A empresarialização do setor agroalimentar

Por Gonçalo Almeida Simões, Diretor Executivo da Portugal Nuts

O setor do agroalimentar há muito que deixou de ser o “patinho feio” da economia portuguesa para ser hoje um caso de sucesso empresarial em Portugal. Em termos macro, o complexo agroflorestal vale hoje 5% do PIB português, 14%, exportações nacionais, num montante de 12 mil milhões de euros anuais e representa 15% do emprego em Portugal.

9,6 mil milhões de euros foi o valor da produção agrícola portuguesa em 2021, o que representa uma taxa de crescimento de 14,6% face a 2020 e por isso é justo dizer que os frutos secos hoje com uma produção de 80.000 toneladas e exportações a atingir os 100 milhões de euros contribuíram para este sucesso.

Os frutos secos ultrapassaram os 500 milhões de euros de investimento nos últimos sete anos. Para além do investimento inicial, estas culturas geram uma dinâmica de economia local, por via da criação de emprego direto e surgimento de novos prestadores de serviços que nas regiões desfavorecidas significam diminuição das tradicionais assimetrias litoral vs interior e no limite mais coesão territorial. Em 2021 existiam 339 empresas dedicadas à produção de frutos secos, o que contrasta com as 5 empresas existentes em 2007, já as empresas de transformação cresceram 121% no período homologo.

Portugal foi o país no mundo que mais aumentou percentualmente a área e a produção de amendoal na última década com um acréscimo de 49 mil toneladas. Portugal é já o 3º maior produtor de amêndoa em termos europeus!

É uma prioridade para a Portugal Nuts que o país passe a ser visto pelos importadores, mas também pelos consumidores como um cluster de frutos secos ligado à qualidade, altas produtividades e produções estáveis que possam abastecer sobretudo os mercados de proximidade na Europa.

O consumidor português, mas também o consumidor europeu de frutos secos tem hoje uma oportunidade única de ver um Portugal autossuficiente em frutos secos, que aliás já o é no caso da amêndoa e castanha. A isto se soma o encurtamento das cadeias logísticas, permitindo um consumo de proximidade. Na verdade, o que se ambiciona no caso concreto da amêndoa e noz é substituir o fornecimento, maioritariamente dos EUA, com produtos cultivados e transformados em Portugal, acautelando também uma lógica de contraciclo em relação aos produtores do hemisfério sul como Austrália, Chile e Argentina.

Portugal, para além de uma posição privilegiada em termos agronómicos, tem hoje uma vantagem comparativa ambiental quando se olha para o maior produtor mundial de amêndoa, os EUA, pois utiliza menos água, regando com sistemas modernos de gota a gota e o ciclo de emissões de Co2 é inferior, já que o grande mercado de consumo é a Europa.

Em termos de mercado externo o principal mercado de exportação europeu para a amêndoa e noz portuguesas ainda é Espanha e aqui o caminho passa por uma ainda maior verticalização do sector em território português. A produção de campo terá que ser acompanhada por unidades de processamento que permitam garantir mais valor acrescentado. Já temos alguns bons exemplos de associados processadores da Portugal Nuts a operar no mercado nacional, mas é preciso ir mais além.

O futuro do setor passa certamente por um ritmo de investimento industrial mais elevado, garantindo gerar mais valor acrescentado a uma produção que já é de excelência!

 

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