Tarifas: Como é que a Europa deve responder? Economista explica o que está na mesa

A União Europeia (UE) suspendeu, por 90 dias, as tarifas retaliatórias de 25% sobre importações de produtos dos EUA, na sequência da decisão de Donald Trump de suspender, pelo mesmo período, os tarifários impostos ao bloco europeu.

André Manuel Mendes
Maio 7, 2025
11:05

A União Europeia (UE) suspendeu, por 90 dias, as tarifas retaliatórias de 25% sobre importações de produtos dos EUA, na sequência da decisão de Donald Trump de suspender, pelo mesmo período, os tarifários impostos ao bloco europeu.

Esta trégua temporária surge após a UE ter reagido às tarifas sobre o aço e o alumínio aplicadas pela administração Trump no final de março, com a imposição de taxas sobre produtos agrícolas, motociclos e vestuário norte-americanos.

Apesar da preferência por uma solução negociada, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, já deixou claro que, caso as conversações não sejam satisfatórias, Bruxelas está pronta para avançar com medidas retaliatórias.

A situação preocupa especialmente países como a Alemanha e a Irlanda, que poderão sofrer maior impacto económico caso não seja alcançado um acordo comercial, dada a sua significativa balança comercial excedentária com os EUA, como explica Irene Lauro, Economista Europeia da Schroders.

O prazo para alcançar um entendimento é limitado, e um dos principais obstáculos poderá ser a exigência de Donald Trump de que a UE compre 350 mil milhões de dólares em combustíveis fósseis norte-americanos — o equivalente ao total anual de importações energéticas do bloco. Actualmente, a UE importa cerca de 65 mil milhões em combustíveis dos EUA, tornando esta meta difícil de atingir.

Como pode responder a Europa?

Entre as opções em cima da mesa está o aumento das importações de gás natural liquefeito (LNG) dos EUA, explica a economista. A nova coligação governamental na Alemanha anunciou recentemente um pacote de estímulos, com investimento na área da defesa, o que poderá abrir espaço para aquisição de equipamento militar norte-americano.

Embora exista uma tendência crescente para reforçar a produção europeia neste sector, a curto prazo, esta procura poderá beneficiar temporariamente os Estados Unidos, enquanto a indústria de defesa europeia aumenta a sua capacidade.

Outra possibilidade será a redução de tarifas sobre produtos industriais norte-americanos, como os automóveis.

A UE está a preparar contramedidas com base no desequilíbrio da balança de serviços com os EUA, que apresentam um excedente significativo neste domínio. Este poderá ser um elemento-chave nas negociações, uma vez que, apesar de a UE ser exportadora líquida de bens, importa muitos serviços dos EUA — área onde poderá exercer maior pressão retaliatória.

Impacto económico e resposta do BCE

Segundo Irene Lauro, o impacto das tarifas na confiança empresarial, no comércio e no investimento aumenta os riscos de desaceleração. Após o corte das taxas de juro em abril, é expectável que o Banco Central Europeu (BCE) avance com nova redução em junho.

A queda acentuada dos preços da energia e o fortalecimento do euro têm contribuído para a redução da inflação. Ao mesmo tempo, existe o risco acrescido de concorrência desleal por parte de produtos chineses mais baratos, desviados do mercado norte-americano devido aos tarifários aplicados por Trump.

“Na minha perspetiva, a Europa enfrenta agora riscos de desaceleração económica e pressões desinflacionárias”, afirma Irene Lauro, sublinhando que, apesar dos estímulos orçamentais — sobretudo na Alemanha — os seus efeitos só deverão sentir-se em 2026.

Se não for alcançado um acordo e forem aplicadas tarifas de 20% de forma generalizada, o impacto no crescimento europeu poderá variar entre 0,3% e 0,4%, segundo estimativas da Schroders. A este impacto direto somam-se os efeitos indiretos na confiança dos consumidores e das empresas, que já estão a mostrar sinais de retração no consumo e no investimento.

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