BE acusa Governo de mobilizar polícias para atacar migrantes e chama MAI e diretor da PSP

A coordenadora do BE acusou hoje o Governo de mobilizar politicamente forças de segurança para atacar migrantes e anunciou que vai chamar ao parlamento a ministra da Administração Interna e o diretor nacional da PSP.

Numa conferência de imprensa no parlamento, a coordenadora do BE, Mariana Mortágua, afirmou que a operação policial de quinta-feira no Martim Moniz, em Lisboa, foi um “ato inédito na democracia portuguesa”, com uso desproporcional de meios e não foi “determinada pela hierarquia das próprias forças policiais”.

“Uma operação que se destina a um alvo particular, que é a população migrante que vive na zona do Martim Moniz. Tenhamos isto claro, um Governo que mobiliza politicamente forças de segurança para atacar indiscriminadamente um alvo como a população migrante é um governo perigoso”, atirou Mortágua.

Mortágua disse que o Governo mobilizou as forças de segurança para fazer propaganda, acrescentando que em democracia “não se montam encenações para ganhar votos”, nem se faz “uso autoritário e indiscriminado das forças de segurança”.

A líder do Bloco anunciou que o partido vai chamar a ministra da Administração Interna Margarida Blasco e o diretor nacional da Polícia de Segurança Pública (PSP) Luís Carrilho ao parlamento para que possam explica o que dizem ser “uma ação injustificada e inédita na democracia portuguesa”.

Mortágua sublinhou ainda que a “responsabilidade desta ação é do primeiro-ministro”, acrescentando que este não foi um “ato digno da democracia e do Estado de direito”.

O pedido dos bloquistas para ouvir Margarida Blasco e Luís Carrilho junta-se ao do PS, que pediu no debate em plenário esta manhã a audição da ministra da Administração Interna e do diretor nacional da PSP.

António Filipe, deputado do PCP (que também já pediu uma audição de Margarida Blasco no parlamento), considerou, em declarações aos jornalistas, que houve, por parte do primeiro-ministro, uma “instrumentalização da PSP para fins políticos”, afirmando que este não é um exemplo de policiamento de proximidade e “não melhora as condições de segurança e tranquilidade das populações”.

O deputado comunista salientou as “ações estimáveis” das forças de segurança no dia a dia, considerando o seu trabalho fundamental, mas disse ter havido uma “desproporção manifesta entre os meios utilizados, os procedimentos e os resultados desta operações”.

“A atividade das forças de segurança não é isto e, portanto, se estas ações se repetirem como manifestações de relações públicas por parte do Governo, estamos perante uma instrumentalização das forças de segurança que, inclusivamente, dá perante o país uma imagem errada das próprias forças de segurança”.

Uma operação policial na quinta-feira, no Martim Moniz, resultou na detenção de duas pessoas e na apreensão de quase 4.000 euros em dinheiro, bastões, documentos, uma arma branca, um telemóvel e uma centena de artigos contrafeitos.

O enorme aparato policial na zona, onde moram e trabalham muitos imigrantes, levou à circulação de imagens nas redes sociais em que se vislumbram, na Rua do Benformoso, dezenas de pessoas encostadas à parede, de mãos no ar, para serem revistadas pela polícia, e comentários sobre a necessidade daquele procedimento.

Sobre a operação, o primeiro-ministro considerou que foi “muito importante” para criar “visibilidade e proximidade” no policiamento e para aumentar a sensação de tranquilidade dos cidadãos portugueses.

A porta-voz do Cometlis, Ana Raquel Ricardo, explicou que uma “operação especial de prevenção criminal dá legitimidade para fazer outro tipo de diligências, nomeadamente a revista de cidadãos que se encontrem no local e revista de viaturas” que por ali circulem.