Pode faltar o peru à mesa? Doença da língua azul e burocracia podem ‘estragar’ menu de Natal dos portugueses

As carnes tradicionais do Natal enfrentam, este ano, dificuldades adicionais, em função da doença da língua azul, que já afetou o borrego nacional e, por consequência, as produções avícolas, em particular o peru.

De acordo com a ‘TVI’, não há capacidade de resposta para a procura, sendo que as empresas do setor queixam-se do excesso de burocracia que dificulta a instalação de novas unidades.

“As unidades de produção podem demorar até 6 anos para ter todos os trâmites legais, que envolvem até 15 entidades, muitas delas com nada a ver com a produção alimentar. São processos morosos, que resultam na escassez de produção”, relatou um responsável do setor ao canal televisivo.

“Existem dificuldades e escassez, e o facto de haver limitações noutras espécies, na parte dos cabritos e borregos, vai condicionar e colocar mais pressão na procura do peru. Já estamos a sentir essa pressão, nos últimos dois meses o aumento do consumo tem-se verificado”, precisou.

O ministro da Agricultura, José Manuel Fernandes, admitiu que o preço da carne pode sofrer aumentos em Portugal devido ao surto da doença da língua azul, lembrando que alguns produtores “ainda estão a sofrer prejuízos”. “Já contabilizamos 66 mil mortes [de animais], o que corresponde a cerca de 3% do efetivo nacional. Mas os prejuízos vão muito além dessas perdas. É natural que o preço da carne suba, mas, se acontecer, também é uma forma do produtor ser compensado”, disse o governante, à margem da cerimónia dos 75 anos da União de Cooperativas Agros, em Vila do Conde, distrito do Porto.

Em Portugal estão a circular três serotipos de língua azul, nomeadamente o BTV-4, que surgiu, pela primeira vez em 2004 e foi novamente detetado em 2013 e 2023, o BTV-1, identificado em 2007, com surtos até 2021, e o BTV-3, detetado, pela primeira vez, em 13 de setembro.

A vacinação de ovinos e bovinos contra os serotipos um e quatro é obrigatória. Já contra o serotipo três é apenas permitida.

A DGAV autorizou, temporariamente, três medicamentos contra a língua azul, dois dos quais ainda não estão disponíveis no mercado.

Os serotipos três e quatro do vírus da língua azul já atingiram todos os distritos de Portugal continental, só a Madeira e os Açores estão livres da doença.

No que diz respeito ao serotipo três, os últimos dados, reportados à semana passada, indicam que foram contabilizadas 41 explorações de bovinos afetadas e 102 animais, sem mortalidade.

No caso dos ovinos, somam-se 238 explorações, 11.934 animais afetados e 1.775 mortos.

Por distrito, destacam-se Évora, com 90 explorações afetadas, e Beja, com 76, seguidos por Setúbal (48) e Portalegre (20).

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