Jorge de Mello (1921-2013): O último industrial
Nasceu a 1 de Setembro de 1921 aquele que viria a ser um dos industriais mais notáveis da história empresarial portuguesa do século XX. Jorge de Mello, que liderou os destinos do Grupo CUF durante nove anos e fundou a Nutrinveste, faleceu no passado dia 9, aos 92 anos, vítima de doença prolongada.
A paixão pelas fábricas marcou o seu percurso e distinguiu-o do irmão, José de Mello, a quem a banca cativou. Jorge de Mello esteve à frente da Sociedade Geral e da Tabaqueira. De 1942 a 1966, foi presidente da Companhia União Fabril, o negócio da família, fundado pelo avô – o histórico Alfredo da Silva – e que chegou mesmo a ser o maior grupo português da época, integrando banca, construção, seguros, estaleiros navais e outras actividades. Detinha 180 empresas, dava emprego a 110 mil pessoas e representava 5% do PIB. Com a morte do pai, D. Manuel de Mello, liderou o negócio da família até 1975.
As nacionalizações do 25 de Abril fizeram com que perdesse o património que a família tinha vindo a construir. A 12 de Março desse ano, foi cercado no edifício da CUF na Infante Santo e preso pelo COPCON – Comando Operacional do Continente. Esteve em Caxias durante dez dias, acabando por ser libertado. Em Agosto deixou o País, com o irmão. Após três anos na Suíça, ruma ao Brasil por igual período de tempo. Aí chegou a ter interesses nas indústrias de adubos e tabaco.
Em 1986, voltou a Portugal após seis anos que considerou, mais tarde, terem sido «um tempo perdido». A urgência em actuar na economia portuguesa precipitou o regresso. «Não penso que sobreviver seja um projecto muito estimulante, sobretudo quando tanto havia para fazer na economia portuguesa», explicou na altura. Traçou um plano para recomeçar, que coincidiu com as privatizações do Governo de Cavaco Silva – conseguiu, neste processo, a privatização da Tabaqueira, que acabou por vender à Philip Morris. Lançou diversos projectos para reconstruir o império industrial da família, mas nunca recuperou totalmente a posição detida antes na economia nacional.
De espírito empreendedor, que terá herdado do avô, Jorge de Mello dedicou-se às indústrias. Criou a Nutrinveste a partir da recompra de empresas do sector alimentar da antiga CUF. O Grupo (depois de ter vendido a Compal) detém hoje o segundo maior operador mundial do sector: a Sovena tem fábricas em Portugal, Espanha, EUA, Tunísia e Marrocos e produz mais de 170 mil toneladas de azeite por ano.
Discreto, dizia que «um empresário nunca se reforma», «não por uma questão de conquista, mas antes de continuidade». Determinado, assumiu a «luta de reconquista» como uma luta para toda a vida, afirmava. Cavaco Silva recordou-o como «um homem de visão», «figura marcante do desenvolvimento industrial português no século XX» e «um incansável dinamizador de vastas área da actividade económica, dos estaleiros navais ao ramo alimentar».
Teve dez filhos e confiou ao mais velho, Manuel Alfredo, a liderança do Grupo Jorge de Mello.