O presidente da Rússia, Vladimir Putin, declarou esta sexta-feira que está preocupado com o risco de uma Terceira Guerra Mundial, mas voltou a reafirmar a sua visão de que a Ucrânia faz parte da Rússia. As declarações foram feitas durante a sua intervenção no Fórum Económico Internacional de São Petersburgo, onde o líder russo traçou a sua visão sobre o conflito em curso e o futuro da relação entre Moscovo e Kiev.
Vladimir Putin, num discurso marcado por referências históricas e geopolíticas, afirmou sem hesitações que «a Ucrânia faz parte da Rússia», justificando esta ideia com o argumento de que «russos e ucranianos são um só povo». Para o chefe de Estado russo, esta é uma realidade inquestionável e que deve ser reconhecida, não só pela Ucrânia, mas pela comunidade internacional.
Apesar do tom firme, Putin rejeitou a ideia de que Moscovo procura impor uma capitulação total ao governo ucraniano. «Não procuramos a capitulação da Ucrânia. Insistimos no reconhecimento da realidade que se desenvolveu no terreno», disse, deixando em aberto o que, na prática, significaria esse reconhecimento. A formulação ambígua parece remeter para o controlo de vastas regiões ucranianas atualmente sob domínio das forças russas.
Num tom que evocou a herança imperial russa e, segundo muitos analistas, uma tentativa de reabilitar a memória da antiga União Soviética, Putin reforçou: «Nesse sentido, toda a Ucrânia é nossa». Esta afirmação, carregada de simbolismo e potencialmente incendiária, surge num contexto em que as forças russas continuam a expandir a sua presença em território ucraniano.
Ainda assim, o presidente russo fez questão de frisar que «nunca houve dúvidas sobre o direito da Ucrânia à soberania». A aparente contradição entre esta frase e a sua reivindicação sobre a totalidade do território ucraniano reflete a complexidade e a ambiguidade do discurso oficial de Moscovo.
Ameaças e advertências no campo militar
Vladimir Putin dirigiu ainda ameaças explícitas no âmbito do conflito militar em curso. Relativamente à região de Sumy, no nordeste da Ucrânia, onde recentemente se registou a entrada de forças russas, Putin disse que «não existe uma ordem para tomar Sumy», mas deixou claro que tal cenário não está excluído.
Mais grave foi o aviso relativo ao uso de armamento não convencional: «Se a Ucrânia utilizar uma bomba suja contra a Rússia, provavelmente será o seu último erro». O presidente russo afirmou não existirem, por agora, indícios de que Kiev tencione recorrer a este tipo de arma, mas sublinhou que tal ato teria consequências «catastróficas».
Preocupação com um conflito global
No final da sua intervenção, Vladimir Putin reconheceu que o prolongamento do conflito e a escalada de ameaças aumentam o risco de um confronto de proporções globais. «Estou preocupado com a possibilidade de uma Terceira Guerra Mundial», admitiu, numa rara manifestação de apreensão sobre as consequências mais vastas da guerra na Ucrânia.
Mais de três anos após o início da invasão russa da Ucrânia, estas declarações confirmam que o Kremlin mantém a sua estratégia de pressão militar e retórica de reivindicação territorial, ao mesmo tempo que procura projetar uma imagem de disponibilidade para negociar sob os seus próprios termos.














