ONU em risco de ficar sem sede em Genebra devido a cortes orçamentais de Trump

A Organização das Nações Unidas (ONU) poderá, em breve, abandonar o Palais Wilson, edifício emblemático situado em Genebra, na Suíça, que acolheu a primeira grande organização internacional dedicada à paz e à cooperação — a Sociedade das Nações.

Pedro Gonçalves
Junho 18, 2025
12:28

A Organização das Nações Unidas (ONU) poderá, em breve, abandonar o Palais Wilson, edifício emblemático situado em Genebra, na Suíça, que acolheu a primeira grande organização internacional dedicada à paz e à cooperação — a Sociedade das Nações. A decisão surge na sequência de uma crise financeira sem precedentes, agravada pelos cortes na ajuda externa dos Estados Unidos, impulsionados pela administração de Donald Trump, avançou a agência Reuters.

O Palais Wilson, um luxuoso edifício do século XIX com 225 quartos, batizado em homenagem ao ex-presidente norte-americano Woodrow Wilson, foi a primeira sede da Sociedade das Nações, precursora da actual ONU. Atualmente, o edifício alberga a sede do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH).

Com os cortes orçamentais promovidos por Donald Trump, os quais afetaram diversas agências das Nações Unidas, e com os Estados Unidos a acumularem uma dívida de cerca de 1.500 milhões de dólares em quotas não pagas, a organização internacional viu-se forçada a considerar uma redução drástica dos seus custos. Segundo um documento interno citado pela Reuters, os cortes poderão atingir os 20% do orçamento.

Proposta formal para abandonar o Palais Wilson já foi apresentada
De acordo com fontes próximas do processo e confirmadas pela própria ONU, a delegação da organização em Genebra apresentou, na semana passada, uma proposta formal para deixar o Palais Wilson a partir de meados de 2026, antecipando o término do actual contrato de arrendamento, que estava inicialmente previsto para 2027.

“Como parte da revisão orçamental da UNOG (Escritório das Nações Unidas em Genebra) para 2026, e seguindo as diretrizes da sede central no sentido de reduzir as despesas com arrendamentos, a UNOG propôs antecipar o fim do contrato do Palais Wilson”, explicou Alessandra Vellucci, diretora do Serviço de Informação da ONU em Genebra, citada pela Reuters.

Segundo dados da própria ONU, o arrendamento do Palais Wilson é feito à Fundação Suíça, proprietária do edifício, através de um contrato de quase 30 anos, avaliado em cerca de 36 milhões de francos suíços (aproximadamente 44,25 milhões de dólares).

O impacto dos cortes e as reações da ONU
Jeremy Laurence, porta-voz do ACNUDH, sublinhou que a organização está a “avaliar todas as opções para reduzir custos, incluindo a possibilidade de transferir a sua sede em Genebra para fora do Palais Wilson, que é um símbolo dos direitos humanos”. Laurence alertou ainda que o impacto da crise financeira ultrapassa em muito esta medida pontual, referindo que os cortes — não apenas os dos Estados Unidos — já estão a comprometer seriamente o trabalho desenvolvido pelo Alto Comissariado.

Recorde-se que a administração Trump tem defendido, de forma reiterada, os cortes na ajuda internacional, justificando-os com a necessidade de evitar o desperdício de recursos públicos. Em declarações feitas em fevereiro deste ano, Trump afirmou: “A ONU tem um grande potencial. Continuaremos envolvidos, mas têm de pôr a casa em ordem”.

Os cortes inserem-se no âmbito de uma reforma mais alargada lançada pelas Nações Unidas em março, designada como UN80, que visa reforçar a eficiência do organismo internacional. Segundo fontes oficiais, caberá ao auditor da ONU analisar as propostas de redução orçamental e apresentar recomendações ao secretário-geral, António Guterres, no início de julho.

O possível abandono do Palais Wilson, um dos edifícios mais emblemáticos da diplomacia internacional, ilustra até que ponto o recuo dos Estados Unidos no apoio ao multilateralismo está a fragilizar os alicerces do sistema das Nações Unidas.

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