sociedade – incluindo emissões, consumo de água, qualidade do ar, criação de emprego, e acesso e resiliência da energia.

Este quadro tem uma visão holística do impacto da geração renovável, da eficiência energética e das melhorias na rede, tanto na economia como na sociedade. Esta abordagem pode informar melhor as decisões de investimento a longo prazo e o seu impacto nos ODS. As energias renováveis superam as fontes de energia tradicionais em termos de emissões, pegada hídrica e criação de emprego. O Plano de Recuperação Sustentável da AIE coloca a eficiência energética como proporcionando as maiores reduções de emissões e criando mais de 9,5 milhões de postos de trabalho ao longo dos anos. Por fim, as melhorias na rede facilitarão ainda mais a penetração das energias renováveis e o aumento da electrificação.


2. Atingir os objectivos líquidos zero

Actualmente, mais de 100 cidades globais obtêm pelo menos 70% da sua electricidade a partir de fontes renováveis, e esse número irá aumentar à medida que mais governos se comprometerem com um futuro de energia limpa.

A tecnologia energética e o sector dos serviços públicos podem apoiar as cidades (ODS 11) e os centros industriais (ODS 9) a atingirem os seus objectivos líquidos zero, descarbonizando a produção de energia e investindo em novos conjuntos de valor emergentes da transição de energia limpa, incluindo energias renováveis, armazenamento à escala de serviços públicos, veículos eléctricos e hidrogénio verde. As parcerias colaborativas e a partilha de conhecimentos entre diferentes grupos industriais e organizações do sector público podem ajudar as empresas a inovar nestas soluções e a melhorar a sua competitividade em termos de custos, fiabilidade e capacidade de armazenamento.


3. Assegurar o acesso equitativo a energia limpa e a serviços de energia com baixo teor de carbono

A tecnologia energética e o sector dos serviços públicos devem satisfazer a crescente procura de acesso à energia limpa no espectro de consumidores. Isto inclui o fornecimento de serviços energéticos modernos e sustentáveis para todos (ODS 7) e a resposta às preferências dos consumidores por serviços energéticos e interacções digitais com baixo teor de carbono.

As empresas podem expandir o acesso à energia nos países menos desenvolvidos e a outras comunidades fora da rede, investindo em microrredes de baixo carbono, sistemas solares comunitários de baixo custo e outros projectos de energia limpa fora da rede. Além disso, os modelos de negócio centrados no cliente permitem fornecer serviços de energia com baixo teor de carbono, incluindo o carregamento de veículos eléctricos, os planos de energia verde e os serviços domésticos ligados a consumidores que estão preocupados com a sustentabilidade.

ALIMENTAÇÃO E AGRICULTURA

1. Conseguir reduzir a pegada ambiental operacional

O sector alimentar e agrícola tem um efeito acentuado no ambiente e nos seus recursos naturais. A produção alimentar representa 26% das emissões globais de gases com efeito de estufa e 70% da água doce do mundo é utilizada para a agricultura.

O sector pode implementar práticas agrícolas regenerativas – e obter matérias-primas de empresas que empregam estas práticas – para reduzir a sua utilização de água e de terra (ODS 6 e 15). As empresas podem reduzir as suas emissões de gases com efeito de estufa aumentando a eficiência energética ao longo das cadeias de valor e implementando um preço interno do carbono para informar as decisões. O desenvolvimento de uma agricultura resistente ao clima (ODS 13) irá reduzir os riscos nos sistemas de produção e poupar custos operacionais.


2. Permitir o consumo e produção sustentáveis de alimentos

Aproximadamente 30% dos alimentos produzidos globalmente são perdidos ou desperdiçados, representando 800 mil milhões de euros em perdas económicas anuais, 580 mil milhões em custos ambientais e 750 mil milhões em custos sociais. Algumas metodologias para reduzir o desperdício alimentar incluem a doação de alimentos que seriam desperdiçados, a normalização dos rótulos de validade e o aumento da venda de frutas e vegetais irregulares.

O sector pode permitir estilos de vida mais saudáveis para os seus clientes, alinhando os produtos com os consumos calóricos diários recomendados e os tamanhos das porções, e desenvolvendo novos produtos alimentares mais saudáveis. As alternativas baseadas em plantas estão a tornar-se cada vez mais competitivas contra os produtos de origem animal e, como resultado, podem reduzir a pegada ambiental da agricultura animal. Por exemplo, a produção de carne bovina utiliza 20 vezes mais terra e produz 20 vezes mais emissões do que feijões em crescimento por grama de proteína. O mercado de alimentos à base de plantas que substituem os produtos animais cresceu 29% nos últimos dois anos para os 4,1 mil milhões de euros.


3. Criar cadeias de valor agrícola equitativas

O sector alimentar e agrícola pode promover cadeias de valor inclusivas e resilientes para proteger a força de trabalho e o negócio de choques exógenos. A força de trabalho enfrenta condições de trabalho perigosas, incluindo exposição a pesticidas, stress térmico e maquinaria perigosa. As empresas podem investir na sua força de trabalho e reduzir o número de pessoas que vivem na pobreza (ODS 1), impondo direitos e padrões laborais e salários mínimos (ODS 8 e 10), reduzindo os riscos profissionais, promovendo práticas agrícolas mais seguras e investindo em tecnologias que melhoram a segurança.

As cadeias de abastecimento agrícola equitativas são resistentes a rupturas. Além disso, as empresas alimentares e agrícolas podem melhorar a representação das mulheres em cargos de liderança dentro das próprias empresas, ao mesmo tempo que promovem a plena participação das mulheres ao longo das cadeias de valor (ODS 5). Por exemplo, ao trabalharem com o sector dos serviços financeiros, as empresas podem melhorar o acesso das mulheres ao capital melhorando tecnologias agrícolas.

CIÊNCIAS DA VIDA

1. Assegurar o acesso equitativo a medicamentos e tratamentos

As empresas de ciências da vida estão numa posição única para avançar no progresso da saúde e bem-estar (ODS 3) em comparação com outros sectores. Colaborando com governos, as empresas podem ajudar a reforçar os sistemas de saúde dos países, desenvolvendo tratamentos inovadores e de baixo custo para doenças transmissíveis e não transmissíveis.

As margens sobre estes medicamentos e tratamentos podem impedir o acesso das populações vulneráveis a medicamentos essenciais e exacerbar o fosso de desigualdade (ODS 10). Para expandir o acesso, as empresas podem adoptar modelos de baixo preço e de alto volume. O sector pode também promover o acesso à saúde sexual e reprodutiva (ODS 5) apoiando parcerias globais para a saúde materna e neonatal e melhorando os cuidados de saúde reprodutiva nos países menos desenvolvidos através da expansão do acesso à informação, contracepção, e fornecimentos e serviços médicos.


2. Melhorar a resiliência empresarial e social às crises relacionadas com a saúde

A COVID-19 demonstrou que não estão a ser feitos progressos suficientes na preparação para uma pandemia, também evidenciado pelo facto de as vacinas representarem apenas 3% do mercado mundial de produtos farmacêuticos de um bilião de euros. A indústria das ciências da vida pode melhorar a resiliência empresarial e social a crises relacionadas com a saúde, adoptando modelos de inovação aberta nas suas práticas de investigação e desenvolvimento.

O aumento da complexidade das doenças e dos custos de investigação tornam os modelos de inovação aberta mais competitivos para o sector. À medida que a colaboração aumenta, aumenta também a importância de uma gestão segura dos dados. Ao investirem em soluções que previnem, controlam e eliminam doenças globais, as empresas podem não só ajudar a desenvolver a resiliência da sociedade a crises relacionadas com a saúde, mas também expandir as suas carteiras de produtos e aumentar o valor da sua marca.


3. Assegurar cadeias de valor equitativas e sustentáveis

As empresas de ciências da vida podem proteger os direitos e meios de subsistência da sua força de trabalho e cadeias de valor, implementando políticas de igualdade de oportunidades, promovendo a inclusão e a diversidade, e proporcionando benefícios essenciais, tais como cuidados de saúde e licença parental remunerada. A indústria pode também reduzir o seu impacto ambiental através da aquisição responsável de materiais e da melhoria da eficiência energética, especialmente dos sistemas de aquecimento, ventilação e ar condicionado (HVAC), que podem representar 60-75% do consumo de energia da produção de produtos farmacêuticos.

A gestão responsável dos resíduos farmacêuticos é especialmente importante, uma vez que a não eliminação responsável de resíduos pode contribuir para a resistência antimicrobiana. Apenas nove dos 118 produtos farmacêuticos avaliados foram removidos com sucesso durante o tratamento de águas residuais, indicando que as empresas devem conceber processos para impedir que os resíduos farmacêuticos cheguem ao ambiente. As empresas podem reduzir os custos operacionais através da gestão da utilização dos recursos naturais e da produção de resíduos ao longo de todo o ciclo de vida dos seus produtos.

MEIOS DE COMUNICAÇÃO E ENTRETENIMENTO

1. Permitir a distribuição equitativa de conteúdos, acessibilidade e preços acessíveis

Os sistemas de comunicação social são tendenciosos: são para os falantes da língua ocidental, os mais capazes e os mais ricos. Isto agrava as desigualdades existentes (ODS 10).

Para reduzir estas lacunas e expandir o seu alcance, o sector pode usar diferentes plataformas e canais de distribuição para alcançar uma base de clientes mais diversificada, por exemplo, cumprindo as normas para pessoas com deficiência e fornecendo informação através de canais mais acessíveis. Estas normas também têm implicações nos resultados escolares (ODS 4), uma vez que os materiais de aprendizagem escolar são cada vez fornecidos não pelo Estado, mas por empresas comerciais de comunicação social.


2. Criar conteúdos e representação ética e inclusiva

O sector dos media e do entretenimento desempenha um papel único no apoio ao diálogo público, reforçando o conhecimento de formas de apoiar o desenvolvimento sustentável, e responsabilizando os governos (ODS 16). As empresas podem também obter resiliência e confiança através de conteúdos socialmente responsáveis, assegurando uma representação diversificada no seu conteúdo e na sua força de trabalho (ODS 5 e 10).

Colectivamente, o sector pode continuar a combater os conteúdos nocivos, adoptando definições e ferramentas comuns para categorizar conteúdos não seguros, como o que a Aliança Global para Meios de Comunicação Responsáveis, lançada em 2019, procura fazer.


3. Reduzir o desperdício e ineficiências na criação de conteúdos

O sector dos media e do entretenimento pode reduzir os custos associados ao desperdício e ineficiências ao longo das suas cadeias de valor, da criação de conteúdos à distribuição e consumo. As empresas podem integrar estratégias de sustentabilidade nas suas instalações para minimizar o desperdício operacional, energia e consumo de água, por exemplo, aumentando a utilização de energia renovável ou a eficiência do arrefecimento de água dos centros de dados.

Além disso, as redes de distribuição de conteúdo circular e a tecnologia de compressão de fonte aberta podem escalar a distribuição de conteúdo digital ao mesmo tempo que melhoram a eficiência e as limitações de largura de banda. As empresas podem mudar para a entrega baseada em aplicações ou “thin clients” para reduzirem a utilização de material de conteúdo digital e usarem material reciclado em suportes impressos.

MINERAÇÃO E METAIS

1. Acelerar a mudança para modelos de negócio circulares

As principais oportunidades circulares para o sector mineiro e metalúrgico incluem materiais renováveis, capitalizando os resíduos a montante e implementando novos modelos de negócio para a recuperação a jusante. O aumento da partilha/aluguer de automóveis, o fabrico de resíduos para valorização e a revenda de materiais e baterias reciclados podem aproveitar o mercado de massas, permitindo ao sector gerar valor através da descomoditização.

O sector pode também ter impacto nos modelos de negócios circulares derivados, abraçando a produção inteligente e implementando soluções digitais que reduzem as taxas de recolha e reduzem o custo de peças defeituosas.


2. Contribuir para o desenvolvimento equitativo e sustentável da mão-de-obra e das comunidades mineiras

As empresas mineiras e metalúrgicas não têm uma obrigação apenas para com os seus próprios trabalhadores, mas também para com as comunidades em que as suas minas e fábricas operam. As empresas podem facilitar o acesso equitativo a oportunidades de emprego e concentrar-se na qualificação da sua força de trabalho actual com programas de formação e aprendizagem.

Podem também trabalhar directamente com as comunidades para compreender os seus potenciais impactos positivos e negativos, a fim de melhor investirem em iniciativas económicas e sociais. Ao fazê-lo, deve ser dada ênfase à expansão de oportunidades para reforçar a voz dos grupos marginalizados, incluindo as mulheres, e para apoiar a tomada de decisões locais relativamente às operações mineiras, de forma a reduzir a desigualdade nas oportunidades económicas (ODS 10 e 11).


3. Acelerar no sentido de objectivos líquidos zero

A extracção de material actualmente usada pelo sector tem graves consequências ambientais, das emissões de gases com efeito de estufa (ODS 13) à água (ODS 6) e à degradação do solo (ODS 15). indústria mineira e metalúrgica é responsável por cerca de 7% das emissões de gases com efeito de estufa, enquanto as emissões noutras partes da cadeia de valor contribuem para cerca de 30% das emissões de gases com efeito de estufa, em grande parte pela utilização de carvão.

O sector pode reduzir a sua intensidade de recursos – e os custos e riscos associados – empregando estratégias como a utilização de insumos renováveis, a redução da água doce utilizada para o processamento de minério através da reciclagem ou da utilização de fontes de água alternativas, e a promoção do planeamento a nível paisagístico.

PETRÓLEO E GÁS

1. Capturar novas reservas de valor a partir de energia limpa

O sector do petróleo e gás tem vindo a expandir a sua carteira para captar novas reservas de valor a partir de energia limpa, incluindo transportes eléctricos, energias renováveis, biocombustíveis, captura e utilização de carbono, e hidrogénio verde. Até agora, estes investimentos fora das suas principais áreas de negócio representaram menos de 1% do total das despesas de investimento.

No passado, as empresas resistiram a oportunidades de diversificação fora da cadeia de valor do petróleo, gás e produtos químicos para dar prioridade aos retornos dos accionistas. O impacto da COVID-19 no sector está a alterar estes prismas tradicionais sobre o risco e o valor dos stakeholders, ao mesmo tempo que acelera um momento já transformador para o sector. As empresas podem aproveitar este momento para transformar as suas carteiras e modelos operacionais e fazer avançar os ODS.


2. Comprometer-se com os objectivos líquido zero

Em 2017, o sector do petróleo e do gás foi directamente responsável por 15% das emissões globais de gases com efeito de estufa do sector energético, mas as suas emissões da cadeia de valor foram mais do triplo dessa quantidade.

Portanto, este sector não só precisa de reduzir as suas próprias emissões de gases com efeito de estufa (ODS 13), como também pode ter um impacto poderoso ao impulsionar a transição para a energia limpa e ao colaborar com outros sectores para acelerar o progresso em direcção aos objectivos líquidos zero (ODS 9). Segundo a análise da Accenture Strategy, os operadores de petróleo e gás podem cumprir 90% das suas metas de emissões para 2030 e gerar cinco mil milhões de euros em valor adicional numa base anual com a utilização de tecnologias já disponíveis. Para além das suas próprias operações, as empresas petrolíferas e de gás podem ajudar a desenvolver clusters industriais líquido zero em sectores difíceis de reduzir, como cimento, aço, químicos, plásticos e transporte pesado.


3. Oferecer empregos na energia limpa e novas competências

Quase seis milhões de pessoas são directamente empregadas pela indústria do petróleo e do gás. Dez vezes mais pessoas têm empregos indirectamente criados pela indústria. O alcance do sector torna imperativa uma transição atempada para a energia limpa: para além das razões ambientais, milhões de meios de subsistência estão em risco.

As empresas devem procurar minimizar as disrupções através de novas qualificações dos seus colaboradores para novas funções e oportunidades criadas não só pela transição energética, mas também pela adopção de tecnologia, incluindo a automação e a cadeia de bloqueios. Isto pode incluir a expansão das capacidades empresariais e a criação de novos cargos dedicados à tecnologia de combustíveis fósseis mais limpos e à energia renovável. Estas intervenções não só ajudarão a preparar a força de trabalho para a transição de energia limpa, mas também a resistir a choques futuros no sector.

TECNOLOGIA

1. Permitir uma economia digital sustentável

O sector tecnológico pode facilitar os objectivos de sustentabilidade de outros sectores, fornecendo produtos e serviços de tecnologia sustentável, ao mesmo tempo aumentando a capacidade das empresas para mitigar o risco empresarial.

Por exemplo, as empresas estão a abraçar a cloud sustentável para aumentar a resiliência e a agilidade dos seus sistemas. À medida que mais empresas passam para a cloud sustentável, os grandes criadores de escala podem facilitar a transformação sustentável através da aquisição de energia renovável, incorporando técnicas inovadoras para reduzir o consumo de energia dos centros de dados e reduzindo o lixo electrónico.

O lixo electrónico é um dos f luxos de resíduos de crescimento mais rápido do mundo, com um aumento de 21% nos últimos cinco anos. As empresas tecnológicas podem desbloquear o crescimento, baixar os custos e reduzir a intensidade do material incorporando modelos comerciais circulares, como a oferta do produto como serviço, investindo em logística inversa, adquirindo materiais recicláveis, utilizando subprodutos do seu próprio sector e reformulando produtos e embalagens.


2. Concepção tendo em mente a acessibilidade e a privacidade dos dados

À medida que a tecnologia se integra cada vez mais na vida quotidiana, a acessibilidade e a privacidade dos dados serão fundamentais para assegurar uma paisagem digital inclusiva e segura. As empresas tecnológicas podem reduzir as desigualdades de resultados (ODS 10), não só incorporando princípios de acessibilidade nos seus produtos e serviços actuais, mas também explorando novos conjuntos de valores com o desenvolvimento de tecnologia de assistência.

Além disso, instituições eficazes e responsáveis dependem da privacidade e segurança dos dados (ODS 16). Nos primeiros seis meses de 2019, mais de 3800 violações de dados expuseram 4,1 mil milhões de registos. As empresas tecnológicas podem aumentar a confiança dos clientes e reduzir o risco, investindo na manutenção de software e em dispositivos seguros.


3. Expandir o acesso à tecnologia e a soluções

As empresas tecnológicas podem impulsionar tanto o benefício social como o crescimento económico inclusivo expandindo o acesso a soluções tecnológicas, tudo isto ao mesmo tempo que aceleram a eficiência operacional e o crescimento de toda a empresa. A inteligência artificial tem o potencial de duplicar as taxas de crescimento económico até 2035 e aumentar a produtividade laboral em até 40%, avançando no sentido do trabalho decente e do crescimento económico (ODS 8). Contudo, a automatização poderá também colocar em risco 20 milhões de empregos até 2030.

As empresas tecnológicas podem ajudar, colmatando falhas nas competências digitais e interfuncionais e investindo em formação online e em programas de cursos digitais. O sector pode também investir em comunidades mal servidas, melhorando o acesso a hardware e software. Haverá 450 milhões de cursos de e-learning em 2030, proporcionados por investimentos em servidores na cloud para apoiar ferramentas de videoconferência e capacidades de tradução automática. A COVID-19 demonstrou certamente a importância da tecnologia para facilitar a qualidade e o acesso à educação (ODS 4).

Este é um momento marcante na história. A mudança para o capitalismo dos stakeholders será acelerada e ampliada, e o enfoque no desenvolvimento sustentável será fundamental para a competitividade e o sucesso sustentado das empresas que avançam.

Estamos apenas no início. À medida que o nosso mundo continua a tornar-se mais complexo, novas exigências exigirão que os líderes permaneçam vigilantes. Permanecer na vanguarda destas questões é fundamental.

Uma liderança orientada por objectivos criará um novo valor no futuro. Foi estabelecida uma nova fasquia. Agora, quem estará à altura do desafio?

Artigo publicado na Revista Executive Digest n.º 182 de Maio de 2021

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