A luta contra o azeite falsificado ganhou um novo capítulo com o trabalho desenvolvido pelos especialistas europeus de segurança alimentar. Como mostra a série The Food Detectives, da Euronews, uma equipa deslocou-se a Itália para observar de perto a utilização de um inovador kit portátil de análise genética, concebido para identificar adulterações no azeite diretamente no lagar — uma abordagem inédita que pretende reforçar a transparência e proteger produtores e consumidores.
Segundo Nicolò Cultrera, especialista em biogenética do Conselho Nacional de Investigação de Itália e líder do projeto-piloto Watson, o azeite “é o alimento mais sujeito a adulteração e fraude entre todos os produtos alimentares”, cenário que se agrava pela elevada diferença de preço entre óleos de qualidade inferior e azeites premium. Em declarações à Euronews, Cultrera explica que práticas fraudulentas como a mistura de óleos de sementes ou azeites de baixo valor com azeite de maior qualidade não só prejudicam produtores honestos, como afetam a confiança dos consumidores e podem até causar riscos para a saúde. “O preço do azeite pode ir de muito baixo a muito alto, criando uma ampla margem onde a fraude pode ocorrer”, sublinha, recordando ainda que a cadeia de valor do setor “é extremamente fragmentada”, o que facilita a proliferação de esquemas de adulteração.
Entre os produtores que já recorrem à análise genética está Antonella Meyer-Masciulli, que trabalha com variedades antigas da região de Umbria e decidiu testar o ADN do azeite para garantir autenticidade total. “Muitos produtores promovem os seus produtos com fotografias de árvores com milhares de anos, mas no fim o azeite não vem dessas árvores. Optámos por testar o ADN dos nossos produtos para criar mais transparência e confiança junto dos consumidores”, afirmou à Euronews. Até agora, estes testes eram realizados quase exclusivamente em laboratórios, devido ao tempo e aos custos envolvidos. No entanto, os Detectives Alimentares estão a inverter este paradigma através do desenvolvimento do dispositivo Field DNA, criado pelos investigadores Stelios Arhondakis e Sofia Tzagkaraki, da empresa grega BioCoS. A primeira demonstração no exterior de um laboratório ocorreu num lagar em Bettona, Umbria, onde Arhondakis destacou: “Abrimos pela primeira vez no mundo a porta para testar o ADN de um azeite fora de um laboratório”. A equipa espera lançar o equipamento nos próximos meses, tornando a tecnologia mais acessível aos produtores.
A inovação tem sido bem recebida pelo setor. Para Giulio Mannelli, presidente da Aprol Umbria, a associação que representa produtores e embaladores da região, “ter um teste que garante que um azeite realmente provém de uma árvore específica é a coisa mais gratificante que existe”. De acordo com Mannelli, o projeto Watson está a proporcionar “transparência e clareza”, elementos cada vez mais exigidos pelos consumidores. Além da verificação genética, o projeto está a dar um passo adicional na rastreabilidade através da criação de um passaporte digital para cada garrafa, permitindo que os clientes acedam, via QR code, a toda a história do azeite — desde o campo onde as azeitonas foram colhidas até ao lote e número da garrafa. “Os consumidores poderão aceder facilmente a todo o percurso do azeite”, conclui Cultrera.














