O primeiro avião de patrulha marítima Boeing P-8A Poseidon chegou esta sexta-feira ao aeroporto principal de Berlim, marcando um novo capítulo na defesa marítima da Alemanha. A aeronave, concebida para detetar e combater submarinos russos no Atlântico Norte, foi recebida pelo ministro da Defesa, Boris Pistorius, que sublinhou o “salto qualitativo” que o aparelho representa para as Forças Armadas alemãs.
O Poseidon, baseado no modelo Boeing 737, é o primeiro de um total de oito aviões que deverão ser entregues até 2028, num investimento de 3,1 mil milhões de euros. A aeronave fez o percurso desde os Estados Unidos, com escala na Islândia, e será agora transferida para a base aérea de Nordholz, no distrito de Cuxhaven, que integra a rede de reconhecimento da NATO.
Segundo o inspetor naval Jan Christian Kaack, o Poseidon “vai reforçar de forma sustentável as nossas capacidades de reconhecimento marítimo, vigilância global e, em particular, de deteção e combate a submarinos inimigos”. O responsável descreveu o novo avião como um verdadeiro “sentinela voador”.
Com um alcance superior a sete mil quilómetros, o P-8A Poseidon pode transportar cinco torpedos MK-54 de 300 quilos e quatro mísseis antinavio AGM-84 Harpoon. Equipado com sofisticados sensores acústicos e sistemas de vigilância, o avião lança boias sonar que emitem ondas sonoras capazes de identificar submarinos convencionais e nucleares, registando os ecos através de microfones subaquáticos. Além de missões de patrulha e reconhecimento, a aeronave é igualmente apta para atacar alvos terrestres.
A tripulação tática é composta por três pilotos, dois coordenadores e seis operadores de sensores.
Missões no Atlântico Norte e cooperação com o Reino Unido
O novo Poseidon deverá operar principalmente no chamado “Golfo da Islândia”, a zona entre a Gronelândia, a Islândia e o Reino Unido, considerada vital para o fornecimento logístico da NATO. Trata-se de um ponto estratégico onde submarinos russos poderiam tentar interromper linhas de abastecimento em caso de conflito.
As ameaças, contudo, não se limitam ao Atlântico Norte. Submarinos russos podem também avançar a partir do Báltico, via São Petersburgo, ou do Mediterrâneo, através do Estreito de Gibraltar.
Em outubro de 2024, a Alemanha e o Reino Unido assinaram o Trinity House Agreement, um protocolo que prevê patrulhas conjuntas no Mar do Norte e no Atlântico Norte. O acordo inclui a utilização de bases britânicas, como a de Lossiemouth, na Escócia, onde os Poseidon alemães poderão operar em conjunto com aeronaves da Royal Air Force. “Trata-se de saber onde eles estão e o que estão a fazer. Com o P-8 Poseidon, conseguimos exatamente isso”, afirmou Boris Pistorius durante uma visita à Escócia há algumas semanas.
O Poseidon vem substituir os antigos aviões P-3C Orion, adquiridos em segunda mão aos Países Baixos em 2004 e atualmente com cerca de 40 anos de serviço. Parte desses aparelhos foi comprada por Portugal para reforçar a sua frota de patrulha marítima.
A chegada do Poseidon insere-se num contexto de crescente preocupação com a segurança das infraestruturas submarinas europeias. Cabos críticos de comunicação e energia atravessam milhares de quilómetros de fundos marinhos entre o norte e o centro da Europa, tornando-se alvos de espionagem e sabotagem. Segundo autoridades da NATO, submarinos russos têm tentado repetidamente mapear e interferir com esses sistemas, levantando receios de “guerra híbrida” no espaço subaquático europeu.
Com a entrega do primeiro Poseidon, a Alemanha junta-se assim a um grupo restrito de aliados — como os Estados Unidos, o Reino Unido e a Noruega — que já operam este modelo de aeronave. O reforço das capacidades anti-submarinas de Berlim é visto como um contributo essencial para a defesa coletiva da Aliança Atlântica e um sinal claro da resposta europeia ao aumento da atividade militar russa no Atlântico e no Báltico.














