O que penso do teletrabalho?
Opinião de Nelson Pires, General Manager da Jaba Recordati
Não gosto! E não é pelos motivos que os críticos de quem não gosta deste modelo, apontam. Não é por desconfiança, tirania, ou seja, lá o que for. Entendo o local de trabalho como um local de bem estar duma organização colaborativa. Acredito no “People” mas também no “Customer & Business first”. Logo entendo que criar regimes transversais que alteram o modelo de trabalho não geram soluções individualizadas e “fit to purpose” a cada indivíduo (a) que coloquem as pessoas e o negócio no pódio. Por isso entendo a decisão do CEO do Zoom em final de 2023 quando ordenou que os funcionários da empresa trabalhassem presencialmente. O que poderia ser mais revelador do que o gestor da empresa que foi, sem dúvida, uma das maiores beneficiárias do trabalho remoto, querendo seus empregados de volta ao escritório? Ou porque a meio de Setembro, o presidente da Amazon revelou que a empresa quer acabar com o regime de trabalho à distância (e não trabalho híbrido), já em Janeiro de 2025.
Para além de baixar a produtividade (Um estudo conduzido pela universidade de Stanford em 2023 encontrou uma redução de 10% a 20% na produtividade no trabalho remoto) não satisfaz “a pessoa” mas apenas o grupo. E não satisfaz a organização também. Estes novos modelos estimulam 14 pecados mortais, a saber: a definição do próprio horário pode ser assíncrono com as necessidades das organizações. O On boarding dos novos colaboradores é impossível de ter sucesso. Começar uma jornada de trabalho exige disciplina e preparação para o trabalho (como vestir-se adequadamente) que o remoto não incentiva. A Inovação, criatividade e solução de problemas consegue-se em comunidade de ideias. O Isolamento social e burnout aumenta com o isolamento pois precisamos de interações informais e conversas rápidas, para além de ser difícil “desligar” do trabalho. O desempenho e a oportunidade de fazer uma contribuição significativa que os outros vejam, está correlacionado com a felicidade individual. Tem de existir separação entre vida pessoal e profissional (promover o WLB). As organizações têm necessidade de fazer supervisão direta ( para aferir da produtividade e do desempenho). A distância ou o digital cria dificuldades de comunicação e colaboração, gerando dúvidas, más interpretações; que apenas a comunicação face a face e a comunicação espontânea permite. O remoto impõe desafios tecnológicos, segurança digital e de uma infraestrutura doméstica adequada a que alguns podem não ter acesso. A distância da organização pode aumentar a desmotivação e aumentar a dificuldade de compromisso profissional. Aumenta bastante a dificuldade de avaliação de desempenho objetivamente pois só vemos o resultado, não o processo, a observação do comportamento, das habilidades interpessoais e da forma como o colaborador lida com desafios. Pode levar a reduzir os “fringe benefits” como a viatura de serviço. Reduz a produtividade e o bem-estar do trabalhador pois promove o abandono emocional da empresa e dos colegas. É um sério risco de prejuízo para a economia (na restauração , arrendamento de escritórios, serviços de segurança e limpeza, entre outros).
Finalmente percebo que não estou sozinho nesta opinião. No geral, os patrões acham que o teletrabalho vai acabar até 2027. Essa é a principal conclusão que se retira de um estudo da KPMG, realizado nos EUA. Só 4% dos patrões, acreditam no teletrabalho diário. E 79% disseram que preveem que o regime de teletrabalho irá terminar no prazo de três anos, sendo que apenas 17% admitem a continuidade do trabalho híbrido. Obviamente que o modelo vai mudar pois a sociedade mudou. Mas provavelmente existirá mais personalização do modelo de trabalho do que atualmente. Certamente nada será como dantes, mas não julgo que seja este o caminho !!!