Cinco nomes na corrida para a chefia de gabinete de Zelensky: espião, diplomata e tecnocrata lideram disputa

A escolha do próximo chefe de gabinete do presidente Volodymyr Zelensky entrou esta semana na fase decisiva, depois da demissão abrupta de Andriy Yermak, afastado a 28 de novembro na sequência de suspeitas de corrupção que abalaram o centro de poder em Kiev.

Pedro Gonçalves
Dezembro 10, 2025
14:20

A escolha do próximo chefe de gabinete do presidente Volodymyr Zelensky entrou esta semana na fase decisiva, depois da demissão abrupta de Andriy Yermak, afastado a 28 de novembro na sequência de suspeitas de corrupção que abalaram o centro de poder em Kiev.
A informação foi avançada na segunda-feira pelo próprio presidente, numa comunicação que confirmou a existência de cinco potenciais sucessores, segundo noticia El Español.

A saída de Yermak — até agora considerado o colaborador mais influente do Governo ucraniano, imediatamente abaixo do presidente — abriu uma disputa interna num dos cargos mais estratégicos em tempo de guerra, responsável por coordenar negociações internacionais, contactos diplomáticos e a gestão política do Executivo.

Entre os perfis analisados por Zelensky estão um espião de carreira, um diplomata amplamente reconhecido, um tecnocrata ligado à transformação digital e duas figuras políticas com experiência governativa. A lista inclui o chefe da inteligência militar (GUR), Kyrylo Budanov; o viceministro dos Negócios Estrangeiros, Sergiy Kyslytsya; o ministro da Transformação Digital, Mijailo Fedorov; a primeira-ministra, Yulia Svyrydenko; e o ministro da Defesa, Denis Shmihal.

O tecnocrata da transformação digital visto como favorito
Entre os cinco nomes, o que reúne maior consenso mediático é o do ministro da Transformação Digital, Mijailo Fedorov, frequentemente descrito como o rosto mais visível da modernização tecnológica da Ucrânia.

Com apenas 34 anos, Fedorov construiu a sua reputação no setor privado, ao fundar, em 2015, uma empresa de marketing e desenvolvimento digital que chegou a colaborar com a produtora onde Zelensky trabalhava quando ainda era ator. Foi essa ligação que abriu caminho à sua entrada na política nacional, primeiro como consultor em 2019 e, pouco depois, como ministro responsável pela transformação digital do país.

Sob a sua liderança, a Ucrânia desenvolveu a aplicação DIIA, que permite aos cidadãos realizar praticamente todas as interações com a administração pública através do telemóvel — um projeto frequentemente destacado por Zelensky como exemplo da modernização estatal. Fedorov teve ainda um papel essencial na integração de empresas tecnológicas no esforço de guerra, sobretudo no aumento da produção e utilização de drones por parte das Forças Armadas.

O diplomata mais carismático do Governo ucraniano
Outro nome de peso é o de Sergiy Kyslytsya, viceministro dos Negócios Estrangeiros e uma das figuras diplomáticas mais reconhecidas da administração de Zelensky. Durante os primeiros anos da guerra, destacou-se como embaixador na ONU, onde protagonizou confrontos verbais intensos com o representante russo e contribuiu para mobilizar apoios internacionais em favor da Ucrânia.

Fluente em espanhol, manteve presença assídua nos meios de comunicação norte-americanos durante a sua missão em Nova Iorque. Regressou a Kiev em fevereiro deste ano para integrar a equipa de negociações com delegações dos Estados Unidos e da Rússia.

O chefe do GUR, a figura mais enigmática
Kyrylo Budanov, diretor da inteligência militar ucraniana, surge como a opção com maior peso operacional. Com 39 anos, construiu uma carreira extensa como agente de inteligência, incluindo operações no Donbass e a direção de algumas das ações mais arriscadas conduzidas em território inimigo desde o início da agressão russa.

Treinado pela CIA após a anexação da Crimeia, Budanov é bem visto pelas agências de espionagem dos Estados Unidos e mantém uma imagem pública marcada por uma postura lacónica e por um certo misticismo, que o transformou numa figura de culto na Ucrânia. Em meses recentes, voltou a ganhar proximidade ao círculo presidencial, especialmente depois da queda de Yermak.

Dois políticos na equação final
As restantes opções de Zelensky são essencialmente políticas. Denis Shmihal, atual ministro da Defesa, desempenhou o cargo de primeiro-ministro até julho passado, assumindo funções com um perfil tecnocrático e orientado para a gestão diária. Essa abordagem mantém-se no Ministério da Defesa, onde tem privilegiado discrição e eficiência operacional.

A outra candidata é a primeira-ministra, Yulia Svyrydenko, que substituiu Shmihal na chefia do Governo. Até à demissão de Yermak, era vista como uma das figuras mais alinhadas com o antigo chefe de gabinete. A sua nomeação para o cargo deixado vago poderia indicar uma mudança de lealdades ou, inversamente, a persistência da influência de Yermak mesmo após afastado.

Uma decisão que redefine o núcleo do poder ucraniano
A seleção final terá impacto direto na estabilidade política interna e na condução das negociações com parceiros estratégicos como os Estados Unidos e a Rússia. A saída de Yermak fragilizou temporariamente o centro de comando presidencial, e Zelensky procura agora uma figura capaz de restaurar a coordenação executiva num momento crítico da guerra.

A escolha deverá ser anunciada nos próximos dias, com Kiev a aguardar atentamente quem assumirá o cargo mais poderoso do país depois do presidente.

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