Accenture Digital Business: Inteligência Artificial. Um guia para executivos
Actualmente, só se fala de Inteligência Artificial (IA) e como isso vai mudar, para sempre, a forma como se vive e se conduz os negócios.
De facto, a IA está a tornar- se a maior revolução tecnológica que o mundo já viu. É um factor de produção completamente novo, capaz de impulsionar o crescimento dos negócios, aumentando a experiência humana natural, levando a automação a novos lugares e difundindo a inovação pela sociedade.
REVOLUÇÃO TECNOLÓGICA
Só se fala de IA. Das salas de reuniões às fábricas, dos call centers às frotas de logística, e dos governos aos empreendedores de risco, a IA tornou-se subitamente o tema mais popular.
Mas será que é mais do que um lugar-comum da mais recente tecnologia? Sim é a resposta. De facto, a IA pode ser simplesmente a maior revolução tecnológica que o mundo alguma vez viu.
Nos últimos 20 anos, aproximadamente, os negócios enfrentaram a sua quota-parte de disrupção. De facto, acredita-se que a disrupção digital tenha colocado mais de metade das empresas da Fortune 500 fora do mercado desde 2000. E agora a IA pode agravar essa disrupção, levando-a para a etapa seguinte.
Isto porque a IA é o que os economistas chamam de tecnologia de uso geral. E essas tecnologias de uso geral são importantes: pensem na electricidade e no motor de combustão interna. São tecnologias que, além de impactarem directamente a sociedade, permitem outras inovações complementares. E é aí que reside a sua importância. A electricidade tornou possível a electrificação das fábricas, a comunicação por telégrafo e tudo o que se seguiu. E o motor de combustão interna deu origem ao automóvel, ao avião e às redes modernas de transportes e logística. A IA terá um impacto semelhante na sociedade.
A IA tornou-se, actualmente, viável graças ao efeito conjunto de uma série de tendências tecnológicas velozes. Essas tendências estão a diminuir os obstáculos à implementação desta tecnologia em diversos sectores. Uma nova vaga de negócios com IA está a entrar no mercado, mudando o panorama competitivo dos players tradicionais. Esses novos negócios são mais ágeis, livres de sistemas tecnológicos antigos, de canais de distribuição ou da necessidade de transformação na força de trabalho.
IA NÃO É UM CONCEITO NOVO
No entanto, a IA está longe de ser uma ideia nova.
O termo “inteligência artificial” tem vindo a ser utilizado desde 1956. E a história do desenvolvimento da tecnologia tem sido caracterizada por ondas de optimismo seguidas de decepção e períodos de inércia (que foram até apelidados de “invernos de IA”). Cada avanço feito não correspondia ao sensacionalismo à volta do tema, nem contribuía para o desenvolvimento de uma tecnologia convencional.
A grande diferença actual é, segundo a Accenture, estarmos num período sem precedentes de inovação tecnológica em muitos campos diferentes. As aplicações actuais da IA podem usar o poder de processamento praticamente ilimitado na cloud. E podem explorar a tendência crescente de chips de computador personalizados para tarefas específicas, principalmente análises, o que permite níveis ainda maiores de eficiência e de velocidade computacional. Vejamos, por exemplo, o crescimento do poder de processamento resultante do uso de GPU (unidades de processamento gráfico) em vez das unidades de processamento central (CPU). Mas a Google deu ainda outro passo em frente, com a TPU (unidade de processamento tensor), que oferece um desempenho por watt 30 a 80 vezes mais alto do que as CPU e GPU.
Quando adicionamos o custo decrescente do armazenamento (de 450 mil euros por gigabyte em 1980 para três cêntimos por gigabyte em 2015), o crescimento exponencial nos volumes de dados com os quais podemos educar a IA e o aparecimento de plataformas e estruturas de fontes abertas, obtemos uma combinação excepcionalmente potente de tecnologias e que contribuem para que a IA tenha uma adopção geral.
Praticamente todos os principais gigantes da tecnologia mundiais – Google, Amazon, Facebook, Microsoft, Baidu, Alibaba e Tencent – estão fortemente focados na IA. Mas há outros empresários e investidores que estão igualmente interessados. Mais de metade das startups europeias está concentrada nesta tecnologia, e os investimentos em negócios de IA são habitualmente 20 a 30% mais altos do que noutros negócios.
Isto não quer dizer que as opiniões quanto ao momento de viragem da IA sejam consensuais. Nem se veremos a IA forte (face à IA fraca) a curto prazo.
Por um lado, uma pesquisa com 350 especialistas das Universidades de Oxford e Stanford concluiu que há uma hipótese de 50% de termos máquinas a superar os humanos em todas as tarefas dentro de 45 anos. Por outro, um quarto dos investigadores de IA inquiridos por Etzioni em 2016 afirmaram acreditar que a superinteligência nunca se materializará.
- A concorrência já está a usar a IA
Portanto, ainda não temos uma IA forte. Contudo, com as tecnologias subjacentes a acelerarem a um ritmo alucinante, as IA fraca já estão a fazer coisas notáveis nas aplicações de negócios do mundo real.
À medida que as organizações continuam a aumentar o uso de IA, a complexidade dos dados e do trabalho com que ela vai lidar irá também crescer. Para entender como isso pode ocorrer num contexto comercial, é útil visualizar as possíveis aplicações da tecnologia, através de uma estrutura que defina quatro modelos para abordar a IA – eficiência; eficácia; especialista; inovação – face ao grau de dados e complexidade do trabalho envolvido.
No trabalho que a Accenture desenvolve com os seus clientes, já se viram provas do crescimento da IA e da sua industrialização. Muitas organizações têm criado projetos-pilotos nos últimos anos para testar como a IA pode ter impacto nos seus funcionários, processos e produtos. Agora, esperamos que essas organizações comecem a aumentar a escala dos seus projectos-pilotos nas suas empresas. Três quartos dos executivos afirmam que, em três anos, algum tipo de IA será “implementado activamente” na sua organização. Em suma, a mensagem é clara: a IA está pronta. E é um grande negócio.
O QUE É PRECISO FAZER AGORA?
Abordada da forma certa, a IA será um novo factor de valor económico para um negócio. Mas qual o caminho certo? Numa área tão veloz, pode ser difícil ver o todo pelas partes. O primeiro passo é entender a oportunidade que a IA representa. Ao dividí-la em três áreas, é possível obter uma noção muito mais clara do trajecto que devem seguir. Isso significa então que se deve pensar na melhor maneira de usar a IA para mudar a automação, aumentar o que fazem e como o fazem e como a inovação em IA se pode propagar pelos negócios e mais além.
1) Automatizar além do trabalho
A IA é a nova fronteira da automatização. Com os sistemas autónomos de autoaprendizagem que imitam o comportamento humano a explorarem a aprendizagem das máquinas, a visão computacional e a representação e o raciocínio dos conhecimentos, a IA pode levar a automatização além do trabalho previsível baseado em regras, directamente para as áreas onde actualmente acreditamos ser preciso o discernimento humano – o que cria um grande número de novas oportunidades ao nível de automatização.
2) Melhorar as formas de trabalho
A IA traz novos níveis de eficiência à utilização de recursos. Na prática, isso significa duas coisas. Primeiro, aumenta o discernimento dos trabalhadores humanos. E segundo, também melhora a experiência do cliente.
Trabalhar de forma mais inteligente. Quando se trata de aumentar o discernimento do trabalhador, a aprendizagem das máquinas é capaz de extrair mais significado a partir de conjuntos de dados muito grandes e altamente complexos do que um humano alguma vez seria capaz. Uma IA vê padrões, semelhanças e anomalias onde especialistas humanos não vêem. Vejamos o diagnóstico de cancro, por exemplo. Os especialistas humanos conseguem reconhecer várias centenas de doenças malignas num exame oncológico, enquanto a IA consegue reconhecer milhares.
Melhores experiências para os clientes. Usando a IA e, em particular, os aspectos cognitivos da tecnologia, uma empresa pode melhorar bastante a maneira como interage com seus clientes. Isso pode significar o uso de assistentes digitais e chatbots para conversar com os clientes 24 horas por dia, sete dias por semana, através das redes sociais e das plataformas digitais. Ou pode significar recomendações personalizadas de produtos ou serviços num site de comércio electrónico.
3) Disseminação de toda a inovação
Inovação gera inovação. Os efeitos indirectos de uma nova tecnologia radical podem propagar-se por economias inteiras, mudando tudo para sempre e de maneiras nunca previstas. Quando a electricidade foi industrializada, quem poderia imaginar a vasta sede de energia do mundo actual? E quando o motor de combustão interna foi criado, quem poderia imaginar a velocidade e a escala das nossas redes interligadas de transporte global?
A IA terá um impacto semelhante na sociedade. As suas inovações difundir-se-ão pelos negócios – e mais além, por economias inteiras. Nascerão modelos de negócios e oportunidades não imaginados. Desde a automatização de tarefas para as quais julgávamos ser necessário inteligência humana à capacidade de ver padrões a partir de grandes quantidades de dados e às novas interfaces cognitivas homem-tecnologia, a tecnologia terá algumas implicações radicais e de longo alcance para as nossas vidas tanto profissionais como pessoais.
- O que impede algumas empresas de usarem a IA?
Apesar de toda a actividade inegável, a maioria das organizações ainda não iniciou os seus trajectos de IA. E das que começaram, metade ainda está na fase piloto ou a testar conceitos. Então, o que é que ainda as impede? Os motivos são variados e não são diferentes dos encontrados com análises avançadas.
Para alguns, tudo se resume a obter o talento certo, dar prioridade a investimentos e atenuar as preocupações com a segurança. Para outros, envolve definir estratégias atractivas, um forte apoio da liderança e adquirir recursos tecnológicos mais gerais.
RISCOS DA IA
As enormes oportunidades e benefícios que a IA oferece não estão, obviamente, isentos de riscos. Que tipo de inovação está? No entanto, vale certamente a pena começar um projecto de IA com uma visão clara dos possíveis riscos para uma organização.
Então, quais são eles? Acreditamos que há quatro riscos principais que devem ser considerados antecipadamente e que estão relacionados com a confiança, a responsabilização, a segurança e o controlo:
- Confiança
Como demonstramos aos cidadãos que uma IA é segura? Como evitamos que preconceitos, inconscientes ou não, ocorram desde o início? As respostas para essas perguntas encontram-se na transparência e na responsabilidade. As decisões tomadas por uma IA devem ser passíveis de recurso e interrogatório.
- Responsabilização
O que acontece quando uma IA comete um erro – ou até mesmo quando quebra a lei? Quem é que fica legalmente responsável? A verdade é que as alterações nos requisitos legislativos e na regulação terão de ser monitoradas com atenção.
- Segurança
Como impedimos a manipulação não autorizada ou maliciosa de uma IA? A segurança torna-se fundamental e é agravada pelo crescente uso de código aberto.
- Controlo
O que acontece quando uma máquina assume o comando de um processo? Como é que um humano recupera o que precisa, se necessário? É preciso pensar cuidadosamente sobre quando e como o controlo é transferido entre humanos e IA. Por exemplo, não há problema que um ser humano tenha um carro autónomo com meios para assumir o controlo, mas se ele não prestar atenção 100% do tempo, é improvável que intervenha suficientemente depressa numa situação crítica.
PANORAMA GERAL
Nenhuma pessoa é uma ilha. E nenhum negócio o é também. As acções que tomamos podem reflectir-se muito além dos limites de uma única organização. Portanto, dado o potencial revolucionário da IA e os seus efeitos de longo alcance, as implicações sociais mais amplas do seu uso não podem ser ignoradas.
Isso significa abordar coletivamente algumas questões importantes. Como garantir que as pessoas têm as competências necessárias para prosperar num mundo orientado pela IA? Quantos trabalhos existentes serão substituídos pela IA? Quantos novos empregos serão criados? Será que algumas pessoas serão capazes de encontrar rendimento e satisfação de outras fontes que não o trabalho? Que novas estruturas legais são necessárias quando a IA toma as decisões? Poderá, ainda, a humanidade enfrentar uma ameaça existencial quando as IA se tornarem mais inteligentes que os seus próprios criadores?
ESTÁ NA HORA DE COMEÇAR
Empresas grandes e pequenas já estão a experimentar soluções de IA para estimular um novo crescimento. Estão a encontrar formas de tornar os seus colaboradores mais inteligentes. Estão a descobrir novos tipos de interacções com os seus clientes. E estão a começar a construir máquinas de IA que funcionam mais depressa e melhor do que os seus colegas humanos.
Como acontece com qualquer inovação radical, haverá riscos ao iniciar um projecto de IA, podendo existir consequências imprevistas no caminho. É por isso que é tão importante adoptar uma abordagem responsável para a tecnologia. Confiança, transparência e segurança devem ser incorporadas na criação da IA desde o início. A necessidade de explicar deve ser sempre prioridade.
No final, a mensagem é simples. A IA está aqui. É real. Está na hora de sentar, observar e aproveitar.
Artigo publicado na Revista Executive Digest n.º 163 de Outubro de 2019