Uma nova clínica hospitalar em Qinhuangdao, no norte da China, está a causar furor ao abordar de forma inédita um problema comum mas frequentemente silenciado: o cansaço emocional e a perda de motivação no trabalho. Batizada de “Clínica não gosto de ir trabalhar”, a unidade pretende ajudar pessoas que sofrem de ansiedade, exaustão e depressão associadas à vida profissional.
A iniciativa partiu do Hospital de Medicina Tradicional Chinesa e Ocidental Integrada de Qinhuangdao, na província de Hebei, e segue o modelo de uma outra clínica já existente na mesma instituição — a “Clínica não gosto de ir à escola”, criada para apoiar crianças e adolescentes que rejeitam o ambiente escolar devido ao stress académico e a problemas emocionais.
“Anteriormente, quando as crianças vinham à clínica ‘Não gosto de ir à escola’, alguns pais perguntavam se não haveria um serviço semelhante para adultos que não querem ir trabalhar”, explicou o diretor clínico Yue Limin ao South China Morning Post.
Yue lidera o Departamento de Sono e Psicologia do hospital e é também o responsável por esta nova clínica, cujo nome foi escolhido precisamente para eliminar o estigma frequentemente associado a perturbações psicológicas.
“Se rotularmos diretamente como ansiedade ou depressão, alguns pacientes podem sentir estigma. Com este nome, achamos que os nossos pacientes podem entrar na sala de consulta sem sentir qualquer pressão”, acrescentou.
A clínica destina-se a indivíduos que apresentam sintomas como fadiga crónica, instabilidade emocional e uma sensação persistente de vazio ou inutilidade no contexto profissional. A abordagem é holística, conjugando entrevistas psicológicas com exames médicos que permitem excluir causas orgânicas, como problemas de tiróide. Depois dessa fase, é desenvolvido um plano terapêutico personalizado.
“Estes sintomas superficiais frequentemente derivam de fatores psicológicos ou sociais complexos. O nosso papel como profissionais é identificar a causa, conduzir uma avaliação e diagnóstico sistemáticos, e depois fornecer tratamento e apoio”, detalhou Yue.
Embora o número real de pacientes que já passaram pela clínica ainda seja relativamente baixo, o impacto mediático tem sido enorme. Nas redes sociais chinesas, a clínica transformou-se rapidamente num fenómeno viral, com milhares de utilizadores a identificarem-se com o conceito.
“Quem pensou em estabelecer esta clínica é um génio!”, comentou um utilizador. Outro ironizou: “Entras e não há médicos, porque eles também não querem ir trabalhar”.
Houve também reações mais cépticas. Um utilizador questionou: “Porque irias a esta clínica? Esperas ir lá fazer uma consulta e subitamente apaixonar-te por ir trabalhar?” Mas outros viram alguma lógica na proposta: “Bem, no mínimo, enquanto estamos na consulta, não estamos a trabalhar, não é?”
A nova clínica espelha uma preocupação crescente na China com o bem-estar emocional dos trabalhadores, num país onde o ritmo de trabalho acelerado e a pressão social associada à produtividade têm sido motivo de críticas. Ainda que com uma abordagem invulgar, o hospital de Qinhuangdao parece ter tocado num ponto sensível — e, para muitos, urgente.














