Covid-19: Trocava a sua privacidade por mais liberdade, segurança ou saúde?

Com a criação de várias aplicações móveis para rastrear os contactos próximos de pessoas infectadas com o novo coronavírus, muitos utilizadores receiam perder a privacidade dos seus dados, surgindo questões sobre a forma como os governos e empresas a nível mundial, pretendem proteger e utilizar esses mesmos dados pessoais.

Segundo o estudo “Life after Covid-19”, elaborado pelo Deutsche Bank Research, embora este tipo de sistemas conduza à ideia de fim da privacidade, ou liberdade, o que acontece é precisamente o contrário. As sociedades vêem a privacidade como uma «moeda de troca», para adquirir valores tais como a segurança, prosperidade e agora também a saúde.

O melhor exemplo desta troca, segundo o relatório, é a Internet, usada pela população com a consciência de que, ainda que as tecnologias possam afectar a privacidade dos seus dados, trazem muitos outros benefícios e facilidades, que fazem valer a pena o esforço.

Outro exemplo é o passaporte, quando foi exigido, na época da Segunda Guerra Mundial, recebeu inúmeras críticas por constituir uma invasão de privacidade, contudo actualmente é um bem necessário para viajar entre países de diferentes continentes e já ninguém pensa dessa forma, porque «as viagens acabam por compensar essa invasão de privacidade».

O estudo defende ainda que «a privacidade poderia ser trocada por mais liberdade», isto porque existem duas definições de liberdade: uma é a ausência de barreiras e a invasão da privacidade constitui uma barreira; mas a outra é a habilitação para algo, por exemplo, «é fácil dizer a alguém que é livre para tocar piano, mas se a pessoa não tiver meios para o fazer, então já não é livre para tal».

A sondagem realizada no relatório mostrou que quatro em cada cinco pessoas em todo mundo sentem que têm mais liberdade agora, do que antes de existirem telemóveis. «As pessoas sentem-se mais livres, apesar da perda de privacidade, por diversas razões», uma delas prende-se com o facto de que muitos foram retirados da pobreza, outra tem que ver com a utilização de ferramentas online para realizar novos hobbies, que antes não eram possíveis.

Da mesma forma que se as aplicações de rastreio se tornarem uma parte normal do quotidiano, serão vistas «como uma forma de trocar alguma privacidade para um maior benefício da liberdade de viver durante mais tempo, com uma melhor qualidade de vida».

Contudo, o estudo apela para que exista «prudência», nomeadamente nos ataques informáticos de que as empresas são alvo, hoje em dia com muita frequência.

«Caso os hackers libertem uma base de dados com nomes de pessoas durante um futuro surto, poderá haver um leque trágico de consequências. E isto sem considerar a forma como os governos podem manipular um sistema desse tipo para punir os opositores políticos», pode ler-se no relatório.

Neste sentido, o relatório aponta a possibilidade de as empresas tecnológicas se tornaram fundamentais para garantir a saúde pública, questionando se poderão vir a ser regulamentadas tal como os bancos, tendo obrigações semelhantes de documentação.

Ainda assim o estudo considera «inevitável» que a maioria da população veja mais os benefícios de ceder os seus dados pessoais, do que as consequências. Muitos vão ficar contentes ao apoiar um sistema de localização que permita às autoridades questionar o porquê do não cumprimento das regras, se isso evitar futuros bloqueios.

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